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28 de janeiro de 2018

CONCURSEIROS !!


– Você quer ajuda, amiga?
– Não, obrigado. Você tem bastante coisas para fazer, eu tenho menas.
Que tal lhes parece o diálogo acima? Muito gentil, cheio de empatia, porém… com alguns desvios em relação à norma culta.
Temos, no trecho, três casos de concordância nominal que merecem atenção: as palavras ‘obrigado’, ‘bastante’ e ‘menos’.
O termo obrigado(a) é o particípio do verbo obrigar. Lembremos que o particípio é uma das formas nominais do verbo, assim denominadas porque funcionam às vezes como verbo (A mãe tinha obrigado o filho a tomar o xarope), às vezes como nome, neste caso um adjetivo. Esse termo faz parte da expressão “estou obrigado(a)”, ou seja, “eu devo obrigação de retribuir a gentileza, o favor que recebi”, e como adjetivo, precisa concordar em gênero e número com o termo a que se refere. Dessa forma, portanto, uma mulher dirá obrigada, um homem dirá obrigado e um grupo dirá ‘obrigados‘ se forem apenas homens ou um grupo misto e ‘obrigadas‘, se forem apenas mulheres (por mais estranho que possa parecer, o termo tem plural sim!).
Já a palavra bastante pode funcionar como pronome indefinido (e será variável quanto ao número – singular/plural) ou como advérbio de intensidade (invariável) e se comportará como o sinônimo muito. Assim, na dúvida, verifiquemos como o ‘muito’ se comporta:
  • Tenho bastante ou bastantes livros?
  • = Tenho muitos livros.
Nesse caso o termo funciona como pronome indefinido (expressa a quantidade de modo vago, impreciso) e deverá concordar com o substantivo a que se refere (livros), portanto vai para o plural: “Tenho bastantes livros.”
  • Estamos bastante ou bastantes cansados?
  • = Estamos muito cansados.
Agora o termo funciona como advérbio, intensificando a ideia do adjetivo cansados. Teremos, portanto, “Estamos bastante cansados.”
E por último, falemos do termo menos. Esse termo pode ser empregado como advérbio (Ele ganha menos do que a esposa); como pronome (Gosto de mais pimenta e menos sal na comida); ou substantivo (Às vezes o menos é mais) e em todos os casos é uma palavra invariável. Ocorre com certa frequência o fenômeno da hipercorreção (quando alguém ‘corrige’ o que já estava certo), pois a palavra aparenta ser do gênero masculino, mas não há informação de gênero nesse termo, ele será sempre usado na forma menos:
  • Há menos meninas do que meninos naquela turma.
  • Eu tenho menos fé na Justiça do que meu irmão.
  • Ele aparenta menos idade do que o amigo.

25 de janeiro de 2018

UMA BOA LEITURA, GURIZADA !!

Redação no Enem: Liberdade de Expressão vs Discurso de Ódio

“Nas redações dos vestibulares eles pedem a nossa opinião, mas não podemos opinar de verdade; temos de escrever o que eles querem ler”. “A condição de respeitar os Direitos Humanos é um tipo de censura na proposta de redação do Enem”. “Tenho amigos preconceituosos que foram bem na redação do Enem; eles mentiram”.
Essas e outras afirmações podem ser ouvidas em qualquer aula de produção de texto do Ensino Médio ou de um cursinho e podem ser lidas em comentários em redes sociais, blogs e sites diversos; eu mesma já ouvi de meus alunos, mais de uma vez. Também já as discuti aqui em outras publicações, quando tratei da questão do movimento escola sem partido, por exemplo.
Em tempos de polarização, muitas pessoas têm confundido liberdade de expressão com discurso de ódio, e não só em propostas de redação como a do Enem 2016 (Como combater a intolerância religiosa no Brasil?), na qual 4.798 candidatos feriram os direitos humanos e tiveram seus textos anulados.
A liberdade de expressão é um direito constitucional, ou seja, é garantido pela Constituição Federal de 1988 e deve ser mantido, pois vivemos em um regime democrático no qual a troca de ideias é essencial, porém, de uns tempos para cá, parece que os brasileiros não sabem mais debater um assunto sem rotular ou enquadrar o outro. Amizades estão sendo desfeitas, laços familiares estão sendo cortados porque ninguém mais ouve ninguém.
O discurso pautado na liberdade de expressão não ofende, não fere, não rotula, pois assim que rótulos são postos, o debate acaba. O discurso baseado na liberdade de expressão pode questionar e discordar, mas sem desrespeitar o alvo da discórdia.
Nesse sentido, as duas propostas de redação do Enem 2016, pois houve duas edições oficiais do exame, abordaram questões delicadas, mas importantes: intolerância religiosa e racismo. Um cristão, por exemplo, pode não concordar com algum aspecto de uma religião não-cristã, por exemplo, mas isso não significa que ele possa atacar um praticamente desta outra religião.
A liberdade de expressão permite o debate das diferenças e das discordâncias, mas não permite a ofensa e a exaltação da violência ou o seu incentivo. A ofensa e a violência estão presentes nos discursos de ódio, enunciados extremistas baseados, justamente, no ódio. É o caso do racismo, da homofobia, da misoginia, misandria, do machismo dentre outro; é quando palavras de baixo calão são usadas para ofender ou inferiorizar outra pessoa por conta de sua etnia, orientação sexual, identidade de gênero, religião, nacionalidade etc.
Desse modo, não há como confundir liberdade de expressão com discurso de ódio. Por isso que o respeito aos Direitos Humanos, na redação do Enem, não é, nem de longe, censura, pois a liberdade de expressão respeita a dignidade humana e, assim, respeita os Direitos Humanos. O discurso de ódio não respeita ninguém, a não ser o seu enunciador.
Não concordar com uma relação homoafetiva não dá o direito de atacar um casal homossexual com uma lâmpada em plena avenida Paulista, em São Paulo; não concordar com o candomblé não significa apedrejar uma jovem menina nas ruas do Rio de Janeiro.
Ao apoiar o respeito aos Direitos Humanos, pautado na liberdade de expressão, o Enem não censura nenhum candidato e sim toma frente ao combate aos discursos de ódio no exame, o que também é papel na escola ao objetivar formar cidadãos críticos e livres de preconceito, juntamente com as famílias dos alunos. Trata-se de um trabalho a longo prazo, de formiguinha, mas o passo foi dado.
Infelizmente, se 4.798 candidatos feriram os Direitos Humanos no Enem 2016, muito trabalho ainda há de ser feito, pois esse número, num ideal, deveria se zero.
Seja no Enem, no Twitter, no Facebook, no Instagram ou na mesa de jantar, vamos parar, refletir e respeitar a dignidade humana ao proferirmos nossas opiniões que, aliás, devem estar baseadas em argumentos que não desrespeitem os Direitos Humanos a fim de que possamos conviver na maior paz possível.
Até mais!

