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26 de janeiro de 2014

Carpinejar

Fabrício Carpinejar

Quando menino, meu pai
estendia os tapetes na janela.
Quando casado, minha mulher
estendia os travesseiros na janela.
Novamente solteiro,
estendo meus casacos na janela.

O sol do parapeito
lava meus laços.
A sala que foi um dia o quarto
que foi um dia o guarda-roupa.

Fui-me enforcando na gola,
nervo de lã, lar reduzido.
Não deveria ter acreditado
na revolução sexual.

Posso morar numa gaveta.
Morrer no cabide.
Não serei usado.

Até as frutas apodrecendo
na cozinha não estão sozinhas.
Os insetos dividem sua despedida.

Não trago mais reservas.

Na infância, catava moedas
que minha mãe deixava na bolsa.
Baldeava provisões, limpava enganos,
respirava o couro.

Havia onde procurar.

Na vida adulta, caçava rostos
amassados dos bolsos,
cédulas dobradas nos forros,
guardava visitas.

Havia onde me procurar.

Esquecer nos enriquecia.
 

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