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28 de dezembro de 2018

UMA ANÁLISE

FAMERP – Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto – é uma das principais faculdades do interior de São Paulo na área da saúde, pois oferece os cursos de Medicina, Enfermagem e Psicologia. Seu vestibular foi realizado neste mês de dezembro e a prova de redação, que exige a escrita de uma dissertação-argumentativa, propôs um tema muito atual e que foi muito debatido pela sociedade em geral, pelas escolas e pela mídia em 2018: “Obrigatoriedade da Vacinação: entre a prevenção das doenças e o respeito às escolhas individuais“.
Por se tratar de uma prova de redação formulada para candidatos que se prepararam exclusivamente para cursos de graduação da área da saúde, o tema é muito pertinente e a sua escolha demonstra como a banca elaboradora está “antenada” em relação ao que aconteceu em 2018 acerca da saúde da população, pois muito se discutiu a este respeito.
Há tempos não só o Brasil, mas também outros países, tem acompanhado o crescimento de um movimento chamado de “antivacina“, composto por adultos (pais, em sua maioria) que são contra as vacinas e, por este motivo, não vacinam os seus filhos – crianças e jovens.
O nosso país tem um dos melhores programas de vacinação do mundo, ultrapassando países como a Alemanha, por exemplo, em quantidade de vacinas e doses que uma pessoa deve tomar ao longo da vida, já que a vacinação começa na primeira infância e vai até a fase adulta, na qual muitos deixam de se vacinar. Deste modo, o calendário de vacinação brasileiro abrange todas as fases da vida de um indivíduo, mas vem sofrendo boicotes do movimento dos “antivacina“.
Segundo artigo da bióloga Drª. Natália Pasternak Taschner (Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo), publicado na revista Saúde, em 2016, a meta da vacinação contra a poliomielite – paralisia cerebral – não foi alcançada; imunizou-se apenas 86% da população quando o recomendado é 95%; foi o pior índice dos últimos 12 anos.
Segundo Taschner, o maior problema consequente deste movimento é:
Quando uma parte da população deixa de ser vacinada, criam-se grupos de pessoas suscetíveis, que possibilitam a circulação de agentes infecciosos. Quando eles trafegam e se multiplicam por aí, não afetam apenas aqueles que escolheram deixar de se vacinar, mas também aqueles que não podem ser imunizados, seja porque ainda não têm idade suficiente para entrar no calendário nacional, seja porque sofrem de algum comprometimento imunológico.
Sim, a vacinação dificilmente chega a 100% da população. Mas, quanto maior for o contingente vacinado, maior a proteção conferida inclusive aos não vacinados. Isso é o que chamamos de imunidade de rebanho.Por essas e outras, a vacinação é algo maior que uma escolha pessoal. Vira assunto de saúde pública. Se você não vacina seu filho de 5 anos, ele pode contrair uma doença e passar para o meu bebê de 6 meses, que ainda não tomou todas as doses necessárias. Assim, a SUA escolha afeta a vida do MEU filho. E esse é um fenômeno que tem acontecido no Brasil.

A bióloga credita este fenômeno às fake news, notícias falsas que circulam nas redes sociais, espelhando mentiras a respeito de vacinas. Como por exemplo, há uma fake news que afirma, erroneamente, que vacinas causam autismo.
Passemos, agora, à análise da proposta de redação do vestibular FAMERP 2019:
O primeiro texto da coletânea textual é um excerto de uma notícia de julho deste ano a respeito da volta de doenças até então consideradas erradicadas: sarampo e a poliomielite. A grande circulação de pessoas oriundas de países onde as doenças ainda não são erradicadas (como a Venezuela, por exemplo) e a baixas nos índices de vacinação contribuem para possíveis surtos que podem ocasionar mortes.
Por isso que muitos imigrantes venezuelanos foram vacinados antes de entrar no Brasil, comprovando que as vacinas são os meios mais eficazes de se erradicar uma doença e evitar a sua transmissão. Aliás, é por esta razão que os cientistas do mundo todo têm como objetivo desenvolver uma vacina para o vírus HIV, o causador da AIDS, por exemplo.
O segundo texto da coletânea corrobora o artigo que usamos para contextualizar a nossa análise: o Brasil tem um dos mais reconhecidos programas públicos (gratuitos) de vacinação do mundo, mas mesmo assim pais têm se recusado a vacinar seus filhos embasados em fake news, buscando, inclusive, meios de não serem denunciados.
Realmente, os pais devem exercer o pátrio poder em relação aos filhos; isso é um dever e um direito dados pela legislação brasileiro, sob pena de perdê-lo caso haja negligência, maus tratos, abandono etc. Mas como respeitar uma escolha individual, de uma família, em relação a um tema em que esta escolha pode prejudicar a saúde de mais crianças que não fazem parte desta família? Esta é, basicamente, a pergunta na qual o tema da proposta de redação está estruturado.
Os pais têm o direito de escolher não vacinar seus filhos? Caso a família não cumpra o calendário nacional de vacinação, deve haver alguma punição? O cumprimento do calendário de vacinação deve ser pré-requisito para matricular os filhos na escola, por exemplo? Ou para tirar documentos como o passaporte? Aliás, há países que exigem certificado de vacinação para o turista passar na imigração…
Enquanto os dois primeiros textos tratam da atualidade do tema, o terceiro texto remonta a Revolta da Vacina, o maior motim da história do Rio de Janeiro, na época, capital do país. Oswaldo Cruz, médico sanitarista, comandou a erradicação de doenças como a febre amarela (transmitida pelo mosquito Aedes Aegypti, o mesmo que transmite a dengue, o vírus Zika e a Chikungunya), a peste bubônica e a varíola.
Trata-se de uma contextualização histórica importante para a proposta de redação, já que mostra que o movimento “antivacina” pode ser considerado mais antigo do que pensamos. Porém, devemos ponderar que, naquela época (início do século XX), não havia as informações e o conhecimento científico, com comprovações, acerca das vacinas.
Desta maneira, o recorte temático da proposta converte para um debate entre a prevenção de doenças e as escolhas individuais que penda para a prevenção de doenças, pois doenças tidas como erradicadas estão voltando a causar mortes no Brasil e no mundo. Afinal, o que pesa mais: a escolha de uma pessoa – na maioria das vezes, de pais em relação aos filhos que, por sua vez, ainda não têm poder de decisão – ou a saúde de toda uma população?