UNICAMP - REDAÇÃO

dando continuidade às publicações sobre as propostas de redação do vestibular 2018 da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), no texto de hoje apresentamos a análise do Texto 2, já que, como dissemos no artigo da semana passada, as provas de redação do vestibular da UNICAMP são compostas por duas propostas de redação.
No último texto, analisamos o Texto 1 do vestibular 2018 da UNICAMP, o qual exigiu dos candidatos a elaboração de uma palestra sobre pós-verdade. No texto de hoje, analisamos o Texto 2, que exigiu dos candidatos a redação de um artigo de opinião sobre o seguinte tema: “Há limite para a liberdade de expressão?“.
O artigo de opinião é um gênero da mesma ordem da dissertação-argumentativa, a ordem do argumentar, mas, apesar disso, são gêneros diferentes, pois possuem marcas estilísticas distintas entre si.
Primeiramente, o artigo de opinião é um gênero que circula na esfera jornalística, podendo ser lido em jornais, revistas e em sites diversos na internet, como em blogs, por exemplo. Seu autor é denominado colunista e normalmente é um jornalista ou um especialista em determinado assunto, como política, economia, educação etc. Devido a periodicidade das publicações dos artigos de opinião em seus suportes, já que os colunistas se revezam e seus textos são publicados em dias específicos, cria-se, entre autor e leitor, uma certa proximidade, pois o leitor desenvolve o hábito e/ou o gosto por ler o artigo de opinião de determinado autor que, por sua vez, pode expressar abertamente a sua opinião.
Já a dissertação-argumentativa é um gênero que circula na esfera escolar de maneira descolada da realidade, pois a opinião ali expressa não será lida por leitores de jornais ou revistas, mas sim por um professor ou corretor com o objetivo de analisar se o autor, no caso um estudante, cumpriu a proposta de redação.
E, como bem sabemos, no caso dos vestibulares e dos exames como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), devemos seguir as instruções dos mesmos para nos adequarmos às marcas estilísticas da dissertação-argumentativa, como por exemplo, ser um texto impessoal, ou seja, não pode ser escrito na 1ª pessoa do singular.
Este é um dos riscos desta proposta de redação do vestibular 2018 da UNICAMP: confundir artigo de opinião com dissertação-argumentativa. O candidato tinha de prestar muita atenção, como sempre, no enunciado da referida proposta de redação, que dizia o seguinte:
Diferentemente dos vestibulares tradicionais, o vestibular da UNICAMP, desde 2010, nas provas de redação, apresenta um contexto de produção para o candidato, situando-o em uma situação que poderia ser real, na qual há uma motivação para a elaboração do texto exigido.
Nesse sentido, o principal segredo para começar bem as propostas de redação da UNICAMP é o candidato tentar imaginar-se inserido no contexto de produção proposto, sentindo-se motivado pela razão criada. Obviamente, como é uma prova, é uma simulação, mas de algo que poderia ocorrer na vida real.
Nesse caso, o ponto de partida foi uma postagem em rede social de uma mensagem de ódio contra nordestinos que gerou uma intensa discussão em uma cidade. Por conta da polêmica, o jornal de maior circulação desta cidade (ambos poderiam ser fictícios ou não na cabeça do candidato) resolver publicar um caderno especial sobre liberdade de expressão com artigos de opinião diversos e o candidato teve de escrever um para este caderno especial, mais especificamente sobre o tema “Há limite para a liberdade de expressão?”.
Percebe-se que o enunciado cria um contexto de produção que poderia ser real e o candidato é inserido neste contexto por meio de uma motivação. Além disso, apesar do detalhamento, o candidato deveria saber o que é um caderno especial de um jornal e o que é um artigo de opinião.
Mas não é um artigo de opinião qualquer: é um artigo de opinião que deveria responder à pergunta tema, se há limite para a liberdade de expressão. Além disso, o texto deveria trazer, obrigatoriamente, a identificação e a explicitação de dois posicionamentos principais sobre a questão e a postura assumida de um desses posicionamentos e sustentá-lo com argumentos, tudo isso levando em consideração várias citações que compunham os textos fontes da proposta.
Deste modo, levando em conta os textos fontes, o artigo de opinião deveria identificar e explicitar posicionamentos que afirmam que devem haver limites para a liberdade de expressão e que afirmam que não devem haver tais limites e, finalmente, assumir um desses posicionamentos, sustentando tal opinião em argumentos. Resumindo: o candidato não poderia ficar em cima do muro de modo algum.
No enunciado, a menção a uma postagem de ódio contra nordestinos juntamente com a palavra “limite” do tema, somando-se às citações que compõem os textos fontes deveria levar o candidato a seguinte reflexão: discurso de ódio versus liberdade de expressão. Assunto sobre o qual já escrevemos nesta coluna . Discursos que propagam preconceitos e violências como xenofobia, racismo, machismo, homofobia, dentre outros é o mesmo que liberdade de expressão ou não?
Tal reflexão e a consequente escrita do artigo de opinião deveriam levar em consideração excertos de citações de várias personalidades da cultura, da educação, do meio acadêmico, dentre outros, sobre o assunto. Tais excertos foram extraídos de uma matéria do jornal Folha de São Paulo do dia 30 de junho de 2017.
Os candidatos, dessa forma, deveriam identificar nos textos fontes pelo menos dois posicionamentos distintos e fazer o seu próprio posicionamento, opinando e argumentando, pois, como sempre afirmamos, não basta opinar, tem de argumentar. Conhecer os autores citados é meio caminho andado na interpretação de suas afirmações, pois quando conhecemos os autores, conhecemos também suas posições.

21 de janeiro de 2018

ISENÇÃO DA INSCRIÇÃO DO ENEM 2018, GURIZADA !!

No início deste mês o Ministério da Educação (MEC) publicou o Edital do Enem 2017 – Exame Nacional do Ensino Médio – confirmando as mudanças que já haviam sido antecipadas pelo próprio governo. A única novidade que consta no Edital e que não foi anunciada antes foi o valor da taxa de inscrição, que subiu de R$ 68 (Enem 2016) para R$ 82 nesse ano.
Apesar da elevação do custo da inscrição no exame nacional, o MEC continuará concedendo a isenção ou gratuidade para a maioria dos candidatos, como vinha ocorrendo nas últimas edições. Nesse artigo vamos esclarecer quais os três grupos de participantes que poderão se inscrever no Enem de graça, lembrando que o prazo para cadastro ficará aberto entre 8 e 19 de maio.

