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18 de junho de 2010

Por que e para que vencer? Tema de redação

Em plena Copa do Mundo, impõe-se uma reflexão: o que significa ganhar? Por que, para que e por quem vencer? O que ganhamos por ganhar? Certo é que, quando se vence ou se ganha, invariavelmente alguém perde.

Quando nos identificamos e convivemos com camadas mais periféricas do nosso ser, produzimos divisão, desunião e competição. A contrário senso, quanto mais vivenciamos dimensões profundas e essenciais de nós mesmos, mais engendramos união, comunhão e solidariedade.

Quiçá a precípua característica do Mal, ou da ausência do Bem (como queria Santo Agostinho), resida justamente nos sentimentos de separação e divisão ocasionados por nosso ego. E o futebol, ao menos nos moldes em que hoje é vivenciado, reflete esta percepção fragmentária e divisionista por este último operada. Constata-se verdadeira neurose coletiva, a tangenciar o patológico, na medida em que as pessoas, agressivas e ensandecidas em dias de jogos, pautam suas vidas quase exclusivamente em função do clube futebolístico pelo qual torcem e muitas vezes se digladiam.

A propósito, por força desse entorpecimento diário, sentimo-nos como inseridos em um imenso Coliseu romano, onde o que mais releva é ganhar por ganhar, ainda que sabedores de que nossa vitória não raro caminha de mãos dadas com o amargor e tristeza do próximo, ou mesmo de um ente querido.

Será por acaso que a famosa oração de São Francisco reza que em verdade é “perdendo que se ganha”?

Tanto a máquina do futebol quanto a incessante indústria novelística (e outros programas midiáticos) mais servem para manter as pessoas afastadas da reflexão e meditação, exilando-as da sabedoria que trazem em seu âmago.

Tal ocorrência não assumiria tristes contornos caso essa mentalidade do futebol não espelhasse outros aspectos da vida e, por se tratar de via de mão dupla, para estes não fosse transposta! Só que, lamentavelmente, constitui termômetro de um incrustado desejo de competição, de se sentir por cima e superior, de subjugar o outro, tudo a denotar ausência de amor genuíno e universal.

Melhor seria que nos ocupássemos mais atentamente do drama da existência humana, do real “jogo da vida”, encarada em sua plenitude e não como se fosse mero “esporte”, no qual, necessariamente, ou se vence ou se perde!

De fato, só quem efetivamente “ganha” com a vitória no futebol são os que com ele lidam diretamente e que, modo acintoso, granjeiam prestígio, fama e dinheiro, às expensas do iludido e inconsciente povo brasileiro.
Régis de Oliveira Montenegro Barbosa - Magistrado
Só os que efetivamente "ganha" com a vitoria do futebol são os que com ele lidam diretamente.
Posicione-se a esse respeito; não esqueça o título.

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