21 de dezembro de 2018

ANÁLISE


No último domingo, dia 16 de dezembro, começou a ser aplicada a segunda fase do vestibular 2019 da UNESP – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – realizado pela VUNESP – Fundação para o Vestibular da Universidade Estadual Paulista.
No segundo dia de provas da segunda fase, última segunda-feira, foram aplicadas as provas dissertativas de conhecimentos específicos e de redação, alvo da análise do texto de hoje. A UNESP exige a produção de uma dissertação-argumentativa e, neste ano, o tema da proposta de redação foi “Compro, logo existo?”.
O tema desta proposta de redação é uma alusão clara à frase “Penso, logo existo” do filósofo francês René Descartes que a escreveu em seu livro Discurso do Método, em 1637, em francês “Je pense, donc je suis“. O ideal é que o candidato, ao ler o tema, se lembrasse imediatamente da frase de Descartes, que trata da existência humana como consequência da existência do pensamento e do raciocínio lógico, diferentemente dos animais, por exemplo, que são movidos pelo instinto.
Neste caso, podemos inferir que a proposta de redação trata, essencialmente, da substituição da geração do pensamento pela geração do consumo; a questão do ser foi substituída pela questão do ter. Portanto, a existência humana, agora, é consequência do consumo e do ter e não mais do pensamento e do raciocínio.
A coletânea textual da proposta de redação contém quatro textos: uma história em quadrinhos de Quino (1932), cartunista argentino criador da Mafalda; uma tirinha do cartunista brasileiro André Dahmer (1974); uma poesia de José Paulo Paes (1926 – 1998) e um excerto de um livro de Zygmunt Bauman, filósofo e sociólogo polonês (1925-2017).

Este é Manolito, um dos amigos de escola de Mafalda; seu pai é dono de um armazém e, por isso, as duas crianças discutem, com frequência, sobre consumo, já que para Manolito tudo se resume da relação de venda e compra. O ideal era que o candidato tivesse este conhecimento prévio, pois assim entenderia mais facilmente a fala do menino na história em quadrinho selecionada.
Na fala de Manolito, ele aborda justamente o “ser” e o “ter”, afirmando que “quem não tem nem sequer é”, ou seja, quem não tem nem existe, estabelecendo uma relação direta com o tema da proposta de redação. Para ele, a pessoa que não consome nem existe e, portanto, nada vale. Como ele é filho de um comerciante, pode estar representando esta camada da sociedade e as pessoas que realmente acreditam no capitalismo como meio de obter lucros por meio do consumo.

A tirinha acima se passa num local de trabalho onde dois colegas conversam. O primeiro afirma que o outro, Cláudio, só pensa em dinheiro e o questiona sobre quando foi a última vez que este fez amor. Cláudio responda que, com amor, não se compra iates nem carros, o que para o outro é uma perda da noção de tudo, e Cláudio retruca dizendo que não se compra motos com noção, pergunta dúbia, já que pode ser uma crítica à falta de segurança das motocicletas.
Esta tirinha é uma crítica às pessoas que só pensam em dinheiro e em consumir bens materiais e deixam de lado as relações interpessoais e afetivas, já que se só pensam em dinheiro, consequentemente só pensam em trabalho e deixam de sair, se divertir, se relacionar com pessoas afetivamente etc. Para essas pessoas, elas só existem e realizam coisas por meio do dinheiro que usam para comprar bens materiais, inclusive de luxo, como um iate.

O poema de José Paulo Paes critica o consumo e, possivelmente, o consumismo traçando uma relação direta, por meio de metáforas, entre os shoppings (grandes centros comerciais) e o inferno, local no qual, segundo a crença cristã (igrejas católica e evangélica, por exemplo) as almas pagam seus pecados cometidos em vida.
O poema é, inclusive, dedicado aos shoppings, colocando-o como um verdadeiro inferno no qual os clientes, como almas penadas, vagam sem rumo pelo mundo do consumo; cada loja seria mais um prego na cruz de cada um de seus frequentadores, uma alusão direta à crucificação. E estas almas penadas vagam, sem perdão, à espera não da salvação para o reino do céu, mas sim da grande liquidação.
Na terceira estrofe, mais especificamente, há uma crítica ao consumismo, isto é, ao consumo sem necessidade: “por mais que compremos, estamos sempre nus“. Por mais que tenhamos roupas, sempre não temos uma roupa específica para determinada ocasião e daí compramos mais roupas, mais sapatos, mais acessórios etc.

Bauman ficou muito conhecido na área acadêmica das ciências humanas devido ao seu conceito de liquidez das relações humanas; para o autor, a tecnologia, a rapidez da circulação de informações e a contemporaneidade transformaram as relações humanas em relações líquidas, que correm como água corrente e, assim, acabam muito rápido. Somos substituídos rapidamente em namoros, casamentos, em relações familiares e em relações de trabalho e o mesmo acontece com o consumo: já que somos substituídos facilmente, também substituímos pessoas e objetos facilmente, sendo consumidores acima de tudo.
Curamos um mau dia comprando alguma coisa supérflua, tratando as lojas como terapeutas ou farmácias (aliás, como consumimos remédios, não?), comprando por impulso sem pensar na necessidade e sem pensar, muitas vezes, se podemos pagar tranquilamente. Nos sentimos completos quando compramos, não quando vivemos.
Deste modo, trata-se de uma coletânea muito bem planejada e pensada, pois todos os textos vão na direção do tema, pois abordam o consumo como estilo de vida por meio da crítica, da poesia e da filosofia e sociologia.
Parece um tema fácil, já que é muito discutido nas escolas e na sociedade em geral, mas por isso mesmo pode ser um tema de difícil escrita, pois o candidato pode ter tido várias ideias e, por isso mesmo, dificuldade em focar no recorte temático da proposta que era, justamente, a substituição da geração do pensamento pela geração do consumo.
Além disso, o tema foi formulado em uma pergunta, portanto o candidato deveria respondê-la, dizendo se concorda ou discorda com a substituição da geração do pensamento pela de consumo. Seguindo o recorte temático de crítica ao consumo e ao consumismo, pensamos que a dissertação-argumentativa deveria seguir a crítica da proposta e discordar da pergunta.