Terceiro Ano do Ensino Médio em Escolas Públicas

Estudantes que vão concluir o ensino médio neste ano e estão regularmente matriculados em escolas da rede pública de todo o país terão isenção automática dos 82 reais da inscrição. Ao preencher o campo “escolaridade” no formulário, o sistema do Inep – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais – reconhecerá imediatamente que a instituição é pública e concederá o benefício.

Lei de Isenção em Processos Seletivos de Instituições Federais

Também terão direito a isenção da taxa os candidatos contemplados pela Lei nº 12.799/2013, que discorre sobre a gratuidade nos processos seletivos de ingresso em cursos das instituições federais de educação superior. Se enquadram nesta Lei aqueles que atendem, cumulativamente, as seguintes exigências:
  1. concluir o ensino médio em escola pública ou privada na condição de bolsista integral (100% da mensalidade);
  2. possuir renda familiar máxima de 1,5 salário mínimo (R$ 1405,50) por pessoa.

Inscritos no CadUnico da Caixa Econômica Federal

A partir desta edição os participantes inscritos no Programa Cadastro Único (CadUnico) da Caixa Econômica Federal poderão solicitar a isenção da inscrição do Enem. O procedimento, no entanto, será mais criterioso. Será preciso apresentar, na ficha online de inscrição do exame, comprovação de renda familiar completa, inclusive o Número de Identificação Social (NIS), que permite identificar aqueles que estão cadastrados em programas sociais.

ENEM 2018, GURIZADA !!!

Juntamente com a liberação oficial das notas do Exame Nacional do Ensino Médio de 2017 em 18 de janeiro, o Inep – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais – aproveitou a coletiva de imprensa para anunciar as datas das inscrições, de publicação do edital e das provas do Enem 2018.
Conforme informações da autarquia vinculada ao Ministério da Educação (MEC) do governo, cada um dos eventos importantes descritos a seguir se darão nas seguintes datas ou prazos:
  1. Edital do Enem 2018 (21 de março) – consiste no documento que torna públicas todas as regras referentes a próxima edição do exame nacional, definindo normas para inscrições, pedidos de isenção, documentação e materiais aceitos, critérios de correção e atribuição de notas, entre outros;
  2. Inscrições do Enem 2018 (7 a 18 de maio) – prazo para cadastro online dos interessados que pretendem participar da avaliação, independente de se inscreverem como candidatos regulares ou treineiros (que prestam apenas para autoconhecimento). Há também um prazo para pagamento da taxa, cujo valor e data de vencimento ainda não foram informados;
  3. Provas do Enem 2018 (4 e 11 de novembro) – consiste nos dois domingos da aplicação propriamente dita das provas. No primeiro deles serão 90 questões de ciências humanas e linguagens e códigos, além da redação. No segundo serão 90 itens de ciências da natureza mais matemática.

Isentos no Enem 2017 e 2018

Conforme as regras do Inep para o Enem, aqueles que foram isentos de pagar a taxa de R$ 82 na edição de 2017 e faltaram as provas deverão justificar sua ausência, caso contrário perderão o direito da isenção em 2018 (saiba as regras para solicitar o benefício . Esses deverão enviar os documentos aceitos para justificar a falta no prazo que vai de 2 a 11 de abril.
Será neste mesmo período que aqueles que se encaixam no perfil de isentos poderão solicitar a gratuidade no Enem 2018. Esta é primeira vez que isso ocorrerá antecipadamente, poios até a última edição o procedimento só poderia ser feito durante as inscrições.

VITIVINICULTURA



Em São Roque (SP), ocorre nesta época do ano, em algumas adegas, a chamada Vindima (ou Pisa da uva). A vindima é a colheita das uvas para posterior produção de vinho. A uva e seu produto mais nobre, o vinho, tem importância ímpar na história da humanidade, na cultura e na alimentação, ao lado do pão. Não é à toa que são os dois símbolos dos mais marcantes no Cristianismo e retomados com frequência, de modo intertextual, em muitas músicas, como fez Chico Buarque em Cálice: “Pai, afasta de mim esse cálice De vinho tinto de sangue”.
Esses dois alimentos são também icônicos em muitas culturas, como a portuguesa:
Numa casa portuguesa, fica bem
Pão e vinho sobre a mesa
E se à porta humildemente
Bate alguém
Senta-se à mesa com a gente (…)

Vamos brindar
com vinho verde que é do meu Portugal
e o vinho verde me fará recordar
A aldeia branca que deixei
atrás do mar (…)
 gravada também pelo sertanejo Daniel.
Ou a italiana – os mais velhos talvez se lembrem de um filme muito famoso que apresenta esses elementos logo no título: “Marcelino, pão e vinho”
Mas a questão linguística relacionada ao título provém de uma pergunta que me foi feita no evento da vindima: “Qual é a forma correta, vinicultura ou viticultura?” As duas estão certas, na verdade, mas cada uma se refere a uma produção específica.
O nome científico da videira, planta que produz as uvas, é Vitis sp, e a espécie mais difundida é a Vitis vinifera. O latim é, por tradição, a língua das ciências, então vamos traduzir esse nome científico: vitis significa videira (a planta) e vinífera significa ‘que produz vinho’ (fero = que produz + vinum = vinho).
Acredita-se que as uvas são originárias da Ásia e foram introduzidas na Península Itálica pelos gregos. Foram os romanos, porém, que transformaram a produção de vinhos em um comércio lucrativo, difundindo essa cultura por todo o Império. Daí termos o hábito de consumo da bebida e bons produtores de vinho em todas as regiões da Europa que fizeram parte do Império Romano.
Voltando ao questionamento, temos então duas palavras corretas, como eu mencionei, mas a viticultura diz respeito à produção das uvas e a vinicultura refere-se à produção do vinho.
E, no caso daquelas propriedades em que se planta e colhe a uva e posteriormente se faz o vinho numa sequência, temos a vitivinicultura.
E por que falar tanto desse tipo de formação de palavras e seus significados? Ora, porque, entre outras coisas, esse conhecimento é cobrado nos concursos.
Na prova da 2ª fase da Unicamp deste ano, havia uma questão que exigia dos candidatos o conhecimento da estrutura e formação de palavras, além do conhecimento do significado e função dos afixos (prefixos e sufixos) e radicais e da interpretação que estes têm na criação do sentido do texto. Bom motivo? Além é claro do fato de que, ampliando o vocabulário, sempre teremos maior facilidade na leitura e interpretação de textos em geral.

15 de janeiro de 2018

SINONÍMIA -CUIDADO !!!

