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14 de maio de 2018

REDUNDÂNCIA


Existem construções redundantes (ou pleonasmos) bastante claros no idioma, sobre os quais as recomendações e avisos são frequentes. Entre eles, temos “sair para fora”, “entrar para dentro”, “subir para cima”, “descer para baixo” e mais uns tantos que, de tanta recomendação, já se tornaram pouco frequentes (para felicidade dos gramáticos).
Há, porém, alguns mais sutis, menos ‘gritantes’ ou menos óbvios, que podem escapar mesmo ao redator atento, pois dependem, por exemplo, de um conhecimento de mundo mais específico. Entre estes encontramos ‘general do Exército’ (é preciso saber como se compõe a hierarquia militar das três Forças, para saber que o equivalente na Marinha é almirante e na Aeronáutica é brigadeiro) ou ainda ‘outra alternativa’, já que a origem da redundância está no radical latino ‘alter’ que significa ‘outro(a)’.
Mas o caso a que se refere o título do artigo de hoje é o da repetição desnecessária de conjunções. Algumas vezes o emissor, por distração, com intenção de reforçar uma ideia ou por desconhecimento do real valor semântico de determinadas conjunções, acaba usando-as redundantemente.
Aparecem, tanto na fala, como na escrita, as sequências “se caso” ou “mas porém” com certa frequência, tolerável numa conversa informal, entre falantes com pouco domínio da norma, na qual a comunicação de ideias seja o mais importante, mas grave nos textos formais e, principalmente, nas redações.
Rita Lee, na música “Saúde”, cria uma sequência de palavras que indicam oposição de ideias (o termo ‘apesar’ faz parte da locução conjuntiva ‘apesar de que” com valor concessivo e as palavras seguintes são conjunções adversativas) para reforçar a ideia de que tudo está bem, mesmo com fatores adversos. Esse é um emprego intencional, em que a compositora lança mão da licença poética para fazer as repetições:
(…) Como vai? Tudo bem
Apesar, contudo, todavia, mas, porém
As águas vão rolar
Não vou chorar (…)
Já o caso do ‘se caso’ parece que se fundamenta numa confusão de sonoridade. Lupicínio Rodrigues emprega corretamente a conjunção ‘se’, na canção abaixo:
Se acaso você chegasse
No meu “chateau” e encontrasse aquela mulher
Que você gostou
Será que tinha coragem
De trocar nossa amizade
Por ela que já te abandonou (…)”
Nos versos acima, o compositor empregou o advérbio de dúvida “acaso”, o qual por acaso, soa semelhante à conjunção condicional ‘caso’.
Esse emprego pode ser a origem do uso equivocado da sequência de condicionais ‘se caso’. A questão é que essas duas conjunções, além de formarem um pleonasmo quando empregadas juntas, pedem cada qual um verbo conjugado em tempos diferentes. Com a conjunção ‘se’, o verbo deve estar no futuro do subjuntivo:
  • Se eu fizer uma boa redação, aumentarei minhas chances de ser aprovado.
  • Caso eu faça uma boa redação, aumentarei minhas chances de ser aprovado.
Desse modo, além da questão da redundância, teremos também uma incompatibilidade entre a conjunção e a forma verbal, se as duas forem empregadas na sequência.
Daí… “se caso, não fico solteira” – onde ‘caso’ é o verbo ‘casar’ no presente, é a única maneira de empregar essas duas palavras numa mesma frase.

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