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26 de maio de 2013

Para refletir

No meio da tragédia do Haiti, que comove até os mais calejados repórteres de guerra, levo um choque nacional. Não são horrores, como os de lá, mas não deixa de ser um drama moral. O relatório Educação para Todos da UNESCO,  pôs o Brasil em 88 na posição do ranking de desenvolvimento educacional. Estamos atrás dos países mais pobres da América Latina, como o Paraguai, o Equador e a Bolívia. Parece que em alfabetizar somos até bons, porém depois a coisa degringola: a repetição média na América Latina e no Caribe é um pouco mais do que 4%. No Brasil, é de 19%.
No clima de ufanismo que anda reinando  por aqui, talvez  seja bom acalmar-se e parar para refletir, pois se nossa economia não ficou arruinada, a verdade é que nossa crianças brincam na lama do esgoto, nossas famílias são soterradas em casas cuja segurança ninguém controla, nossos jovens são assassinados nas esquinas, em favelas ou em condomínios de luxo, somos reféns da bandidagem geral e os velhos morrem no chão dos hospitais públicos. Nossos políticos continuam numa queda  de braço para ver quem é mais impune dos corruptos, a linguagem e a postura das campanhas eleitorais se delineiam nada elegantes, e agora está provado o que a gente já imaginava: somos péssimos em educação.
Pergunta básica: quanto de nosso orçamento vai para a educação e cultura? Quanto interesse temos num povo educado, isto é, consciente e informado - não só de seus deveres e direitos, mas dos deveres dos homens públicos e do que poderia facilmente ser muito melhor neste país, que não é só de sabiás e palmeiras, mas de esforço, luta, sofrimento e desilusão?
Precisamos muito de crianças que saibam ler e escrever no fim da primeira série; jovens que consigam raciocinar e tenham o hábito de ler pelo menos jornal no segundo grau; universitários que possam se expressar falando e escrevendo, em lugar de, às vezes, com beneplácito dos professores, copiar trabalhos da internet. Qualidade e liberdade de expressão também são pilares da democracia. Só com empenho dos governos, com exigências e rigor razoáveis das escolas - o que significa respeito ao estudante, à família e ao professor - teremos profissionais de primeira em todas as áreas, de técnicos, pesquisadores, jornalistas, médicos e operários.  Por que nos contentarmos com o pior, o medíocre, se podemos ter o melhor que e não nos falta o recurso humano para isso? Quando empregarmos em educação uma boa parte de nossos recursos, com professores valorizados, os alunos vendo que suas ações têm consequências, como a aprovação - palavra que  assusta alguns modernistas pedagogos, palavra que em algumas escolas nem deve ser usada, quando o que prejudica não é o termo, mas a negligência. Tantos são os jeitos e os recursos favorecendo o aluno preguiçoso que alguns casos chegam a ser bizarros; reprovação, só com muito esforço. Trabalho ou relaxamento tem o mesmo valor e recompensa.
Sou de uma família de professores universitários. Exerci o duro ofício durante 10 anos, no qual me apaixonei por lidar com alunos, mas já questionava o nível de exigência que podia lhes fazer. Isso faz algumas décadas; quando éramos ingênuos, e não antecipávamos ter  o nosso país entre os piores em educação. Quando os alunos não usavam celular  ou iPhone na sala de aula, não conversavam pela internet - o que hoje começa a ser considerado normal. Em suma, quando escola e universidade eram lugares de compostura, trabalho e  aprendizado. O relaxamento não é geral, porém preocupa quem deseja o melhor para esta terra.
Há gente que acha tudo ótimo como está; os que reclamam é que estão fora de moda ou de realidade. Preparar para as lidas da vida real seria incutir nos jovens uma resignação de usuários do SUS, ou deixar a meninada aproveitar a vida; alguém pode me explicar o que seria isso??????

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