A sinonímia é o fenômeno linguístico presente quando duas ou mais palavras têm significação igual ou muito próxima e o que originou o presente texto foram algumas redações em que os alunos, tentando não repetir termos (atitude louvável), acabaram escolhendo palavras inadequadas no contexto, já que o significado era diferente, embora o senso comum as tome por sinônimas.
Vejamos alguns termos e expressões usadas frequentemente por muitas pessoas e que podem criar diversas confusões semânticas:

  • Acatar x acolher
    acatar = obedecer
    Os alunos acataram a ordem do diretor.
    acolher = aceitar, receber
    O juiz não acolheu a ação dos grevistas contra a empresa.

  • Ao invés de x em vez de
    Ao invés de = significa “ao contrário de”.
    Ao invés de subir, desceu a rua.
    Ao invés de virar à esquerda, virou à direita.
    Em vez de = significa “em lugar de”, dá ideia de “substituição”.
    Em vez de comprar sapatos, comprou livros. (sapato não é contrário de livro)
    Em vez de ir para a balada, fiquei em casa lendo um livro.

  • Arruinado x destruído
    arruinado = quem perdeu tudo;
    Aquele famoso empresário acabou arruinado.
    destruído = destroçado.
    O carro foi todo destruído no acidente.

  • Comercializar x vender
    comercializar = comprar, vender, alugar, emprestar
    Aquela empresa comercializa software em todo o mundo.
    vender = é uma das atividades da comercialização de um produto.
    O carro está sendo vendido por R$30.000,00.

  • Conflito x confronto
    Conflito = confusão, divergência de posição, de postura, de ideias.
    conflito entre os católicos e protestantes resultou em muitas mortes na Irlanda no século passado .
    Confronto = enfrentamento, combate, comparação, acareação.
    confronto entre grevistas e policiais deixou vários feridos.

  • De encontro a x ao encontro de
    De encontro a = ir contra, confrontar, ‘bater de frente’
    As medidas tomadas pelo governo vão de encontro às necessidades da população.
    Ao encontro de = a favor, ir no sentido de alguma coisa ou alguém.
    Os filhos foram ao encontro de seus pais.
    Minhas ideias vão ao encontro das suas, por isso não brigamos.

  • Desabrigado x desalojado
    desabrigado = quem fica sem casa para morar;
    As fortes chuvas deixaram muitos desabrigados (as casas foram destruídas)
    desalojado = quem teve de sair de casa, quem perde o lugas.
    As fortes chuvas deixaram muitos desalojados (as casas não foram destruídas, mas as pessoas tiveram que sair delas e ir para um local seguro).
    O gato ocupou o sofá e desalojou o cachorrinho.

  • Em princípio x a princípio
    A princípio = no início, antes de mais nada.
    A princípio, viajaríamos para o Nordeste, mas desistimos.
    A princípio acreditávamos que os alunos ficariam quietos durante a palestra, mas as conversas continuaram.
    Em princípio = em tese, teoricamente, de modo geral.
    Em princípio, todos os funcionários receberão a participação nos lucros da empresa em outubro.
    Em princípio, o voo sairia do Aeroporto de Viracopos no início da noite.

  • Inúmeros X numerosos
    inúmeros = incontáveis;
    Olho para a praia da Copacabana e vejo inúmeros banhistas.” (= São tantos que é impossível contá-los);
    numerosos = muitos.
    É uma família muito numerosa, são 12 irmãos. (= É uma família compostas por muitas pessoas).

  • Mesmo x igual
    mesmo = um só;.
    Ela está com a mesma roupa que usou no evento do mês passado. (= É uma roupa só, usada novamente);
    igual = outro idêntico
    Aquela candidata usou um vestido igual ao da rival, no concurso de beleza. (= É outro vestido, com as mesmas características daquele usado pela outra pessoa)

  • Questionar x perguntar
    questionar = pôr em dúvida;
    O juiz questionou a validade do depoimento.
    perguntar = indagar.
    “Quem é a favor da greve? perguntou o presidente do sindicato.

  • reverter  x  inverter  x  modificar
    reverter = voltar ao que era antes;
    O paciente entrou em coma e os médicos tentavam reverter o quadro.
    inverter = mudar para o oposto
    A prefeitura inverteu a mão desta rua sem aviso, o que causou muita confusão.
    modificar = alterar
    É preciso modificar o sistema de cálculo das notas, para não prejudicar os alunos.

  • suplementação  x  complementação
    suplementação = quantia extra, adicional
    Para terminar a obra, foi necessária uma verba suplementar.
    complementação = segunda parte, o que completa.
    Um bom café faz complementação perfeita do almoço.
Esses não são os únicos, mas alguns dos falsos sinônimos mais frequentemente empregados.
Além desse engano comum, há também aquelas palavras que se encaixam em diferentes contextos, mas não são sinônimas e algumas pessoas acabam, por distração, usando-as erroneamente. Esta semana um amigo se queixou do emprego, por alunos da pós-graduação, de uma palavra inadequada. O estudante queria dizer uma coisa e acabou dizendo outra pois as palavras tinham certa semelhança: ele falou em porcentagem de assertividade, com intenção de se referir à porcentagem de acerto de um determinado teste. Não é um caso de falso sinônimo, mas de falta de consulta ao dicionário para ter certeza do sentido antes de empregar um termo. Algumas vezes vários termos se encaixam num determinado contexto, mas isso não significa que sejam adequados ou que expressem a ideia pretendida pelo emissor.
Assim, volto ao mesmo conselho (“mesmo” mesmo! – é um só!): consulte sempre um dicionário, para garantir a exatidão da mensagem.

