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14 de maio de 2016

Texto elegante não é necessariamente um texto bonito

Texto elegante não é necessariamente um texto bonito. Há uma falsa impressão de que determinadas estruturas sintáticas ou lexicais são feias, por isso descartadas pela maioria daqueles que se arriscam a escrever. É o que ocorre, por exemplo, com o uso da mesóclise. Dir-se-ia (isso é mesóclise – o pronome “se” no meio do verbo) que ela caiu em desuso. Grande parte dos que praticam a escrita fogem dela como “o diabo da cruz”, porque a julgam feia. Feia, porém, ela não é; considero o seu uso até elegante. Ela e muitas outras palavras e expressões condenadas ao degredo porque “doem aos ouvidos” de quem supõe equivocadamente que texto bom é texto simples, mas que cumpre o papel de comunicar as ideias do autor.
Na década de 1980, ganhou corpo no Brasil a teoria de que não era necessário o estudo da Língua Portuguesa. Com isso, as regras gramaticais passaram a ser ignoradas, e os exames vestibulares deixaram de incluir em suas provas questões sobre Gramática. As aulas de Português se transformaram em aulas de leitura de texto e de conhecimento de vocabulário e execução de testes que supostamente continham conteúdo gramatical.
LATIM É ANÁLISE SINTÁTICA
Um famoso autor de livros infantis brasileiro, num almoço em Londrina, disse-nos, inclusive, julgar desnecessário ensinar Gramática aos jovens; que é um absurdo ensinar análise sintática, com seus sujeitos e objetos; que o ideal seria ensinar Latim. O problema é que ele se esqueceu de que o estudo do Latim é análise sintática pura. Escrevem-se as palavras em Latim de acordo com sua função sintática. Por exemplo, a palavra “senhor” se escreverá dominus, domini, dominórum, domino, dominis, dominum, dominos ou domine, todas tendo o mesmo significado — “senhor” — dependendo da função sintática que exercer na frase e de estar no singular ou no plural. Se o substantivo “senhor” exercer a função de sujeito de um verbo em Português, em Latim se escreverá dominus para “o senhor” e domini para “os senhores”; se for complemento de verbo que não exige preposição: dominum para “o senhor” e dominos para “os senhores”; se for complemento de verbo que exige a preposição “a”: domino para “ao senhor” e dominis para “aos senhores”. Ou seja, para saber Latim, há de se estudar sintaxe profundamente.
Os jovens foram submetidos a testes científicos que denomino de “achologia aplicada”: alguns estudiosos julgaram, por conta própria, desnecessária a Gramática, empreenderam uma campanha intensa contra ela e conseguiram convencer a maioria de que ela deveria ser praticamente eliminada das escolas. Por isso, os cursos em que o estudo gramatical deveria ser constante, como em Direito e Jornalismo, não passam do básico, do Português Instrumental; nem no curso de Letras se trabalha a Gramática Normativa! E o resultado são jovens e adultos que não sabem escrever, que não conseguem entender um texto um pouco mais complexo e que não sabem se comunicar adequadamente.

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