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23 de dezembro de 2012

Credibilidade, responsabilidade e falta de uma justificativa convincente

Fica para 2016 o uso das novas regras ortográficas, já estudadas por setores públicos e privados desde 2009, quando os países lusófonos ratificaram o novo Acordo Ortográfico. O governo optou pelo adiamento depois de sofrer pressões de professores e também para entrar em sintonia com Portugal, que estabeleceu um período de transição maior para a implantação da reforma. O objetivo principal das mudanças é uniformizar a grafia dos textos nos países onde o português é a língua oficial. Com o adiamento proposto pelo Itamaraty, porém, abre-se espaço para novas alterações e até mesmo a suspensão de regras já adotadas por jornais, livros didáticos e documentos oficiais. Resumindo: o desacordo ortográfico ganhou vigência por mais 3 anos.
Embora o idioma falado e grafado seja um elemento de coesão nacional, guardando, por isso, relação íntima com a a história e a cultura de cada povo, o mundo globalizado exige adequações que nem sempre são motivadas apenas por interesses comerciais e geopolíticos. Como bem argumenta o embaixador, Pedro Motta, representante brasileiro na comunidade de língua portuguesa, fica difícil querer que o português seja uma língua oficial nas Nações Unidas com tanta diversidade entre os oito países lusófonos. Até agora, apenas o Cabo Verde implantou oficialmente a reforma.
Na prática o Brasil também já adotou alterações, ainda que persistam as resistências pontuais, baseadas muito mais no conservadorismo do que na necessidade de clareza e objetividade. Em Portugal, sim, ainda existe uma reação forte às mudanças, inclusive por parte de movimentos organizados que pressionam o governo para que revogue a reforma ortográfica. Dificilmente isso ocorrerá, pois o acordo foi ratificada pelas autoridades. Mas a rejeição popular dos portugueses tende a retardar ainda mais a oficialização nos demais países.
Ao se submeter a essa pressão, o Itamaraty rasga o contrato informal com os brasileiros que se esforçaram para assimilar as mudanças ortográficas e cria um precedente para novas alterações que podem causar transtornos irreparáveis a editoras e entidades produtoras de documentos, que já trabalham com a ortografia acordada. Pior do que isso complica a vida de candidatos inscritos em concursos públicos cujos editais já foram publicados com a exigência da nova ortografia. Como decreto do adiamento ainda precisa passar pela área jurídica da Casa Civil e ser chancelado pela presidente Dilma Rousseff, há tempo de manter o acordado.


Editorial Zero Hora - 23/12/2012

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