14 de janeiro de 2018

TEXTO PUBLICADO EM ZERO HORA - CADERNO DONA FOI TEXTO DE APOIO E TEMA DE REDAÇÃO DA UFRGS 2019

O termo vem do latim pater patriae e simboliza o papel de determinada personalidade na formação da unidade nacional e de sua independência. O nosso Pai da Pátria não é um, mas dois: Dom Pedro I e José Bonifácio. Cada nação tem o seu, que serve de modelo de heroísmo e dignidade.
O Pai da Pátria está acima de nós, como numa família tradicional. Não em valor, que valorosos somos todos, mas em representatividade. O Pai da Pátria poderia, inclusive, ser o epíteto de todo chefe do executivo, não fosse, especialmente no nosso caso, uma piada. Há pesquisas sérias sobre a importância de se ter um pai reconhecido em certidão. O Brasil, de forma simbólica, tem os dois já citados, mas, na prática, é como se fôssemos filhos de um pai fantasma, que não nos deu o senso de inclusão familiar, de responsabilidade e de orgulho, deixando-nos à deriva.
Quem me dera ser crédula, confiante. Do tipo que admite estarmos em meio a uma crise medonha, mas que dela brotará um Estado maior, melhor. Já fui assim otimista, mas o tempo passou e me cobrou alguma lucidez e coragem para encarar a realidade. Agora não me é mais dada a alternativa de embarcar num faz de conta, acreditar em devaneios: o fato é que sempre estivemos irreversivelmente lascados, pois desde que essa história começou (1500), foi um tropeço atrás de outro, um país descoberto por engano, por causa de uns ventos inesperados que conduziram as caravelas para outro destino que não a Índia e foram parar aqui sem querer, e quem dá importância ao que foi sem querer? Descuidos não são levados a sério, nunca fomos e jamais seremos a primeira opção nem pra nós mesmos. O Brasil é um acidente de percurso do qual se tenta tirar alguma vantagem para que o engano de rota não resulte em total perda de tempo.
Se você discorda, se ainda acredita que um dia seremos um país íntegro, digno, consistente, me declaro invejosa da sua fé. Sou uma ratazana descrente que não abandona o navio porque tem parentes no convés, apenas por isso.
Sorte a minha, e provavelmente a sua, de que colecionamos algumas vitórias particulares: amigos fiéis, o gosto pela música, amar e ser amado, gozar de boa saúde, poder ir ao cinema de vez em quando, não ter vergonha do passado e acreditar-se merecedor de um banho de sol, de um banho de mar, de um banho de chuva, essas trivialidades naturais que mantêm o corpo e a alma azeitados. A vida vale a pena em sua simplicidade, aquela que ainda comove, pois rara.
Mas não nos gabemos, pois ainda que nossa família nuclear e nossa trajetória pessoal não nos envergonhem, somos todos habitantes de uma pátria órfã.

UFRGS - REDAÇÃO

A Prova de Redação do Vestibular deste ano apresentou aos candidatos o artigo “Pai da Pátria”, da escritora gaúcha Martha Medeiros. Os vestibulandos foram provocados a escrever uma redação dissertativa expondo seu ponto de vista a respeito das ideias da autora sobre o Brasil. A prova apresentou o seguinte enunciado: “Você deve se posicionar a respeito das ideias da autora sobre o Brasil: contestá-las parcial ou integralmente; aprová-las parcial ou integralmente.”
Em Pai da Pátria, Martha Medeiros traz vários recursos que a permitem formular o seu ponto de vista de maneira muito clara. Há metáforas, ironias, argumentos e exemplos, entre outros recursos, tudo a serviço das ideias defendidas pela autora. “Quem me dera ser crédula, confiante. Do tipo que admite estarmos em meio a uma crise medonha, mas que dela brotará um Estado maior, melhor. Já fui assim otimista, mas o tempo passou e me cobrou mais lucidez e coragem para encarar a realidade. Agora não me é mais dada a alternativa de embarcar num faz de conta, acreditar em devaneios: o fato é que sempre estivemos irreversivelmente lascados...”, escreve a autora. (texto completo)
Os candidatos foram convidados a considerar que o seu texto fosse lido pela autora, contendo, assim, uma opinião bem fundamentada, com argumentos que sustentassem o ponto de vista, para que a autora entendesse claramente o posicionamento adotado.
A redação deveria conter de 30 a 50 linhas, além do título. O texto será avaliado em duas modalidades – analítica e holística – por examinadores distintos, e cada um atribuirá escores independentes entre 0 e 10. Se os escores atribuídos pelos avaliadores tiverem um distanciamento maior ou igual a 2,5 pontos, será considerado que houve discrepância na avaliação da redação. Nesse caso, a redação será reavaliada por outro examinador, que irá ponderar sobre a propriedade das duas avaliações anteriores, equilibrar e/ou atribuir novo escore, para desfazer a discrepância e registrar os novos resultados.

EXEMPLOS DE ALGUMAS QUESTÕES DO ENEM

Questão Exemplo de Geografia


Questão 07 
Quando é meio-dia nos Estados Unidos, o Sol, todo mundo sabe, está se deitando na França. Bastaria ir à França num minuto para assistir ao pôr do sol.
SAINT-EXUPÉRY, A. O Pequeno Príncipe. Rio de Janeiro: Agir, 1996.
A diferença espacial citada é causada por qual característica física da Terra?
a) Achatamento de suas regiões polares.
b) Movimento em torno de seu próprio eixo.
c) Arredondamento de sua forma geométrica.
d) Variação periódica de sua distância do Sol.
e) Inclinação em relação ao seu plano de órbita.

RESOLUÇÃO E COMENTÁRIOS
Alternativa B
Pergunta clássica sobre fusos horários e movimentos da Terra tratada de forma muito sutil e inovadora através de um excerto extraído do livro O Pequeno Príncipe. As alternativas distratoras apresentam argumentos que distanciam muito a relação entre o texto e a resposta correta, sendo possível o aprofundamento na alternativa B (“movimento em torno de seu próprio eixo”).
O movimento da Terra em questão é a ROTAÇÃO, sendo esterealizado em torno do próprio eixo do planeta, em sentido horário (de leste para oeste), durando cerca de 24 horas para completar uma volta inteira (360 graus). Vale destacar que se dividirmos 360 graus por 24 horas, a cada 1 hora o planeta rotaciona 15 graus. As coordenadas geográficas que tratam dos fusos horários são as LONGITUDE (ou MERIDIANOS), dividida entre 180 graus para leste (east em inglês) e 180 graus para oeste (west em inglês), sendo que cada intervalo entre longitudes representa 1 hora no sistema de fusos horários internacionais, ou ainda 15 graus de rotação. A base de cálculo de fusos horários das longitudes é o Meridiano de Greenwich (ou Prime Meridian em inglês), também chamado de “fuso zero” ou GMT (Greenwich Mean Time), sendo que qualquer localização à LESTE deste meridiano possui horas a mais do que as localizadas à OESTE.
meridianos
Finalmente, contextualizando o excerto da questão, a França, que está à leste dos Estados Unidos da América (EUA), apresenta horas a mais, ou seja, seu fuso horário é adiantado em relação ao outro país em razão da Terra se movimentar em sentido horário, recebendo energia solar a França antes dos EUA, o que significa que amanhece antes em território francês, ou JÁ É NOITE LÁ enquanto nos EUA AINDA É DIA.

Questão Exemplo de Biologia


Questão 84 
Na década de 1940, na Região Centro-Oeste, produtores rurais, cujos bois, porcos, aves e cabras estavam morrendo por uma peste desconhecida, fizeram uma promessa, que consistiu em não comer carne e derivados até que a peste fosse debelada. Assim, durante três meses, arroz, feijão, verduras e legumes formaram o prato principal desses produtores.
O Hoje, 15 out. 2011 (adaptado).
Para suprir o déficit nutricional a que os produtores rurais se submeteram durante o período da promessa, foi importante eles terem consumido alimentos ricos em
a) vitaminas A e E.
b) frutose e sacarose.
c) aminoácidos naturais.
d) aminoácidos essenciais.
e) ácidos graxos saturados.

