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24 de junho de 2010

Vuvuzela, grito negro de liberdade

“Eu sou o mestre do meu destino.
Eu sou o comandante da minha alma.”

Nelson Mandela

As polêmicas vuvuzelas, cornetas sul-africanas, causam diversas manifestações. Muito se tem escrito a respeito. Mas a maioria se posiciona de forma contrária, e pronto. Raros partem a aprofundar o respeito à cultura de um povo.

Um pouco de pesquisa e conhecimento não faz mal a ninguém. Mas o que é a vuvuzela? Isizulu é uma das 11 línguas faladas na África do Sul. Nela, encontramos a tradução de “vuvuzela”, que tem na raiz “vuvu” o significado de soprar, enquanto o sufixo “zela” é o objeto comprido, longo.

Os reclamos partiram das grandes redes de televisão europeias. Como sempre por aqui, apenas começaram a repercutir e ampliar o assunto. Aliás, nosso país sempre importou cultura europeia, desdenhando o que vinha naturalmente do nosso povo, como por exemplo o Carnaval. Júlio de Castilhos chegou a acabar com as cavalhadas porque estas vinham do povo. O que é popular não é cultura, defendem os que têm visão à altura da soleira da porta.

Voltando às vuvuzelas, o Comitê Organizador da Copa do Mundo, frente aos reclamos das emissoras de televisão e rádio, reuniu-se, estudou o assunto e bem decidiu pela manutenção: “Elas têm origem nas cornetas que nossos ancestrais usavam para convocar reuniões”. Logo, é preciso respeito à cultura de um povo, cujo líder, Nelson Mandela, passou 20 anos preso para garantir a liberdade do seu povo, por exemplo. Gente que foi assassinada, estuprada, trucidada, escravizada e espoliada.

O berço da humanidade, está comprovado, tem origem no continente africano, onde sua gente, apesar de tudo, é alegre, dançante e parece perdoar seus algozes em uma atitude de grandeza e amor ao próximo.

Um repórter brasileiro, ouvindo uma moça negra em Joanesburgo, perguntou o que significava para ela a realização da Copa do Mundo de Futebol em seu país. A resposta veio rápida, mas profunda em emoção que resume tudo:

– Me sinto em liberdade!

Ora, bem sabemos que o apartheid, tanto quanto a abolição da escravatura entre nós, acabou de direito, mas não de fato. A verdadeira liberdade ainda precisa ser palmilhada com extremo cuidado. Vejam aqui o Estatuto da Igualdade Racial, aprovado, mas... sem as cotas.

Tentar calar as vuvuzelas é atentar contra a cultura de um povo. É amordaçar o grito negro de liberdade.

Fonte: Zero Hora

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