Os antigos romanos já demonstravam certa preocupação com o respeito à norma culta do Latim. Sim, essa questão de norma, culta, coloquial ou vulgar, é antiga. Desde há muito as pessoas escrevem de uma maneira e falam de outra, desde há muito há diferentes níveis de escolaridade ou ausência dela, o que afetava (e ainda afeta) o modo como as pessoas fazem uso do idioma.
Restou-nos, do Latim clássico, inúmeras obras literárias (teatro, filosofia, poesia…) e obras de referência, como gramáticas, e esses textos nos fornecem o padrão erudito do idioma, mas a maioria da população não tinha educação formal e são poucos os documentos que nos informam como o idioma era usado no cotidiano. Há, entretanto, alguns documentos curiosos, como algumas “pichações” nas paredes em Pompeia, cidade próxima a Roma, que foi soterrada pela erupção do Vesúvio. Eis algumas frases gravadas nas paredes e muros:
- Pecunia non olet. – Dinheiro não fede.
- Lucrum gaudium. – Lucro dá alegria.
- Lucius pinxit. – Lúcio pintou (isto/aqui)
- Suspirium puellarum Celadus thraex. – Celadus, o trácio (nome de um gladiador) faz as moças suspirarem.
Também chegou até os dias de hoje um documento chamado “Appendix Probi”. Era uma lista contendo a forma correta quanto à ortografia, seguida daquela ‘errada’, que deveria ser evitada. Eis alguns exemplos:
- 3. Speculum non speclum.
- 4. Masculus non masclus.
- 5. Vetulus non veclus.
- 6. Vitulus non viclus.
- 7. Vernaculus non vernaclus.
- 8. Articulus non articlus.
- 9. Baculus non vaclus.
- 10. Angulus non anglus.
- 111. Oculus non oclus.
- 130. Tabula non tabla.
- (essas ocorrências são semelhantes ao ‘córrego’ que vira ‘corgo’ e à ‘xícara’ que vira ‘xicra’)
- 25. Formica non furmica.
- 58. Umbilicus non imbilicus. (ainda temos ‘umbigo’ e ‘imbigo’ hehe)
- 83. Auris non oricla. (o mesmo ocorre em ‘otoridade’)
- 159. Terrae motus non terrimotium. (fazemos essa aglutinação em ‘vambora’)
- 220. Noviscum non noscum.
- 221. Vobiscum non voscum. ¹ (a numeração aparece no documento latino)
Podemos observar que alguns tipos de desvios continuam ocorrendo no português atual, como a troca do ‘l’ pelo ‘r’ (e vice-versa), do ‘b’ pelo ‘v’, a supressão da sílaba posterior à tônica nas proparoxítonas, transformando a palavra em paroxítona, que é mais facilmente pronunciada, e a aglutinação de termos criando uma palavra só. Cometemos os mesmos ‘erros’ que nossos antepassados, o que mostra que há um padrão no modo como a língua vai se alterando.
E por falar em listas, boa parte das pessoas costuma fazer lista de resoluções de Ano Novo. Sugiro colocar na sua alguns itens como:
- Ler mais (ou ao menos ler alguma coisa!);
- Consultar dicionários (e não espere que o Google ou o editor de texto corrija as palavras por você, mas aceite que essas ferramentas mostrem que há erros);
- Treinar a caligrafia (seus professores merecem e os corretores no vestibular não farão esforço para decifrar o texto);
- Escrever mais, afinal a prática leva à perfeição!
E, ainda falando de listas, tente memorizar esta:
- De repente (não derrepente)
- Por isso (não porisso)
- O que (não oque)
- Com certeza (não concerteza)
- Tinha chegado (não tinha chego)
- Tinha trazido (não tinha trago)
É só uma pequena lista, os equívocos são bastantes e bem frequentes, mas ao longo deste ano, vamos listar mais aspectos, curiosidades e dúvidas da “última flor do Lácio”.
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