RESOLUÇÃO E COMENTÁRIOS
Alternativa D
Os alimentos que ingerimos em nossa dieta são extremamente importantes para mantermos nossa saúde e bem-estar. Cada alimento é composto de macronutrientes (proteínas, lipídios e carboidratos) e micronutrientes (vitaminas e minerais).
Os carboidratos são popularmente conhecidos como açúcares e são a fonte primária de energia para nosso organismo. Os carboidratos são muito abundantes na natureza, e a glicose é o monossacarídeo mais importante para a obtenção de energia. Massas, pães, cereais, batata, etc são alimentos ricos em carboidratos.
Os lipídios são chamados também de gorduras. São a 2a maior fonte de energia obtida pela alimentação. Diferem dos carboidratos, entre outras características, em relação à sua solubilidade em água, sendo insolúveis em soluções aquosas. Apresentam 3 funções principais nos organismos: 1. Fornecimento de energia; 2. Composição das biomembranas; 3. Atuar como isolante térmico.
As proteínas são macromoléculas formadas por aminoácidos. As principais fontes de proteínas são as carnes, leite e ovos. Existem 20 aminoácidos que podem ser combinados para formar as proteínas, porém apenas 12 desses aminoácidos são produzidos pelos animais, estes são chamados de aminoácidos naturais. Os outros 8 aminoácidos, que não podemos sintetizar, precisam ser ingeridos na alimentação, e por isso são chamados aminoácidos essenciais.
Desse modo, a dieta adotada pelos produtores rurais, com a exclusão da ingestão de carnes, levou a um déficit de ingestão de proteínas. Desse modo, foi importante que eles consumissem alimentos ricos em aminoácidos essenciais, não produzidos por nosso organismo.

Questão Exemplo de Matemática


Questão 175 
Diariamente, uma residência consome 20160 Wh. Essa residência possui 100 células solares retangulares (dispositivos capazes de converter a luz solar em energia elétrica) de dimensões 6 cm x 8 cm. Cada uma das tais células produz, ao longo do dia, 24 Wh por centímetro de diagonal. O proprietário dessa residência quer produzir, por dia, exatamente a mesma quantidade de energia que sua casa consome.
Qual deve ser a ação desse proprietário para que ele atinja o seu objetivo?
a) Retirar 16 células.
b) Retirar 40 células.
c) Acrescentar 5 células.
d) Acrescentar 20 células.
e) Acrescentar 40 células.

RESOLUÇÃO E COMENTÁRIOS
Alternativa A
Para resolver esta questão, vamos seguir a seguinte estratégia:
1° passo: calcular a medida da diagonal da célula solar;
2° passo: calcular quanto de energia elétrica cada célula produz;
3° passo: calcular quanto de energia elétrica as 100 células produzem;
4° passo: calcular o excesso ou a falta de células;

1. a célula solar possui um formato retangular. Portanto, a diagonal forma com os seus lados um triângulo retângulo, de onde podemos calcular sua medida através do Teorema de Pitágoras, conforme a figura abaixo:
matemática_enem

2. cada centímetro da diagonal, a célula produz 24 Wh. Então, a energia produzida por uma única célula é: 10 . 24 = 240 Wh

3. se cada célula produz 240 Wh, então as 100 células que a residência possui produzem: 100 . 240 = 24 000 Wh

4. a residência consome apenas 20 160 Wh, ou seja, as 100 células produzem mais energia do que o necessário e por este motivo o proprietário deve retirar células. Sendo assim, vamos calcular quantas células podem ser retiradas para que a produção de energia seja igual ao consumo:

24 000 – 20 160= 3 840 Wh ∴ 3 840 ÷ 240 = 16 Células

Comentário: Uma estratégia interessante para resolver questões como essa é desenvolver o raciocínio de trás para frente. Em outras palavras, uma vez entendido o que se quer e o que se tem, realiza-se o caminho do fim para o começo. As medidas do triângulo retângulo podem facilitar a velocidade do cálculo da diagonal, uma vez que elas são o dobro do conhecido triângulo 3, 4 e 5.
Conteúdo envolvido: Teorema de Pitágoras e as quatro operações básicas.

ENEM 2019

Nesta sexta-feira (12) o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC), realizou a primeira reunião e deu início aos preparativos para o Enem 2018 – Exame Nacional do Ensino Médio.
De acordo com matéria publicada pela assessoria de comunicação social no site do instituto, neste primeiro encontro foi discutido o planejamento específico da produção gráfica das provas, que diz respeito a impressão dos cadernos de questões.
Para a isso a equipe técnica que participou do evento levou em consideração a análise das principais ocorrências relacionadas a impressão das provas do Enem 2017, especialmente aquelas ligadas aos cadernos personalizados com nome e número de inscrição dos candidatos, uma das novidades de segurança da última edição (saiba mais).
Participaram do evento alguns representantes do Inep juntamente com membros dos principais prestadores de serviços contratados para auxiliar na organização, logística, segurança e aplicação do exame nacional:
  • Consórcio Aplicador do Enem (Fundação Getúlio Vargas e Cesgranrio);
  • Gráfica RR Donnelley;
  • Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (Correios);
  • Diretoria de Gestão e Planejamento (DGP – Inep);
  • Diretoria de Avaliação da Educação Básica (DAEB – Inep); e da Diretoria de Tecnologia e
  • Disseminação de Informações Educacionais (DTDIE) do Inep.
O Enem 2018 ainda não tem seu calendário com as datas do período de inscrições, aplicação e liberação do resultado divulgadas. No entanto, o Inep já sinalizou que deve manter as principais mudanças implementadas no ano passado, como a aplicação em dois domingos consecutivos e a alteração na distribuição das provas, com a redação passando para o primeiro dia.
Além disso, o exame deve continuar sendo usado apenas para acesso ao ensino superior, por meio dos vestibulares próprios de universidades públicas e privadas, além de programas como o Sistema de Seleção Unificada (Sisu), o Programa Universidade Para Todos (Prouni) e o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).

