NO INICIO DO BLOG

25 de julho de 2010

Conforto ou desgraça? LER ....GURIZADA

Se um alienígena poderoso desembarcasse na Terra e nos oferecesse uma invenção maravilhosa, capaz de eliminar distâncias, alterar a arquitetura das cidades, proporcionar conforto e status às pessoas, além do prazer da velocidade, mas pedisse em troca cerca de 1,3 milhão de vidas por ano, será que aceitaríamos? Pois aceitamos. O automóvel e seus sucedâneos, do modo como os utilizamos, são, hoje, a principal causa de mortes no mundo e atingem o número citado acima, de acordo com estudos da Organização das Nações Unidas (ONU). No Brasil, o Ministério da Saúde estima em 35 mil mortes por ano nas estradas e nas cidades, sem contar o número de feridos e mutilados. O trânsito brasileiro mata 2,5 vezes mais do que nos Estados Unidos e quase quatro vezes mais do que em toda a Europa.

E não foi um alienígena que nos trouxe esse conforto transformado em desgraça. Fomos nós mesmos, assim como também somos, nem sempre responsavelmente, os fabricantes, os condutores e os fiscais dessas máquinas mortais. As cidades e as estradas brasileiras estão entupidas de veículos, provocando o maior paradoxo dos tempos modernos: os deslocamentos se tornaram uma tortura e, mesmo assim, a velocidade e a imprudência continuam causando dezenas de mortes diárias.

A segurança no trânsito é um desafio para todos. Certamente os cidadãos têm o direito de cobrar soluções mais eficientes dos governantes e das autoridades, que a cada dia demonstram mais dificuldades para equacionar os problemas do trânsito. Agora mesmo, as principais cidades do país vêm registrando um número alarmante de mortes, resultantes principalmente de atropelamentos e de acidentes com motos. Nas estradas, as causas de desastres também são bem conhecidas: excesso de velocidade, imprudência e consumo de bebidas ou drogas por motoristas. Evidentemente, cabe aos governantes, aos legisladores, às autoridades policiais e judiciais ações fiscalizadoras e punitivas que reduzam tais infrações. Mas cabe aos próprios cidadãos a adoção de comportamentos mais civilizados, que efetivamente diminuam os riscos do trânsito. Não basta que a legislação e o poder público obriguem os motoristas a frequentar cursos de direção defensiva, ainda que estes sejam necessários. A educação no trânsito envolve, principalmente, a postura pessoal dos condutores e dos pedestres, envolve o respeito pela vida, envolve tolerância, precaução, cuidados e planejamento. Infelizmente, ainda são muitos os motoristas que imitam o personagem Pateta, que ilustra um desenho animado utilizado, exatamente, nos cursos de formação de condutores. Pacífico e cordial na condição de pedestre, ele se transforma num monstro competitivo e irresponsável quando assume a direção de um veículo.

A primeira e mais grave causa do morticínio no trânsito, portanto, é o homem que comanda a máquina.

A segunda talvez seja o próprio automóvel, que ainda vem de fábrica com o poder de desenvolver velocidade muitas vezes acima da segurança que oferece. O automóvel, na sua acepção genérica de meio de transporte, está se transformando no cigarro dos tempos modernos – um verdadeiro problema de saúde pública em decorrência da sua letalidade, da sua capacidade poluente e do incômodo que causa. Assim como o cigarro, também o automóvel tem sido relegado a espaços restritos nos grandes centros urbanos e seus usuários são, a cada dia, mais penalizados pelas tarifas públicas. Tudo porque não somos capazes de utilizá-lo adequadamente.

Num terceiro plano, estão as outras causas, as estradas mal planejadas e mal sinalizadas, a administração leniente, a fiscalização insuficiente, a legislação pouco rigorosa e tudo o que degenera em impunidade para os infratores. Todos esses fatores desembocam num desafio monumental para o homem moderno: teremos coragem e discernimento para romper o contrato de morte estabelecido com a grande invenção do século 19, que continua impactando a vida humana nos dias atuais, ou continuaremos apenas a prantear parentes e amigos vitimados pela insensatez da velocidade?

Nenhum comentário: