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2 de fevereiro de 2013

Boate Kiss e a falta de responsabilidade

Cientista e professor da USP, Miguel Dabdoub, é doutor em química orgânica e forense, formado em química industrial pela UFSM fala sobre o gás inalado na Boate Kiss e suas consequências.
O poliuretano é produzido por 2 elementos químicos: isocianato e o poliol. quando há reação dos dois forma-se a espuma até então inofensiva, porém quando queimados ou aquecidos voltam a formar o isocianato, o gás responsável pela tragédia de Bophal, na Índia que matou mais de 8 mil pessoas. Em contato com a água, o veneno provoca o ataque químico, age com a água  de nossa boca e pulmão, causando danos respiratórios. Ao penetrar nos pulmões, entope os alvéolos, impedindo a passagem do oxigênio à corrente sanguínea. Em Bophal, as pessoas morreram com a sensação de asfixia. O mesmo deve ter ocorrido em Santa Maria. O ácido cianídrico é o veneno de ação mais rápida que se conhece. Seu efeito é tão rápido que pode matar em um ou dois minutos. Nos EUA, as execuções judiciais são feitas com esse ácido, que mata em 30 segundos dentro de uma câmara de gás.
O uso deve ser controlado, os poliuretanos são largamente usados no mundo em objetos como colchão, esponja, entre outros. Sua aplicação, onde houver risco de fogo ou altas temperaturas, deve ser rigorosamente controlada. A questão da proibição deve ser discutida com cuidado, pois tem que ser feita  uma análise dos materiais construtivos. No caso dos isolamentos acústicos, recomenda os de óxido de alumínio ou compostos de fósforo que são retardadores de chama.
As pessoas que estavam na Boate Kiss devem ter morrido 2 minutos após inalarem o gás. Os que chegaram na porta de saída já estavam em grave estado de inconsciência. Quem estava em local de maior concentração deve ter morrido no primeiro minuto. Por sido o caso do banheiro, um local menor com a concentração de gás  mais intensa. É importante dizer que o isocianato e o ácido cianídrico não irão matar as pessoas que estão internadas, pois a ação deles ocorre no momento do incêndio. O isocianato se grudou em algumas partes do corpo, formando substâncias que ficam nos pulmões. Isso pode levar a problemas futuros.
A dose letal é muito pequena, para o monóxido de carbono, o valor limite de tolerância para o corpo é em torno de 39 ppm - partes por milhão - se for o gás cianídrico dois minutos são suficientes para matar quem respirar e o grau de letalidade é muito alto.
Miguel Dabdout

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