12 de janeiro de 2018

FUVEST - 2018

A Fundação Universitária para o Vestibular (FUVEST) é a instituição que elabora, realiza e corrige o vestibular da Universidade de São Paulo (USP), considerado um dos maiores vestibulares do país. Como já dissemos em outros textos, a prova de redação deste exame de entrada compõe a prova de Português da segunda fase que, neste ano, aconteceu no último domingo, dia 7 de janeiro. Hoje, portanto, analisaremos a proposta de redação da FUVEST 2018.
O tema da proposta de redação da FUVEST 2018 é muito atual e suscitou polêmicas ao longo de 2017 e o vestibular aproveitou essa discussão e fez a seguinte pergunta aos seus candidatos: “Devem existir limites para a arte?“.
Entre tantos debates, um dos mais polêmicos do ano de 2017 foi justamente sobre arte. Exposições como Histórias de Sexualidade, atualmente no MASP, em São Paulo, o Queermuseu, fechado em Porto Alegre após manifestações contrárias às obras ali expostas, o caso da menina levada pela mãe a uma exibição de um artista nu e outros casos suscitaram discussões, principalmente nas mídias sociais, sobre o que é considerado arte, a respeito de até que ponto o nu é arte e se crianças podem ser expostas a isso, se trabalhos artísticos podem criticar dogmas religiosos ou se isso seria desrespeito dentre outras coisas.
Desta maneira, os candidatos da FUVEST 2018 deveriam estar a par deste debate que ocorreu ao longo do ano passado e responder, com opiniões e argumentos sólidos, se devem ou não existir limites para a arte. Nesse sentido, para responder a pergunta do tema da proposta de redação, os candidatos deveriam ter em mente um conceito do que consideram arte, o que pensam sobre as funções da arte como um todo, o que acham sobre limites, o que seriam esses limites etc.
Colocando este tema na proposta de redação da sua segunda fase do ano de 2018, a FUVEST assume uma postura de querer fazer com que seus candidatos pensem e reflitam acerca deste assunto e também admite não ter medo de colocar como tema um assunto considerado tabu e polêmico por parte considerável da sociedade brasileira. O mesmo deveria ser feito pelos candidatos: não ter medo de polêmicas, pensar a respeito e se posicionar.
A proposta é composta por cinco textos na coletânea textual, todos verbais. O primeiro coloca a arte como representação da cultura, mas nem sempre representando o que é tido como belo e sensível; às vezes, a intenção da arte e do artista é chocar:
As obras de arte assumem a função da representação da cultura de um povo desde os tempos mais remotos da história das civilizações. É através delas que o ser humano transmite uma ideia ou expressão sensível. Contudo algumas obras de arte fogem do conceito de retratação do belo e do sensível, parecendo terem sido feitas para chocar e causar polêmicas.
A principal obra do escultor inglês contemporâneo Marc Quinn é uma réplica de sua cabeça feita com cerca de 4,5 litros de seu próprio sangue – extraído ao longo de cinco meses. Uma peça nova é feita a cada cinco anos, e elas ficam armazenadas em um recipiente de refrigeração especialmente desenvolvido para elas.

A obra do escultor inglês mencionada pelo texto é esta e esta menção tem como objetivo fazer os candidatos pensarem sobre a função e as metas de uma obra de arte, se essa peça é considerada arte pelos candidatos e o conceito de belo e sensível. O que é belo e sensível para um pode não ser para o outro, assim como o que choca alguém pode não chocar outra pessoa, o que é polêmico para alguém pode não ser para o outro.
A discussão acerca do nu na arte, no que se refere a presença da menina no caso do artista nu em que a mãe a levou para a amostra, sabendo de seu conteúdo, é um exemplo dessa subjetividade que a arte tem em sua essência. Talvez, para essa mãe, o nu é algo natural que deve ser tratado desta forma em sua família; já para outras famílias, o nu pode ser tido como um tabu, algo que deva ser escondido. Uma determinada mãe considerar isso errado quer dizer que nenhuma mãe pode considerar certo ou natural?
O segundo texto da proposta, por sua vez, cita o exemplo de um caso de uma obra de arte que criou polêmica em 2010 (ou seja, não é uma polêmica tão nova e recente assim) por usar urubus vivos:
Graças aos seus três urubus, a obra “Bandeira Branca” é o acontecimento mais movimentado da 29ª Bienal [2010]. No dia da abertura, manifestantes de ONGs de proteção aos animais se posicionaram diante da instalação segurando cartazes com dizeres que pediam a libertação das aves. Chegaram a ser confundidos com a própria obra. “Me entristece o fato de que apenas os animais estejam sendo ressaltados. Espalharam informações erradas sobre como os urubus estão sendo tratados”, lamenta Nuno Ramos. Na obra, os urubus estão cercados por uma rede de proteção e têm como poleiro várias caixas de som que, de tempos em tempos, tocam uma tradicional marchinha de carnaval. As aves tinham a permanência na Bienal autorizada pelo próprio Ibama, que, depois, voltou atrás, alegando que as instalações estavam inapropriadas para a manutenção dos animais. Denúncias e proibições à parte, a obra de Nuno Ramos ganha sentido e fundamentação apenas na presença dos animais. Sem eles, a obra perde seu estatuto artístico e vira mero cenário, já que os animais são seus principais atores.

