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21 de maio de 2011

Leitura , Gurizada

Quando vocês , caros amigos, estiverem lendo esta coluna, tenho quase certeza - a julgar pelas declarações em off de assessores do Piratini - de que a malparida lei contra estrangeirismos já terá sido vetada pelo governador Tarso Genro, que não parece disposto a endossar este disparate legislativo. Ora, mesmo que o dragão tenha morrido sob o peso de seus próprios defeitos, vou manter minha promessa e mostrar por que considero autoritário este projeto, esperando que isso sirva de vacina para nos imunizar, por muitos tempo, contra aventuras semelhantes.
Em primeiro lugar, todo purismo tem cunho fascista. Quando falam numa língua pura ( quem conhece a história de qualquer  língua ocidental sabe  que isso é uma alucinação), eu saco logo meu revólver ou o talão de cheques - tanto faz, pois ambos vieram do Inglês, revólver e check. É assim que as coisas começam: apontar estrangeirismos, limpar, expurgar - tudo isso em nome de uma pureza linguística; depois vem a limpeza étnica; depois, a ideológica. Nós já vimos esse filme.
A ideia de banir os elementos estrangeiros da linguagem sempre foi muito popular em regimes totalitários, tanto da direita quanto da esquerda. Estados fortes tentam regular até a maneira de seus súditos se expressarem. Na Itália de Mussolini a Academia desencadeou uma campanha purificadora do italiano, publicando listas periódicas dos vocábulos que deveriam ser banidos. A Espanha  assistiu a movimentos idênticos. Na França dos anos 1990, ( para minha decepção), surgiu a Lei Tourbon, logo associada a Le Pen e à direita furiosa. Na Alemanha corre um movimento contra o que  eles chamam exageradamente de Denglish ( mistura de Deutsh com English), apoiada pelos velhos partidártios do nacionalismo - e tanto o Irã de Ahmadinejad quanto a China do capitalismo sem sindicatos lançaram ofensivas semelhantes.
Em segundo lugar ninguém tem o direito de se arvorar em juiz dos seus semelhantes. Muitas das pessoas com quem conversei, embora considerem normal que usemos vocábulos estrangeiros para suprir as lacunas do nosso léxico, condenam aqueles que o empregam por pura moda ou exibicionismo. " Mas senhor, não acha ridículo usar sale em vez de liquidação?" Pergunta uma leitora, num tom de voz que chega a sugerir que ela está perdendo a paciência comigo. Acho madame - assim como acho ridículo organizar uma festa caríssima para comemorar o aniversário do cachorro ou escolher a data da cesariana para  que o nenê nasça dentro do signo certo. Acho errado, ridículo e muito mais, mas os outros nada têm a ver com a minha opinião. 
Falemos francamente: o alvo dessa celeuma toda não é qualquer vocábulo vindo do exterior: os que vêm  do francês, do italiano, do espanhol, do russo ou das línguas da Ásia não chamam a atenção e não dão brotoeja. O que nos incomoda são os que vêm do inglês. Falando mais francamente, são os que representam a sufocante influência dos Estados Unidos nos mais ínfimos recônditos de nossa vida. Pois, saiba que trocar um vocábulo inglês  por seu equivalente nacional em nada mais vai reduzir o imperialismo cultural a que estamos submetidos. Chamar o Halloween de Festa das bruxas ou Bailanta do Bruxaredo, para quem prefere uma dicção mais gaudéria, não vai diminuir o mal-estar que sinto diante da adesão cada vez maior de nossas crianças a esta festa completamente exótica à nossa cultura. que nem mesmo tem o atenuante de incluir, entre suas figuras, o Saci, o Boitatá, o Curupira e a Mula- sem - cabeça. 
Por trás dessa preocupação em banir os estrangeirismos encontramos o mesmo fundamento em que se baseiam os defensores do politicamente correto: a ingênua crença de que podemos mudar a realidade se mudarmos a linguagem - quando a experiência e a ciência nos ensinam que o vento sopra exatamente em sentido contrário. O certo é: " Liberte sua mente, que o resto vem atrás ( inclusive a linguagem)", e não "Liberte sua linguagem , que a mente vem atrás" ( não é por acaso que o lema daquela campanha anti- homofóbica dos EUA era "Free your mind and your ass will follow", e não  o contrário como alguns marotos sugeriram - e só não traduzo porque pode haver crianças na sala.  
Em outras palavras, essa lei, se fosse aplicada, não cumpriria o objetivo que orientou sua concepção. Que o vocabulário da informática venha todo em inglês  não é o verdadeiro problema, mas sim, que toda informática nos torne dependentes da tecnologia americana - e trocar mouse  por ratón, como fazem os argentinos, não é motivo para orgulho nacional, se continuarmos a utilizar esse dispositivo para navegar nas ondas do Windows da Microsft Corporation.
Claudio Moreno - cmoreno@terra.com.br - Fonte Zero Hora
Qual sua opinião a respeito da exclusão dos estrangeirismos de nossa língua ? Opine em 25 a 30 linhas de forma convincente. Dê um título ao seu texto.

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