14 de dezembro de 2018

TEMA DE REDAÇÃO


No último dia 10 de dezembro, a Declaração Universal dos Direitos Humanos completou 70 anos, já que em 10 de dezembro de 1948, três anos após o fim da II Guerra Mundial, a Assembleia Geral das Nações Unidas, em Paris, a proclamou. O documento foi uma resposta aos horrores praticados na II Guerra Mundial e foi resultado da união de vários países (exceto a antiga União Soviética e Arábia Saudita) que se comprometeram a evitar ao desrespeito a estes direitos.
Por razão deste aniversário, acreditamos que a Declaração Universal dos Direitos Humanos possa ser o foco de algum tema de proposta de redação das segundas fases dos vestibulares mais importantes do país em janeiro de 2019: Fuvest (Universidade de São Paulo), Vunesp (Unesp) e Comvest (Universidade Estadual de Campinas).
Outro motivo que nos leva a crer nesta possibilidade é o fato de que muitos dos temas atuais e mais relevantes da sociedade brasileira e mundial terem relações diretas com os Direitos Humanos.
As imigrações e a questão dos refugiados políticos e de guerra que tentam entrar na Europa ou mesmo os venezuelanos que estão entrando no Brasil pela região norte são exemplos de desrespeito aos Direitos Humanos. O artigo 13º, por exemplo, afirma que todo ser humano tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio e a esse regressar e o 14º que todo ser humano, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar asilo em outros países.
Como estes vestibulares sempre estão muito alinhados com o que acontece no Brasil e no mundo, é uma possibilidade palpável que um deles aborde o aniversário de 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos e sua importância ontem e hoje, os desafios de a cumprir, a sua atualidade e relevância na sociedade atual, como cumpri-la de maneira digna etc.
Por isso achamos conveniente publicarmos a Declaração Universal dos Direitos Humanos na íntegra, nesta publicação, a fim de que nossos leitores a estudem não só para provas de redação, mas também para a vida. Além disso, não podemos nos esquecer de que ela é o centro das atenções na 5ª competência da prova de redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

Declaração Universal dos Direitos Humanos
Adotada e proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas (resolução 217 A III) em 10 de dezembro 1948.
Preâmbulo
Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo,
Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos resultaram em atos bárbaros que ultrajaram a consciência da humanidade e que o advento de um mundo em que mulheres e homens gozem de liberdade de palavra, de crença e da liberdade de viverem a salvo do temor e da necessidade foi proclamado como a mais alta aspiração do ser humano comum,
Considerando ser essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo império da lei, para que o ser humano não seja compelido, como último recurso, à rebelião contra a tirania e a opressão
Considerando ser essencial promover o desenvolvimento de relações amistosas entre as nações,
Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta, sua fé nos direitos fundamentais do ser humano, na dignidade e no valor da pessoa humana e na igualdade de direitos do homem e da mulher e que decidiram promover o progresso social e melhores condições de vida em uma liberdade mais ampla,
Considerando que os Países-Membros se comprometeram a promover, em cooperação com as Nações Unidas, o respeito universal aos direitos e liberdades fundamentais do ser humano e a observância desses direitos e liberdades,
Considerando que uma compreensão comum desses direitos e liberdades é da mais alta importância para o pleno cumprimento desse compromisso,
Agora portanto a Assembleia Geral proclama a presente Declaração Universal dos Direitos Humanos como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade tendo sempre em mente esta Declaração, esforce-se, por meio do ensino e da educação, por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas de caráter nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua observância universais e efetivos, tanto entre os povos dos próprios Países-Membros quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição.
Artigo 1
Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.
Artigo 2
  1. Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.

  2. Não será também feita nenhuma distinção fundada na condição política, jurídica ou internacional do país ou território a que pertença uma pessoa, quer se trate de um território independente, sob tutela, sem governo próprio, quer sujeito a qualquer outra limitação de soberania.
Artigo 3
Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.
Artigo 4
Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas.
Artigo 5
Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.
Artigo 6
Todo ser humano tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecido como pessoa perante a lei.
Artigo 7
Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.
Artigo 8
Todo ser humano tem direito a receber dos tribunais nacionais competentes remédio efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição ou pela lei.
Artigo 9
Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado.
Artigo 10
Todo ser humano tem direito, em plena igualdade, a uma justa e pública audiência por parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir seus direitos e deveres ou fundamento de qualquer acusação criminal contra ele.
Artigo 11
  1. Todo ser humano acusado de um ato delituoso tem o direito de ser presumido inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa.

  2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no momento, não constituíam delito perante o direito nacional ou internacional. Também não será imposta pena mais forte de que aquela que, no momento da prática, era aplicável ao ato delituoso.
Artigo 12
Ninguém será sujeito à interferência na sua vida privada, na sua família, no seu lar ou na sua correspondência, nem a ataque à sua honra e reputação. Todo ser humano tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou ataques.
Artigo 13
  1. Todo ser humano tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de cada Estado.

  2. Todo ser humano tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio e a esse regressar.
Artigo 14
  1. Todo ser humano, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar asilo em outros países.

  2. Esse direito não pode ser invocado em caso de perseguição legitimamente motivada por crimes de direito comum ou por atos contrários aos objetivos e princípios das Nações Unidas.
Artigo 15
  1. Todo ser humano tem direito a uma nacionalidade.

  2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade.
Artigo 16
  1. Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer restrição de raça, nacionalidade ou religião, têm o direito de contrair matrimônio e fundar uma família. Gozam de iguais direitos em relação ao casamento, sua duração e sua dissolução.

  2. O casamento não será válido senão com o livre e pleno consentimento dos nubentes.

  3. A família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção da sociedade e do Estado.
Artigo 17
  1. Todo ser humano tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros.

  2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade.
Artigo 18
Todo ser humano tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; esse direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença pelo ensino, pela prática, pelo culto em público ou em particular.
Artigo 19
Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; esse direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.
Artigo 20
  1. Todo ser humano tem direito à liberdade de reunião e associação pacífica.

  2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação.
Artigo 21
  1. Todo ser humano tem o direito de tomar parte no governo de seu país diretamente ou por intermédio de representantes livremente escolhidos.

  2. Todo ser humano tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país.

  3. A vontade do povo será a base da autoridade do governo; essa vontade será expressa em eleições periódicas e legítimas, por sufrágio universal, por voto secreto ou processo equivalente que assegure a liberdade de voto.
Artigo 22
Todo ser humano, como membro da sociedade, tem direito à segurança social, à realização pelo esforço nacional, pela cooperação internacional e de acordo com a organização e recursos de cada Estado, dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento da sua personalidade.
Artigo 23
  1. Todo ser humano tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego.

  2. Todo ser humano, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por igual trabalho.

  3. Todo ser humano que trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfatória que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana e a que se acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social.
  4. Todo ser humano tem direito a organizar sindicatos e a neles ingressar para proteção de seus interesses.
Artigo 24
Todo ser humano tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das horas de trabalho e a férias remuneradas periódicas.
Artigo 25
  1. Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e à sua família saúde, bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis e direito à segurança em caso de desemprego, doença invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle.

