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19 de setembro de 2010

Leitura gurizada

"Que as ogivas não falem
Insurreições. Atentados. Ódio sectário e religioso. Corrupção. Enchentes. Terremotos. Se você leu algo sobre o Paquistão nos últimos nove anos, certamente foi sobre algum desses temas, ou todos juntos. Depois do 11 de setembro, o país se tornou megaexportador de más notícias. Antes, elas se destinavam ao mercado interno. Na virada do milênio, ninguém prestava muita atenção a essa república islãmica. Ela havia sido preterida pela diplomacia americana em favor da Índia e sofria sanções em razão de sua escalada nuclear.
No dia em que as Torres Gêmeas e o Pentágono foram atacados, o chefe do serviço secreto paquistanês estava em Washington.Teve de ser retirado às pressas do Capitólio, tido como um dos próximos alvos. Os atentados tinham sido tramados em parte em solo paquistanês. Dias depois Islamabad jurou fidelidade aos Estados unidos na guerra ao terror. Desde então, poucos países receberam mais dólares em ajuda oficial do que o Paquistão. Quem semeia Realpolitik colhe hipocrisia.Relatórios ultrassecretos divulgados pelo site WikiLeaks mostram que oficiais americanos no Afeganistão veem os militares paquistaneses como aliados do Talibã.
O Paquistão não é para principiantes. Em 2011, enquanto percorria todas as regiões do país encontrei xiitas que temiam os vizinhos cristãos que falavam aos cochichos mesmo no interior de paróquias, sunitas de mentalidade secular que odiavam os militares, refugiados que temiam pela vida. Num ambiente como esse, vocações democráticas nascem mortas e ogivas nucleares aguardam sua chance. Infelizmente, os poderosos aliados ao Paquistão, EUA à frente, descuidaram de umas e de outras."

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