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10 de dezembro de 2015

Análise do Tema da Redação do Enem PPL 2015




Nos dias 1º e 2 de dezembro deste ano foi aplicada a edição 2015 do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) PPL (pessoas privadas de liberdade) cujo público alvo são os menores infratores apreendidos em unidades socioeducativas e os maiores presos em unidades prisionais; além deles, os candidatos que não puderam participar do Enem 2015 no mês de outubro devido a cancelamentos, como em algumas cidades que, na ocasião, enfrentavam enchentes, também fizeram esta versão do exame.
O tema da redação do Enem PPL 2015 foi “O histórico desafio de se valorizar o professor” e a proposta contou com quatro textos motivadores em sua coletânea.
primeiro texto motivador é um adaptação de Almeida (1998) e retoma um pouco da história da profissão docente, pois afirma que, antigamente, ser professor, tanto para homens quanto para mulheres, era algo valorizado pela sociedade brasileira. Para as moças, inclusive, era quase que um destino certo profissionalmente falando, já que a figura feminina sempre esteve atrelada ao cuidar e o magistério era tido como um mercado de trabalho honesto e ideal. Obviamente, apesar de não ser o foco do tema da redação do Enem PPL 2015, podemos analisar essa questão pela ótica do machismo, o qual direcionava as mulheres a determinadas profissões.
Almeida (1998), além de relembrar o prestígio que os professores tinham, ressalta que este advém, desde aquela época, do saber e do conhecimento e não do reconhecimento salarial e mercadológico, já que “estes detinham um prestígio social que estava em claro desacordo com a remuneração salarial”.
Este primeiro texto motivador situou historicamente o candidato ao Enem PPL 2015 em relação à profissão docente e tem como objetivo gerar duas reflexões que podem ser desenvolvidas na redação, já que tem tudo a ver com o “histórico desafio” do tema da redação:
  1. Por que, ao longo do tempo, a figura do professor perdeu o prestígio social e, assim, foi desvalorizada?
  2. Por que, desde antigamente, o professor não é valorizado em relação a remuneração salarial?
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Para responder a primeira pergunta, o candidato deveria levar em consideração a mudança pela qual a sociedade brasileira passou ao longo dos anos; será que a escola acompanhou essas transformações sociais, morais, tecnológicas etc? O filósofo e professor Mário Sérgio Cortella sempre diz que “a escola é do século XIX, o professor do século XX e o aluno do século XXI”, o que é uma realidade, mas esta justifica a desvalorização docente? É óbvio que não.
Com toda a certeza houve uma espécie de inversão de valores na qual os alunos não respeitam mais os professores como antigamente e, não só eles, mas também seus pais, responsáveis e toda a sociedade, chegando aos governos municipais, estaduais e federal visto às condições precárias de trabalho nas redes públicas de ensino. Neste contexto, a rede privada não é inocente, já que muitas escolas particulares não remuneram seus professores como poderiam.
Já para responder a segunda pergunta, o candidato ao Enem PPL 2015 deveria refletir sobre os motivos que levaram a essa histórica desvalorização salarial e formular hipóteses a esse respeito, já que essa questão está relacionada ao investimento que o Brasil fez e faz na educação. Em países nos quais os indicadores da qualidade de ensino são altos, como Finlândia e Coreia do Sul, por exemplo, os salários dos professores de lá são muito superiores ao salários dos docentes brasileiros, assim como os investimentos em educação. Além disso, nesses países, os melhores alunos são motivados e incentivados a irem para cursos de licenciatura, ao contrário do que ocorre no Brasil, onde há, inclusive, falta de professores, principalmente de matérias exatas.
segundo texto motivador é uma peça publicitária do Sindicato dos Professores do Rio Grande do Sul na qual a figura docente é relacionada à figura do mágico, afirmando que, na verdade, não há nenhuma mágica e sim trabalho. Pensamos ser este texto um pouco contraditório no contexto da proposta e em relação ao primeiro texto motivador, pois pode levar o candidato a pensar que não adianta nada reajustar o salário do professor, pois este aumento seria uma mágica que nada adiantaria. Temos em mente que, realmente, apenas um reajuste salarial não resolve todos os problemas do professor, mas é um grande e importante passo que deve vir acompanhado com melhora na infraestrutura física das escolas, com sólidos planos de carreira, com outros benefícios como lecionar em escolas próximas com materiais didáticos de qualidade etc.
terceiro texto fonte, por sua vez, é um adaptação de Nóvoa (1995) no qual as questões sociais e salariais são novamente interligadas, já que ambas, segundo o texto, estão passando por um processo de degradação, mas, apesar disso, a profissão ainda revela facetas atrativas, as quais não são mencionadas, mas poderiam ser levantadas pelo candidato. Para Nóvoa (1995), a perda de prestígio da profissão está atrelada à mudança no papel social do professor, já que este deixou de ser a única fonte de conhecimento e o único agente cultural ao qual o aluno tem acesso.
Assim sendo, o terceiro texto fonte nos faz refletir sobre como podemos valorizar o professor neste contexto no qual a internet, as redes sociais, a televisão e os demais meios de comunicação nos inundam com informações 24 horas por dia. Como deve ser o professor do século XXI?
quarto e último texto motivador, finalmente, é outra peça publicitária que visa comemorar o dia do professor – 15 de outubro – e, possivelmente, assim como toda a proposta, levou o candidato ao Enem PPL 2015 a lembrar-se dos professores que passaram pela sua vida escolar.
Portanto, o conjunto da proposta de redação do Enem PPL 2015 contextualizou historicamente o candidato e proporcionou reflexões sobre a desvalorização profissional que assola o professor no passado e no presente a fim de ele também refletir sobre como evitá-la no futuro. Como podemos vencer esse desafio a fim de valorizarmos este profissional tão importante e fundamental na nossa sociedade? Era isso que o candidato deveria responder.

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