  2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozarão da mesma proteção social.
Artigo 26
  1. Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito.

  2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos do ser humano e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz.

  3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será ministrada a seus filhos.
Artigo 27
  1. Todo ser humano tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar do progresso científico e de seus benefícios.

  2. Todo ser humano tem direito à proteção dos interesses morais e materiais decorrentes de qualquer produção científica literária ou artística da qual seja autor.
Artigo 28
Todo ser humano tem direito a uma ordem social e internacional em que os direitos e liberdades estabelecidos na presente Declaração possam ser plenamente realizados.
Artigo 29
  1. Todo ser humano tem deveres para com a comunidade, na qual o livre e pleno desenvolvimento de sua personalidade é possível.

  2. No exercício de seus direitos e liberdades, todo ser humano estará sujeito apenas às limitações determinadas pela lei, exclusivamente com o fim de assegurar o devido reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma sociedade democrática.

  3. Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser exercidos contrariamente aos objetivos e princípios das Nações Unidas.
Artigo 30
Nenhuma disposição da presente Declaração poder ser interpretada como o reconhecimento a qualquer Estado, grupo ou pessoa, do direito de exercer qualquer atividade ou praticar qualquer ato destinado à destruição de quaisquer dos direitos e liberdades aqui estabelecidas.

2 de dezembro de 2018

TEMA DE REDAÇÃO

O conhecimento e nossa capacidade de articular as mais diversas áreas do saber é uma das facetas que nos diferencia de outras espécies no mundo. Algumas maneiras de conhecer, no entanto, são vistas, em determinados ambientes, como se fossem de segunda ordem, as artes dentre elas. A partir das reflexões suscitadas , discorra em texto argumentativo-dissertativo sobre a necessidade de se perceber a interconexão entre os diversos campos do conhecimento a fim de se atingir o pleno desenvolvimento de nossas capacidades

TEMA DE REDAÇÃ0



 Mãe, acho que tem um poema debaixo da minha cama! Quando menino, a poesia me assustava. Parecia ter dentes afiados, pernas desajeitadas, mãos opressoras. E nem as mãos da professora mais dócil conseguiam me acalmar. Não compreendia uma palavra, uma metáfora, uma rima pobre, rica ou rara. Não entendia nada. Tentava adivinhar o que o poeta queria dizer com aquela frase entupida de imagens e sentidos subjetivos. Achava-me incapaz de pertencer àquilo. Não conseguia mergulhar naquele mundo. Eu, sem saber nadar em versos, afogava-me na incompreensão de um soneto; ela – a tão sagrada poesia – não me afagava e me deixava morrer na praia, entre um alexandrino e um heptassílabo. 
Toda vez que eu era obrigado a decorar poesia, sentia vontade de sumir, de virar um móvel e ficar imóvel até tudo se acabar. Por dentro, sentia azia, taquicardia, asma espontânea, tremelique e gagueira repentina. Por fora, fingia que estava tudo bem. Eu sempre escolhia o poema mais curto da lista que a escola sugeria.
 Naquele dia, sobrou Pneumotórax, de Manuel Bandeira, e eu queria ser aquele paciente para não precisar declamá-lo. Eu queria tossir, repetir sem parar: trinta e três… Trinta e três… Ter uma doença pequena, uma desculpa qualquer, um atestado médico assinado pelo meu avô que me deixasse em casa – não a semana toda, mas só o tempo da aula. Depois, para a prova de francês, não tive escolha: fui obrigado a decorar Le dormeur du Val, de Rimbaud.
 Eu lembro que, antes de ficar em pé de frente para o meu professor, eu queria que alguém me desse dois tiros no peito. Queria ser esse soldado e dormir, tranquilo, na paz celestial daquele vale até que a turma toda esquecesse a minha existência. Ou que a guerra fosse declarada finda. Ou que eu fosse declamado culpado. A Primeira Guerra Mundial parecia durar menos do que aqueles 15 minutos de exame. Minha boca está seca até hoje. Minhas mãos estão molhadas até agora. Só eu sei o que suei por você, querida Poesia. Aos 17, a poesia ainda me apavorava. Podia ser o verso mais delicado do mundo, eu tinha medo. Podia ser o poeta mais simpático da face da Terra, eu desconfiava. Desconversava, lia outra coisa. Ou não lia nada. Talvez por não querer entendê-la. Talvez por achar não merecê-la. E assim ficava à mercê da minha rebeldia. Não queria aprender a contar sílabas, queria ser verso livre. Tolo! Até a liberdade exige teoria! Se hoje eu pudesse falar com aquele menino, diria-lhe que a poesia não é nenhum decassílabo de sete cabeças. Que se ela o assusta é porque ela o deseja. Que se ele sente CONCURSO DE ADMISSÃO 1 medo é porque ele precisa dela. Não há mais monstro debaixo da sua cama. O monstro agora está em você.   

 Considerando os textos que compõem essa prova, elabore um texto dissertativo argumentativo em que você discorra sobre como o medo pode ser um aliado. Instruções:
1 - Redija seu texto em prosa, de acordo com a norma culta escrita da língua portuguesa; 
2 - Redija um texto de 25 (mínimo) a 35 linhas (máximo); 
3 - Atribua um título a seu texto;
 4 - Seu texto definitivo deverá ser escrito a tinta azul ou preta. Não serão considerados, para fins de correção, textos escritos a lápis; e 
5 - Não copie trechos dos textos apresentados. 

TEMA DE REDAÇÃO

Reflita sobre as repercussões de nossas escolhas frente ao mundo, sejam elas as consideradas pequenas escolhas, como aquilo que consumimos no cotidiano, sejam elas as consideradas de maior impacto diante da vida, por envolverem diretamente outras pessoas. Após refletir, elabore seu texto dissertativo-argumentativo no espaço a ele designado. Em sua escrita, atente para as seguintes considerações:
 1. privilegie a norma culta da língua portuguesa. Eventuais equívocos morfo-sintáticos que configurem desvios da norma culta vigente relacionados à regência, concordância, coesão e coerência, ortografia e acentuação serão penalizados;
 2. a escrita definitiva de seu texto deve ser feita a caneta. Textos escritos a lápis não serão considerados para fins de correção; 

Tema de redação

Podemos observar, ao longo da história, o caráter inovador das artes e das ciências, em geral. Artes e ciências, no entanto, não abrem mão daquilo que já foi pensado. É a capacidade de lançar um olhar crítico e, ao mesmo tempo, inovador que determinará a originalidade dessa produção. Na arte, assim como na ciência, podemos dizer que há uma constante ressignificação, sem o que uma e outra (arte e ciência) deixariam de existir: é preciso inovar, sempre. A busca pela novidade é quase uma imposição na maioria das sociedades, sendo mesmo uma cobrança do próprio indivíduo a si mesmo. Apesar de estarmos vivenciando constantes mudanças, é fácil perceber que o homem não está jamais satisfeito. A partir das ideias desencadeadas nesta prova, produza um texto dissertativo-argumentativo discorrendo sobre a insatisfação quase perene que conduz a história da humanidade. Em sua escrita, atente para as seguintes considerações:
1. privilegie a norma culta da língua portuguesa. Eventuais equívocos morfossintáticos, erros de regência, concordância, coesão e coerência, bem como desvios da grafia vigente e a não observância das regras de acentuação serão penalizados;
 2. seu texto deverá ter entre 25 (vinte e cinco) a 30 (trinta) linhas. 

TEMA DE REDAÇÃO UNIJUÍ 2019

A prova, que foi realizada das 8h30 às 12h30, contava com 40 questões objetivas, mais a elaboração da redação, que nesta edição do Vestibular abordava o tema “Como o analfabetismo funcional influencia a relação com as redes sociais no Brasil”

30 de novembro de 2018

REDAÇÃO


Muito tem se falado sobre ideologia ou “viés ideológico” no Brasil, principalmente neste ano de eleições para o Executivo e o Legislativo, no qual foram e ainda estão sendo debatidos (e a discussão não cessará tão cedo) sobre projetos como Escola sem Partido e termos como “ideologia de gênero“. Tal debate chegou, inclusive, até a edição 2018 do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que fora acusado de “doutrinação ideológica” por algumas pessoas e por alguns setores da sociedade. Mas, afinal, o que é “ideologia“?
De acordo com o Houaiss Dicionário da Língua Portuguesa, “ideologia” é um substantivo feminino que significa:
  1. ciência das ideias;
  2. conjunto de ideias, crenças, tradições, princípios e mitos, sustentados por um indivíduo ou grupo social, de uma época, de uma sociedade (ideológico – adjetivo).
Nesse contexto, é importante ressaltar que a acepção do verbete no dicionário Houaiss coloca como “ideologia” sendo um conjunto de ideias, crenças, tradições e princípios gerais defendidos por um indivíduo ou grupo social, ou seja, este significa não determinada quais são essas ideias, crenças, tradições e princípios, pois a palavra “ideologia” se refere a todas e quaisquer ideias, crenças, tradições e todos os princípios sustentados por um indivíduo ou grupo social.
Deste modo, podemos inferir que todos nós, individualmente, e todos os grupos sociais – sejam estes organizados em torno de qualquer propósito – possuímos (já que quase todos os indivíduos se organizam em grupos sociais) ideias, crenças, tradições e princípios, no plural. Resumindo: todos nós temos as nossas ideologias, também no plural.
Neste sentido, também podemos inferir que não há pessoa ou grupo social no mundo que não tenha suas ideologias (sempre no plural) e, portanto, podemos concluir que não há neutralidade no campo das ideias. Podemos pensar que somos neutros em relação a determinado assunto, mas pensar assim já é um ato ideológico, isto é, já é uma ideologia, pois é uma ideia.
E é justamente isso que, inclusive, diferencia a espécie humana das demais espécies existentes: a capacidade de ter ideias baseadas no raciocínio e não apenas no instinto. E é por isso que as pessoas mudam de ideia, justamente porque têm a capacidade de pensar de novo, de raciocinar e de refletir acerca de tudo e de todos.
Nossa capacidade de raciocinar e de refletir tem como resultado o nosso juízo de valores acerca de tudo o que nos cerca, inclusive pessoas com as quais convivemos. E este processo acontece a todo o momento, às vezes mesmo que nós percebamos (e aí entram os estudos de Psicanálise de Freud, por exemplo, sobre o que ocorre no nosso subconsciente e no nosso consciente).
Quando conhecemos alguém, por exemplo, avaliamos (uns mais, outros menos) a aparência física, o humor, as roupas, o jeito de falar, dentre outros aspectos de uma pessoa. Quando lemos um artigo opinativo no jornal, quando lemos uma reportagem em uma revista, quando lemos um livro, quando ouvimos uma música, assistimos a um filme, vemos um show, lemos uma coluna de redação como essa etc. emitimos juízo de valor sobre o que lemos, ouvimos e vimos: podemos discordar, concordar, apontar ambos os pontos, gostar, não gostar, repudiar, questionar, problematizar ou simplesmente esquecer. E todo esse processo acontece porque somos capazes de termos um conjunto de ideias (ideologias) sobre tudo e todos que nos cercam.
E como ideologias se referem à ciência das ideias, também no plural, há ideologias em todas as esferas de atuação humana, como por exemplo, as esferas política, científica, religiosa, jornalística, escolar, familiar, íntima, literária, acadêmica, econômica, histórica, sociológica etc., dentre inúmeras outras. E, inseridas em cada uma das esferas de atuação humana, estão diversas ideologias.

