NO INICIO DO BLOG

10 de fevereiro de 2010

LEITURA, POR FAVOR...

Estou postando um texto maravilhoso do meu colega, amigo, ídolo...
Cláudio Moreno - Zero Hora - 09/02/2010

Nós, as formigas

Durante muito tempo o homem pensou que era o centro do universo. Para os antigos, que viviam nessa confortável ilusão, o firmamento estrelado cobria nosso mundo como um manto protetor, e o Sol era um grande astro domesticado que vinha todos os dias nos banhar de vida e de luz. Em Roma, Plínio apenas lastima que nosso ouvido terreno não consiga captar a música que os planetas produzem ao se mover nas alturas; daqui de baixo, diz ele, o mundo desliza em silêncio, tanto de noite quanto de dia.
O avanço da ciência, contudo, veio abalar essa falsa sensação de importância. Primeiro, foi Copérnico, a nos ensinar que o universo não tem centro, e que a nossa Terra é apenas um entre os vários planetas que giram em torno do Sol, que é uma entre os 200 bilhões de outras estrelas da Via Láctea, que é uma entre os cem bilhões de outras galáxias que cintilam no universo... Segundo Freud, esse foi o primeiro dos três grandes golpes que a ciência infligiu em nosso narcisismo.
Se éramos um nada diante do cosmos, restava ao menos o consolo de ser os reis da criação, muito superiores aos demais seres vivos; atribuímos a nós mesmos uma alma imortal, proclamamos nossa descendência divina e cavamos um abismo entre nossa natureza e a deles. Coube a Darwin desfazer essa ilusão: biologicamente, somos como os outros animais, mais próximos de algumas espécies, mais distantes de outras – nada mais do que isso. Era o segundo abalo, mas não o derradeiro. Este veio com Freud, ao descobrir que não somos senhores nem mesmo em nossa própria casa, pois é o inconsciente, e não a razão, quem comanda grande parte de nossa vida mental.
Tendo perdido, dessa forma, o cetro, o trono e a coroa, muitos aprenderam a lição e ficaram intelectualmente mais humildes, dispostos a repensar os limites da condição humana. Outros, porém, movidos por essa inconsciente vaidade da espécie, encontraram uma nova maneira de preservar a velha ilusão de importância, atribuindo-se o poder apocalíptico de influir, como uma divindade maligna, no próprio clima do planeta! Mas é muita pretensão dessa formiga pensante! A ação humana pode tornar o meio-ambiente insuportável para nós, poluir o ar, sujar a água e ameaçar outras espécies – em outras palavras, a ação do homem pode vir a ser fatal para o próprio homem. O planeta, no entanto, não sofre sequer um arranhão com esses despropósitos; ele esfria ou esquenta quando o Sol quer, ou o oceano, ou os vulcões – como vem acontecendo há bilhões de anos. A natureza já era imensuravelmente velha quando chegamos aqui; ela não sabia que viríamos, nem saberá quando formos embora – e nem vai se importar se isso um dia acontecer. Indiferente, a Terra vai seguir seu curso silencioso pelo espaço infinito.

Nenhum comentário: