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3 de abril de 2011

Chega de educação progressista

Fala-se e escreve-se o tempo todo e em toda parte, que o Brasil está em vias de se tornar uma das potências dominantes do cenário global - mas tais previsões costumam vir acompanhadas de uma condicional: se quisermos chegar lá, teremos que investir em educação.
É aqui que o leitor se pergunta: mas já não estamos investindo em educação? Para onde vão os 25% do orçamento que todo gestor público tem a obrigação legal de destinar a essa área?
Depois de passar sete anos acompanhando, como professor, o cotidiano da escola pública, posso afirmar que o principal problema do nosso ensino não é falta de verbas, mas de rumo. E ouso levantar uma questão que tem sido pouco discutida; a educação brasileira só é tão ruim por ser "boa demais", pelo menos no papel.
Se tomarmos os textos das leis que norteiam o ensino no país ou os regimentos das secretarias municipais, estaduais de Educação, se lermos as ementas das disciplinas dos cursos de Pedagogia ou se ouvirmos o que é debatido em semnários de educadores, choraremos de emoção e teremos a sensação de que nossas escolas são as melhores do mundo.
Tais textos, geralmente redigidos em prosa poética, estão repletos de belas expressões como " inclusão", "gestão democrática", "construção do conhecimento", "leitura da realidade", " libertação dos oprimidos", "formação do ser humano integral."Os arautos da corrente que hoje domina a intelligentsia educacional brasileira, e que chamam a si mesmos de "progressistas", defendem esses princípios com fervor quase religioso e travam uma luta contra o paradigma anterior, que rotulam de "educação tradicional".
A educação tradicional, aquela em que a maioria dos brasileiros com mais de 25 anos foi alfabetizada, foi demonizada. "Tradicional" tornou-se um xingamento. Ao assumir o comando dos órgãos que cuidam da educação no país, lá pelo fim de década de 80, os novos timoneiros identificaram o paradigma então vigente com o autoritarismo da ditadura e trataram de exorcizar as escolas das práticas tidas como "tradicionais" e "autoritárias": a transmissão de conhecimento de um professor que sabe para um aluno que não sabe, a reprovação dos alunos que não aprendem, a memorização pela repetição, o bê-a-bá, a exaltação dos que tiram boas notas.
Desde então evita-se ao máximo reprovar, pois isso "traumatiza" o aluno. A repetição da tabuada e os ditados para fixar a grafia das palavras também são evitadas, pois " deformam a consciência". Os currículos foram permeados de atividades lúdicas e recreativas, destinadas a estimular a aceitação e a " inclusão".
O resultado, duas décadas depois, é que milhões de analfabetos funcionais saem das escolas públicas, todos os anos, com certificados de conclusão embaixo do braço. No seu afã de conscientizar e libertar os oprimidos, a educação progressista os condenou à escravidão da falta de qualificação. Vivendo em um mundo de faz de conta onde a interação social é mais importante que o conteúdo, os "libertadores" não percebem que a verdadeira libertação é ter condições de ser selecionado para um bom emprego, de ser aprovado no vestibular, de passar em um concurso público, e isso é negado à maioria dos alunos das escolas públicas.
O avanço de que necessitamos para abraçar o nosso destino de potência global se assemelha mais , por paradoxal que seja, a um retrocesso, uma volta ao tempo em que o conhecimento era medido e aplicado, os professores eram respeitados e valorizados e os alunos só eram aprovados se aprendessem.
EDUARDO NUNES - FILÓSOFO e JORNALISTA - FONTE ZERO HORA - 02/04/2011

Um comentário:

Tati disse...

Maravilhoso texto,parabéns