Uma pessoa vegetariana, que não come nenhuma proteína de origem animal, tem uma ideologia. Uma pessoa vegana, que não consome nenhum produto de origem animal (comida, cosméticos, roupas, produtos de limpeza, calçados etc.) tem uma ideologia. Já uma pessoa que come carnes em geral tem outra ideologia.
Uma pessoa que se posiciona, na política, à direita, liberal, neoliberal ou capitalista na economia, por exemplo, tem ideologias diferentes de alguém que se posiciona à esquerda, mas todas são ideologias. Deste modo, na política e na economia como esferas, como um todo, há ideologias e não apenas “viés ideológico”, pois tudo é ideologia.
Um católico tem sua ideologia. Um evangélico tem a sua. Um espírita tem a sua, a de acreditar na reencarnação, por exemplo. E isso ocorre em todas as religiões, com pontos que concordam e pontos que discordam. Um agnóstico e um ateu, por sua vez, também têm ideologias.
Uma pessoa favorável à descriminalização do aborto, por exemplo, tem uma ideologia; já a pessoa contrária ao tema tem outra ideologia, amparada, geralmente, em ideologias religiosas, sustentadas pelo grupo social de sua religião.
O mesmo ocorre com quantos outros inúmeros e inesgotáveis temas sobre os quais as sociedades, no mundo, discutem. E esta discussão, este debate, deve ser consciente de que tudo o que pensamos, dizemos e fazemos é ideológico. Não há neutralidade. Não há opinião neutra. Podemos não ter uma opinião formada inteiramente, podemos ter dúvidas e questionamentos acerca de diversos temas (e para isso temos de estudar, pesquisar, ler, ouvir e ver posicionamentos diferentes), mas nunca fomos ou seremos indivíduos neutros.
As nossas opiniões são expressas, inclusive, nas palavras que escolhemos. Como não há neutralidade, as palavras também possuem carga ideológica e devemos prestar muita atenção quanto a escolha do léxico (até numa redação do Enem, por exemplo). Por isso algumas palavras não são mais usadas, pois expressam preconceitos e conceitos ultrapassados (inclusive pela ciência), por exemplo, e temos de refletir sobre isso.
Aliás, há modos e modos de se dizer a mesmíssima coisa. Dependendo da nossa intenção, mudamos o tom de voz, a postura corporal, o vocabulário etc.
Tudo o que pensamos é formado por o que vemos, ouvimos, lemos e sentimos desde a nossa primeira infância – há quem diga que desde o útero, já que os bebês podem ouvir e sentir dentro das mães – , mas não precisamos ou devemos pensar e sentir como nossos pais, parentes, professores, amigos, vizinhos, colegas de trabalho etc. Devemos pensar e sentir como nós mesmos e como os grupos sociais com os quais nos identificamos. Caso não haja identificação com muitos, também não há problemas.
Então é equivocado pensar que a posição com a qual discordamos tem “viés ideológico” porque o que pensamos também é ideologia; apenas não há concordância. Como algumas pessoas têm colocado, tudo o que é considerado ruim para elas tem “viés ideológico”, quando essa opinião, inclusive, é ideológica.
Em propostas de redação que exigem a escrita de uma dissertação-argumentativa, esta percepção sobre ideologias é fundamental, até porque o candidato deve saber defender e sustentar muito bem a sua tese em argumentos sólidos.

25 de novembro de 2018

LER- LER- LER

Ao me deparar com a primeira questão da Unesp 2019, pensei: “Puxa, uma questão dada ‘de bandeja’!” E fiquei feliz pelos alunos. Felicidade que durou só até a manha da segunda-feira seguinte, quando alguns alunos disseram ter errado, por desconhecerem o significado de “pedante” …
Nas conversas que se seguiram, filosofamos um pouco a respeito da bagagem lexical dos jovens, o que me levou a algumas hipóteses…
Muitos professores queixam-se de que os alunos não têm mais o hábito da leitura, queixa da qual discordo: vemos os jovens entretidos com enormes volumes de livros: são as mais diferentes sagas, trilogias e/ou romances modernos voltados para o público adolescente e essas obras não são ‘fininhas’ – “Harry Potter e a Ordem da Fênix” tem algo em torno de 700 páginas!!!
A questão é que esses livros não exigem um domínio muito grande de vocabulário, nem uma reflexão muito profunda a respeito de seu conteúdo. Isso não quer dizer que não tenham valor – eu mesma sou fã da J. K. Rowling e do Rick Riordan –, mas esses textos não servem para ampliar o vocabulário nem o conhecimento de mundo dos leitores, servem como entretenimento apenas. Algumas vezes, a partir dessas obras, o jovem mais curioso pode ‘alçar voos mais altos’ e passar para obras literárias que tenham servido de base para essas histórias, como os mitos gregos originais, apresentados em adaptações de bons escritores ou nas peças de teatro da Grécia Antiga.
A queixa comum é que as obras literárias são difíceis, a leitura delas não flui e têm vocabulário muito complexo. Ora, os grandes autores tentam retratar a alma humana em suas personagens e, diga-se de passagem, o ser humano não é simples de se entender, logo… as obras que os retratam em profundidade também não serão. Há, porém, muitos benefícios que advirão àqueles que corajosamente se empenharem numa leitura atenta: terão ampliados seu vocabulário, seu conhecimento de mundo e desvendarão um pouco da complexidade humana, o que pode servir como base para o autoconhecimento também.
Assim, para colher tais benefícios, o procedimento que costumo sugerir aos meus alunos consiste em ler com um lápis na mão e um dicionário ao lado. A cada termo desconhecido, paramos a leitura, consultamos o dicionário para nos apropriarmos do sentido do vocábulo (sem preguiça de ler o verbete inteiro, já que muitas palavras são polissêmicas, ou seja, apresentam diversos significados, e precisamos escolher o que seja adequado ao contexto). Em seguida, voltamos ao texto e anotamos o significado. Retomamos a leitura, agora já cientes do sentido e continuamos o processo.
Pode parecer cansativo e demorado, mas com o passar do tempo e com a ampliação do nosso léxico, cada vez menos precisaremos recorrer ao dicionário – mas nunca o devemos abandonar! Conforme ampliamos nosso vocabulário, nosso conhecimento de mundo segue o mesmo caminho e cada vez mais estaremos mais aptos a compreender as ideias alheias e a nos expressar com clareza e exatidão – o que será proveitoso ao longo da vida, não só do percurso escolar ou da carreira profissional.
Essa busca pelas palavras no dicionário pode ser encarada como divertimento, como Chico Buarque descreve neste texto (metalinguístico), que serve de prefácio para uma nova edição do Dicionário Analógico de Francisco Ferreira dos Santos Azevedo:
“Palavra puxa palavra e escarafunchar o dicionário analógico foi virando para mim um passatempo (desenfado, espairecimento, entretém, solaz, recreio, filistria). O resultado é que o livro, herdado já em estado precário, começou a se esfarelar nos meus dedos. (…) Com esse livro escrevi novas canções e romances, decifrei enigmas, fechei muitas palavras cruzadas. (…) Eu já imaginava deter o monopólio (açambarcamento, exclusividade, hegemonia, senhorio, império) de dicionários analógicos da língua portuguesa, não fosse pelo senhor João Ubaldo Ribeiro, que ao que me consta também tem um, quiçá carcomido pelas traças (brocas, carunchos, busanos, cupins, térmitas, cáries, lagartas-rosadas, gafanhotos, bichos-carpinteiros). Hoje sou surpreendido pelo anúncio dessa nova edição do dicionário analógico de Francisco Ferreira dos Santos Azevedo”.
Se esse procedimento virar hábito ou passatempo, dificilmente o aluno encontrará problemas com questões de interpretação ou de verificação de vocabulário (afinal, a questão da Unesp a que me referi no início do texto poderia ser resolvida até mesmo por quem não soubesse regra alguma de gramática!)

23 de novembro de 2018

MUDANÇAS NO ENEM


O ano de 2018 está sendo decisivo para a educação brasileira como um todo. A Base Nacional Comum Curricular tomou corpo, assim como a Reforma do Ensino Médio e, consequentemente, mudanças estão sendo planejadas para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Segundo a presidente do Inep (Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), Maria Inês Fini, a prova de redação será mantida e o segundo dia de provas pode passar a ser específico, de acordo com o que o aluno cursou no Ensino Médio no seu novo formato (leia mais).
Tais alterações levarão um tempo para serem realizadas, já que as escolas também terão um tempo para se adequar às mudanças, porém queremos salientar a importância da manutenção da prova de redação do Enem, já que a linguagem é a base de todas as demais áreas do conhecimento.
Todos os alunos, independentemente da área que seguirão no futuro, usarão a leitura e a escrita no seu dia a dia acadêmico e profissional, seja lendo e escrevendo artigos científicos, relatórios, projetos, resenhas, dissertações, teses, resumos, ensaios, mensagens eletrônicas etc.
A prova de redação do Enem, além de avaliar a leitura e a escrita, também avalia outras capacidades, como por exemplo, seleção e recorte de informações, formulação de hipóteses e inferências, estabelecimento de relações entre diferentes áreas, intertextualidade, cumprimento da norma culta da Língua Portuguesa, letramento crítico, pontuação, ortografia, acentuação dentre outras.
Neste sentido, trata-se de um verdadeiro pente fino que, além de tudo, serve como avaliação do ensino da leitura e da escrita em prosa em todo o país. Por isso reafirmamos a importância da presença de uma prova de redação num exame com a abrangência do Enem, o segundo maior exame do mundo.
Falando nisso, as primeiras fases dos principais vestibulares estão acontecendo e em janeiro eles terão as respectivas segundas fases com as provas de redação e estaremos atentos a elas!

17 de novembro de 2018

ENEM


No dia 18 de outubro último, esta coluna publicou um texto que abordou as variedades linguísticas no Brasil como um provável e possível tema da prova de redação da edição de 2018 do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Não acertamos o palpite sobre a proposta de redação, mas esse assunto tem muito a ver com a questão de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias que abordou o pajubá e é sobre isso o texto de hoje.
Como escrevemos no referido texto, toda língua viva tem a sua norma culta e padrão, ensinada nas escolas e utilizada em ambientes formais, tanto na oralidade quanto na escrita, e as suas variedades ou variantes. As variedades linguísticas representam pessoas de determinadas regiões (cidades, estados, por exemplo), de determinadas idades e de determinados grupos. Este é um fenômeno totalmente natural em uma língua, já que se trata de algo vivo usado e alterado pelos seus usuários, isto é, pelos seus falantes. Ao longo do tempo, essas mudanças e alterações vão sendo incorporadas – assim como os empréstimos e os estrangeirismos, fenômenos linguísticos igualmente naturais – uma mais, outras menos, algumas chegando a compor dicionários, por exemplo.
Nesse contexto, segundo a Linguística, um dialeto é um conjunto de marcas linguísticas de natureza semântico-lexical(relacionado aos sentidos, à significação e ressignificação e ao léxico), morfossintática e fonético-morfológica (relacionados à sintaxe e a fonética, respectivamente), restrito de uma comunidade ou grupo inserido numa comunidade ou grupo maior de usuários de uma mesma língua. Resumindo, dialeto é uma variedade linguística que coexiste com outra.
No Brasil, por exemplo, há vários dialetos regionais, isto é, de determinadas regiões, inclusive com dicionários próprios publicados. É o caso, por exemplo, do dialeto “caipiracicabano”, da cidade de Piracicaba, no interior de São Paulo, cuja região é muito famosa pelo -r caipira; o dialeto cearense, do estado do Ceará, no nordeste brasileiro; o dialeto da Bahia, também no nordeste dentre outros. Quem já teve a oportunidade de viajar para outros estados além do seu ou de conversar com pessoas destas regiões que demos como exemplo podem ter provas, numa simples conversa, de que se trata de dialetos.
Nesse sentido, há também dialetos específicos de determinados grupos, como é o caso do pajubá. Segundo o professor Carlos Henrique Lucas Lima, da Universidade Federal do Oeste da Bahia, o pajubá (também chamado por alguns de bajubá) é um dialeto com um “repertório vocabular e performativo” de parte da comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais).
De acordo com Lima, trata-se de um dialeto que tem origem no nagô e no iorubá (grupos étnico-linguísticos africanos) que foi apropriado por parte da comunidade LGBT. Esta apropriação pode ser explicada, também, pela prática do candomblé, religião de matriz africana, por parte da comunidade LGBT que fala o pajubá, já que tanto esta crença religiosa quanto os idiomas nagô e iorubá chegaram ao Brasil por meio dos escravos africanos. E, nesse sentido, não há como negar a influência africana em nossa cultura, seja nas variedades linguísticas, na música, nas religiões, na culinária, no esporte etc.
Questão do Enem 2018 que cita o “Pajubá”.
A questão que abordou o pajubá o usou apenas para contextualizar o participante do Enem 2018 em relação aos assuntos “variedades linguísticas” e “dialetos“. Não é um dialeto secreto, pois quem o usa o usa normalmente, com seus pares e nas situações que permitem esse uso (retomando a noção de adequação linguística mencionada no texto do dia 18 de outubro); tão pouco é um dialeto por ter mais de mil palavras, já que a definição de dialeto não considera número de palavras; não é utilizado em advogados em situações formais nem é comum em conversas no ambiente de trabalho, pois em ocasiões formais, como estas, deve-se usar a norma culta, padrão da língua.
pajubá ganha status de dialeto porque foi consolidado por objetos formais de registro que, no caso da questão, é o dicionário mencionado no enunciado – Aurélia, a dicionária da língua afiada, de Angelo Vip e Fred Libi. Resumindo, a resposta correta é a letra C.
O mesmo processo ocorreu com os dialetos cearense e caipiracicabano mencionados anteriormente. Ambos têm status de dialeto porque foram consolidados em objetos formais de registro como o dicionário.
Para os linguistas, para os professores de Português, alunos e pesquisadores da área, essa questão não tem nada de polêmica; pelo contrário, foi considerada pela grande maioria como uma questão fácil e simples que exigia um conhecimento prévio acerca de variedades linguísticas e dialeto e interpretação de texto.
Poderia ser um enunciado que abordasse um dialeto regional, como o cearense e o caipiracicabano? Sim, poderia. Por que o Enem preferiu inserir na prova uma questão que aborda um dialeto usado por parte da comunidade LGBT? Talvez pelo perfil de aluno desejado: um aluno que, no mínimo, tolere a diversidade e compreenda que ela se dá inclusive na linguagem.
Nesse sentido, essa questão serviu para promover dois debates: a presença de questões que abordem variantes linguísticas e a presença de questões que abordem grupos minoritários como a comunidade LGBT e debater assuntos de suma importância atualmente, como respeito à diversidade sexual.
“Ah, mas ainda assim poderia ter sido abordado um outro dialeto.”. Tudo bem, mas qual? Dentre a nossa imensa variedade linguística, qual variante merece ser contemplada no Enem? A caipira ou quem mora em grandes centros urbanos iria criticar? A das pessoas que moram em comunidades carentes, nos morros cariocas, por exemplo, ou os moradores de bairros como o Leblon iriam reclamar? O dialeto cearense ou os habitantes do sudeste iriam se manifestar? O dialeto de praticantes da crença evangélica ou os católicos iriam se queixar? Ou, para todos os exemplos, o contrário?
O que queremos dizer é que se trata de uma questão complexa, inclusive teoricamente falando, pois aborda um grande campo da Linguística: a sociolinguística. Podemos debater a formulação das questões do Enem? Óbvio que sim, mas com argumentos consistentes e pautados na área da educação e da avaliação dentro das disciplinas e das suas respectivas áreas de pesquisa.
Costumamos dizer aos nossos alunos que o Enem e todos os outros vestibulares é só uma prova e que a nota obtida não define quem eles são porque eles são muito mais do que uma nota em um exame, até porque esse sistema não é justo, ainda mais em se tratando de Brasil.
Nesse sentido, em meio a essa “polêmica”, reafirmamos que o Enem é só uma prova e suas questões não incentivam ou estimulam os participantes a serem o que eles não são ou a mudarem seus pensamentos e sentimentos. Nenhum exame tem esse poder.
Para finalizar, a renomada psicóloga Rosely Sayão, especialista em educação, defende que entre família e escola deve haver sim, em certa medida, um certo conflito (no bom sentido) para que crianças e jovens tenham duas perspectivas diferentes e esteja pronto para formar a sua própria perspectiva. Em entrevista à Carta Educação, em junho de 2016, ela afirmou:
CE: A senhora também defende que a relação entre família e escola deva ser, em certa medida, conflitante para que a criança tenha duas perspectivas de mundo. Como assim?
RS: Uma é a perspectiva de mundo segundo a família, que é uma perspectiva privada, recheada muitas vezes de preconceitos, pré-julgamentos, convicções. E a escola deveria oferecer para o alunado a visão de mundo na perspectiva do conhecimento. Assim, o aluno pode olhar para aquilo que ele aprendeu com os pais e pensar criticamente a conflitorespeito. Se não o mundo nunca muda, os filhos vão repetir os pais e pronto. Então quando eu vejo famílias procurando escolas que falam a mesma linguagem que eles, eu ficou um pouco assustada porque é colocar a criança sob a ditadura de um pensamento único.

