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18 de junho de 2012

Leitura - gurizada - tema de redação 63

A pior coisa do mundo é a pessoa não ter coragem na vida. Pincei essa frase do relato de uma moça chamada Florescelia, nascida no Ceará e que passou e vem passando por poucas e boas: a morte da mãe quando tinha dois anos, uma madrasta cruel, uma gravidez prematura, a perda do único homem que amou, uma vida sem porto fixo, sem emprego fixo, mas sonhos diversos, que lhe servem de sustentação. Ela segue em frente, porque tem o combustível de que necessitamos para trilhar o longo caminho desde o nascimento até a morte.Coragem.
Quando eu era pequena, achava que coragem era o sentimento que designava o ímpeto de fazer coisa perigosa, e por exemplo, andar de tobogã, aquela rampa alta e ondulada que a gente descia sentada sobre um saco de algodão ou coisa parecida. Por volta dos 9 anos decidi descer de tobogã, mas na hora M, amarelei. Faltou coragem. Assim como faltou também no dia que meus pais resolveram ir até a ilha dos Lobos, num barco de pescador, em Torres. No momento de subir no barco desisti. Foram meu pai, minha mãe, meu irmão e eu retornei sozinha, caminhando pela praia até a casa da vó.
Muita coragem me faltou na infância: até para colar durante as provas eu ficava nervosa. Mentir para pai e mãe, nem pensar. Ir de bicicleta até ruas distantes de casa, não me atrevia. Travada desse jeito, desconfiava que meu futuro seria bem diferente do das minhas amigas.
Até que cresci e segui medrosa para andar de helicóptero, escalar vulcões, descer corredeiras de  água.
No entanto, aos poucos fui descobrindo que mais importante que ter coragem para aventuras de fim de semana, era ter coragem para aventuras mais definitivas, como a de mudar o rumo da minha vida se preciso fosse. Enfrentar helicópteros, vulcões, corredeiras e tobogãs exige apenas que tenhamos um bom relacionamento com a adrenalina. Coragem mesmo é preciso para terminar um relacionamento, trocar de profissão, abandonar um país que não atende nossos anseios, dizer  não para propostas lucrativas, porém vampirescas, optar por um caminho diferente do da boiada, confiar mais na intuição do que em estatísticas, arriscar-se a decepções para conhecer o que existe do outro lado da vida convencional. E, principalmente, coragem para enfrentar a própria solidão e descobrir o quanto ela fortalece o ser humano.
Não subi no barco quando criança e não gosto de barcos até hoje. Vi minha família sair em expedição pelo mar e voltei sozinha pela praia, uma criança ainda, caminhando em meio ao povo, acreditando que era medrosa. Mas o que parecia medo era a coragem me dando boas-vindas, acompanhado-me naquele recuo solitário, quando aprendi que toda escolha requer ousadia.
Marta Medeiros - Caderno DONNA -Zero Hora - 17/06/2012

Há diferença entre ter coragem e ousadia?  Em texto dissertativo argumentativo exponha seu ponto de vista - faça-o em 20 a 25 linhas - UFSM.

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