Protetores dos animais, na época, criticaram o uso de animais e as condições de sua permanência na amostra e no trabalho do artista que, a princípio, teve a permissão do Ibama para expor os urubus, mas devido a polêmica, a autorização foi retirada e, sem as aves, para alguns, o trabalho ficou sem sentido.
O terceiro texto da coletânea relembra a exposição Queermuseu, promovida por um grande banco em Porto Alegre, que foi cancelada após manifestações de pessoas contrárias ao seu conteúdo. Grupos como o Movimento Brasil Livre (MBL) foram um dos mais atuantes nas críticas à amostra:
A exposição “Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira”, realizada desde 15 de agosto no Santander Cultural, em Porto Alegre, foi cancelada após protestos em redes sociais. A mostra ficaria em cartaz até 8 de outubro, mas o espaço cultural cedeu às pressões de internautas. A seleção contava com 270 obras que tratavam de questões de gênero e diferença. Os trabalhos, em diferentes formatos, abordam a temática sexual de formas distintas, por vezes abstratas, noutras, mais explícitas. São assinados por 85 artistas, como Adriana Varejão, Candido Portinari, Ligia Clark, Yuri Firmesa e Leonilson.
Folha de S.Paulo. 10/09/2017. Adaptado.
O quarto texto da coletânea da proposta é um trecho da justificativa do Santander em relação ao cancelamento da exposição:
Nos últimos dias, recebemos diversas manifestações críticas sobre a exposição “Queermuseu – Cartografias da diferença na Arte Brasileira”.
Ouvimos as manifestações e entendemos que algumas das obras da exposição “Queermuseu” desrespeitavam símbolos, crenças e pessoas, o que não está em linha com a nossa visão de mundo. Quando a arte não é capaz de gerar inclusão e reflexão positiva, perdeu seu propósito maior, que é elevar a condição humana.Por essa razão, decidimos encerrar a mostra neste domingo, 10/09. Garantimos, no entanto, que seguimos comprometidos com a promoção do debate sobre diversidade e outros grandes temas contemporâneos.
https://www.facebook.com/SantanderCUltural/posts. Adaptado.
Em relação aos textos sobre o Queermuseu, os candidatos deveriam se questionar se consideram a exposição desrespeitosa com símbolo, crenças e indivíduos ou não, se pensam que a arte pode suscitar reflexão a partir de uma crítica ou de um questionamento e se o cancelamento e fechamento dessa exposição foi um caso de censura ou não. O Queermuseu estava em um local fechado, entrava quem queria; se eu não gosto ou não concordo com o conteúdo, basta eu não entrar ou ninguém deve ter acesso?
O quinto e último texto da coletânea traz uma citação de Solange Farkas, curadora geral do Festival de Arte Contemporânea do SESC desde 1983 e diretora da Associação Cultural Videobrasil desde 1991:
A arte é um exercício contínuo de transgressão, principalmente a partir das vanguardas do começo do século 20. Isso dá a ela uma importância social muito grande porque, ao transgredir, ela aponta para novos caminhos e para soluções que ainda não tínhamos imaginado para problemas que muitas vezes sequer conhecíamos. A seleção dos trabalhos dos artistas para a próxima edição do festival [Videobrasil], por exemplo, me fez ver que os artistas estão muito antenados com as diversas crises que estamos vivendo e oferecem uma visão inovadora para o nosso cotidiano e acho que isso é um bom exemplo.
Solange Farkas. https://www.nexojornal.com.br.
Este texto vai de encontro com o primeiro e resume os demais, pois cita mais uma função da arte: transgredir padrões, apontar novos caminhos e não apenas representar o que é tido como belo e sensível e, aos transgredir, a arte pode chocar e suscitar polêmicas.
Nesse sentido, a proposta de redação da FUVEST 2018, em seu todo, suscitou questionamentos e reflexões para seus candidatos acerca do tema proposto, dando exemplos de um passado recente e do presente e colocando em xeque convicções, crenças, ideologias e conceitos. Além do mais, por tabela, digamos assim, mandou uma mensagem: o vestibular vai discutir polêmicas, vai colocá-las em evidência e a escola também precisa fazer o mesmo, já que o vestibular não deixa de ser um espelho que reflete e refrata a escola como um todo.
Os candidatos, independentemente da posição sustentada nas dissertações-argumentativas, deveriam ter tomado cuidado com discursos extremistas, já que se trata de um tema polêmico. Embasar e alicerçar suas opiniões sem apelar era o principal ponto e, deste modo, a FUVEST testou a capacidade argumentativa de seus candidatos.

7 de janeiro de 2018

SOMENTE UMA LEITURA

Os antigos romanos já demonstravam certa preocupação com o respeito à norma culta do Latim. Sim, essa questão de norma, culta, coloquial ou vulgar, é antiga. Desde há muito as pessoas escrevem de uma maneira e falam de outra, desde há muito há diferentes níveis de escolaridade ou ausência dela, o que afetava (e ainda afeta) o modo como as pessoas fazem uso do idioma.
Restou-nos, do Latim clássico, inúmeras obras literárias (teatro, filosofia, poesia…) e obras de referência, como gramáticas, e esses textos nos fornecem o padrão erudito do idioma, mas a maioria da população não tinha educação formal e são poucos os documentos que nos informam como o idioma era usado no cotidiano. Há, entretanto, alguns documentos curiosos, como algumas “pichações” nas paredes em Pompeia, cidade próxima a Roma, que foi soterrada pela erupção do Vesúvio. Eis algumas frases gravadas nas paredes e muros:
  • Pecunia non olet. – Dinheiro não fede.
  • Lucrum gaudium. – Lucro dá alegria.
  • Lucius pinxit. – Lúcio pintou (isto/aqui)
  • Suspirium puellarum Celadus thraex. – Celadus, o trácio (nome de um gladiador) faz as moças suspirarem.
Também chegou até os dias de hoje um documento chamado “Appendix Probi”. Era uma lista contendo a forma correta quanto à ortografia, seguida daquela ‘errada’, que deveria ser evitada. Eis alguns exemplos:
  • 3. Speculum non speclum.
  • 4. Masculus non masclus.
  • 5. Vetulus non veclus.
  • 6. Vitulus non viclus.
  • 7. Vernaculus non vernaclus.
  • 8. Articulus non articlus.
  • 9. Baculus non vaclus.
  • 10. Angulus non anglus.
  • 111. Oculus non oclus.
  • 130. Tabula non tabla.
  • (essas ocorrências são semelhantes ao ‘córrego’ que vira ‘corgo’ e à ‘xícara’ que vira ‘xicra’)
  • 25. Formica non furmica.
  • 58. Umbilicus non imbilicus. (ainda temos ‘umbigo’ e ‘imbigo’ hehe)
  • 83. Auris non oricla. (o mesmo ocorre em ‘otoridade’)
  • 159. Terrae motus non terrimotium. (fazemos essa aglutinação em ‘vambora’)
  • 220. Noviscum non noscum.
  • 221. Vobiscum non voscum. ¹ (a numeração aparece no documento latino)
Podemos observar que alguns tipos de desvios continuam ocorrendo no português atual, como a troca do ‘l’ pelo ‘r’ (e vice-versa), do ‘b’ pelo ‘v’, a supressão da sílaba posterior à tônica nas proparoxítonas, transformando a palavra em paroxítona, que é mais facilmente pronunciada, e a aglutinação de termos criando uma palavra só. Cometemos os mesmos ‘erros’ que nossos antepassados, o que mostra que há um padrão no modo como a língua vai se alterando.
E por falar em listas, boa parte das pessoas costuma fazer lista de resoluções de Ano Novo. Sugiro colocar na sua alguns itens como:
  1. Ler mais (ou ao menos ler alguma coisa!);
  2. Consultar dicionários (e não espere que o Google ou o editor de texto corrija as palavras por você, mas aceite que essas ferramentas mostrem que há erros);
  3. Treinar a caligrafia (seus professores merecem e os corretores no vestibular não farão esforço para decifrar o texto);
  4. Escrever mais, afinal a prática leva à perfeição!
E, ainda falando de listas, tente memorizar esta:
  • De repente (não derrepente)
  • Por isso (não porisso)
  • O que (não oque)
  • Com certeza (não concerteza)
  • Tinha chegado (não tinha chego)
  • Tinha trazido (não tinha trago)
É só uma pequena lista, os equívocos são bastantes e bem frequentes, mas ao longo deste ano, vamos listar mais aspectos, curiosidades e dúvidas da “última flor do Lácio”.