15 de novembro de 2018

BOM ORAR

1 – Nós te rogamos; com o poder de Tua Mão Direita, desmancha a atadura.
2 – Aceites o Canto da Tua Nação, exalta-nos e purifica-nos, ó Temido.
3 – Por favor, ó Poderoso, protege-os, como a pupila do Olho, aqueles que exijam a Tua Unificação.
4 – Abençoa-os, purifica-os, concede-lhes sempre Tua Justiça misericordiosa.
5 – Ó Santo, ó Protetor, com a abundância da Tua Bondade, governa Tua congregação.
6 – Ó Único, ó Exaltado, verte-Te ao Teu povo, e aqueles que se lembram de Tua Santidade.
7 – Aceita os nossos clamores, e ouve os nossos gritos, ó Tu, que sabes todos os mistérios. (Bendito seja o Nome daquele cujo glorioso Reino é eterno.)
Salmos correspondentes:
Domingo 1ª linha – Salmo 95
Segunda-feira 2ª linha – Salmo 96
Terça-feira 3ª linha – Salmo 97
Quarta-feira 4ª linha – Salmo 98
Quinta-feira 5ª linha – Salmo 99
Sexta-feira 6ª linha – Salmo 29
Sábado 7ª linha – Salmo 92

13 de novembro de 2018

GABARITO


A aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio foi encerrada em todo o Brasil às 18h30min (Horário de Brasília) deste domingo. Assim como fizemos após a primeira data de aplicação , divulgaremos agora o Gabarito Enem 2018 Extraoficial Dia 2 – 11 de Novembro.
A fonte deste gabarito será a mesma utilizada na semana passada, o conceituado e confiável Guia do Estudante, cujos professores fizeram a resolução das 90 questões (45 de Ciências da Natureza e 45 de Matemática).

Confira abaixo as resposta para todos os itens dos cadernos de provas Cinza, Amarelo, Azul e Rosa. Tenha em mente que algumas questões podem ter respostas diferentes do gabarito Enem 2018 oficial, que deve ser divulgado na quarta-feira (14). Não se esqueça também que o número de acertos não permite saber exatamente a nota que você irá tirar, apenas lhe dará uma noção de seu desempenho no exame.


Gabarito Enem 2018 Extraoficial Dia 2 (11 de Novembro)

QuestãoCinzaAmarelaAzulRosa
   
91EBBA
92BCDC
93 BABE
94ECED
95 CEDE
96 AEBA
97 CBCE
98 EBAA
99DBCE
100DDEC
101 EABE
102DCCC
103DECA
104 CDAA
105 BECD
106 CCDA
107CACB
108AADB
109 CDDD
110 BDAB
111DDEC
112 DACE
113 DBAB
114 ADAE
115 EBDD
116CCBD
117 ACDC
118 AABD
119DCCD
120 BDEA
121 CCEB
122 EBAC
123 ACEC
124 BEAA
125 EDAC
126 AEBB
127 EDEC
128 AACA
129 BBEC
130 DEBE
131 BCBB
132 CEAD
133 AACE
134CEEB
135EADB
136 AAEE
137 DDCB
138 CAEB
139 AEAD
140CDDE
141E ACE
142 DBEC
143 DBBC
144 ACBC
145 BADD
146 EAAA
147 BDDC
148BBAE
149 CEAA
150 BAED
151CEBC
152ABBB
153DBDC
154DDDA
155AEEA
156CEDE
157CAAB
158CDBB
159DCAC
160ECDB
161BCBC
162BCEA
163DDAD
164AACA
165ECCE
166EECD
167DDDA
168BDBB
169EACA
170ABAD
171BCED
172CBEA
173ACAD
174EACD
175DABA
176AECB
177BBDD
178ABDB
179DDAE
180ABBA