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17 de abril de 2014

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Como o cinquentenário do golpe pode virar pergunta nas provas da UFRGS e no Enem

Professores história, geografia, filosofia, literatura e redação indicam possíveis abordagens sobre a deposição de Jango

Seguindo um modelo diferente, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) também listou como conteúdos, no edital do ano passado, as ditaduras políticas na América Latina, o Estado Novo, a luta pela conquista de direitos civis, humanos, políticos e sociais, sem qualquer referência a "golpe". Além disso, a matriz de referência da prova de Ciências Humanas e suas Tecnologias estabelece algumas competências que podem ser ligadas ao tema, como "analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder" e "analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas".
Mas tem um porém nisso tudo: o aniversário do golpe e a importância do fato para o Brasil rendem tanto pano para tanta manga que podem levar o tema para além das provas de história ou ciências humanas. O cinquentenário pode motivar uma questão em uma prova de literatura ou geografia. Pode suscitar um tema de redação ou, ainda, estar relacionado a assuntos de sociologia ou filosofia — e o Enem adora um assunto interdisciplinar.
— Há diversos pontos que podem ser explorados. Um deles é a volta do discurso de direita. As pessoas perderam a vergonha de defender publicamente teses de direita. Pode-se fazer um link com democracia, liberdade de pensamento, voto universal — cogita o professor de filosofia do Grupo Unificado Marco Jordão.
Dizer que o golpe será o tema da prova de redação da UFRGS ou do Enem é dar um tiro na lua — até porque é mais provável que os avaliadores não tentem ir além da manobra dos militares, tirando a discussão do nível "sou contra" ou "sou a favor". Uma dissertação é uma reflexão a respeito de um fato ou mesmo de um comportamento, lembra a professora de redação do Unificado Luisa Canella.
— É interessante pensar em qual seria a pergunta que motivaria o texto. A prova pode abordar o significado do golpe, além do óbvio da ditadura, tratar da falta de liberdade de expressão, comparar a juventude da época com a que saiu às ruas no ano passado, ou mesmo abrir para questões filosóficas — sugere Luisa.
Te liga nisso: embasar o ponto de vista
No manual do vestibular da UFRGS de 2014, as orientações sobre a redação priorizam aspectos linguísticos, como estrutura do texto, adequação de linguagem, abordagem do tema e ponto de vista defendido. No Enem, há um ponto que merece atenção: uma das competências é "elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos".
— O Enem foca em dois assuntos transdisciplinares: ética e direitos humanos. Quem quiser colocar uma opinião mais polêmica precisaria de um discurso muito bem estruturado, mas não há espaço para rever muitas questões na redação — explica o professor Marco Jordão.
> Na literatura e na cultura
A ditadura teve forte impacto na produção artística brasileira em razão da censura e de outras privações. O professor de literatura do Unificado Pedro Gonzaga diz não ter dúvida de que o golpe será um tema abordado na prova de literatura da UFRGS e na de linguagens do Enem.
— É provável que as produções culturais, em especial a partir do AI-5, estejam presentes. Imagens como a do jornalista Vladmir Herzog (morto por militares que forjaram seu suicídio) também têm bastante chance de serem lembradas. Chico Buarque e outros artistas que usaram sua arte como forma de protesto devem ser considerados.
O disco Tropicália ou Panis et Circensis"leitura obrigatória" da UFRGS é um marco cultural na luta contra o regime militar.
> Marchas pelo Brasil
Recentemente, algumas pessoas que defendiam uma "intervenção militar" no país tentaram reeditar a Marcha da Família com Deus pela Liberdade. O professor Alexander Magnus destaca duas marchas dos anos 1960 que podem aparecer separadas ou no mesmo teste:
— A primeira manifestação apoia a intervenção militar e ocorre às vésperas do golpe na cidade de São Paulo e fica conhecida como Marcha da Família com Deus pela Liberdade. Já durante a fase do marechal Artur da Costa e Silva, ocorre a Marcha dos Cem Mil, em junho de 1968, na cidade do Rio de Janeiro. O estopim para a manifestação na capital carioca é o assassinato do estudante Edson Luis, ocorrido em março daquele ano.
> Discursos pró-EUA e pró-Rússia
Na época do golpe, havia dois discursos antagônicos no Brasil: um que defendia o liberalismo dos Estados Unidos e outro que propunha o comunismo da Rússia. A crise na Crimeia trouxe de volta esses discursos da Guerra Fria. Seria possível propor uma questão que relacionasse o que se dizia naquela época com o que se diz hoje, afirma o professor Marco Jordão:
— Nos anos 1960, havia a União Soviética de um lado e os Estados Unidos de outro, o comunismo contra o capitalismo. Hoje, não é bem isso. Temos o discurso liberal dos americanos, mas o discurso russo agora é nacionalista. O golpe de 1964 poderia render uma questão sobre o nacionalismo no Brasil, que foi uma marca dos governos militares.
> Atos Institucionais
Professor do Colégio La Salle Santo Antônio e do curso GruposdeHistória.com, Alexander Magnus ressalta a frequência com que os Atos Institucionais (AIs) aparecem no Enem e nas provas das federais, mas ressalva:
— O primeiro AI define eleições indiretas para presidente e não determina o fechamento do Congresso Nacional. O fechamento ocorre somente entre o AI-3, que estabelece eleições indiretas para governadores e prefeitos, e o AI-4, decreto responsável pela aprovação da Constituição de 1967. O AI-5, igualmente comum em provas, decreta o fechamento do Congresso e a suspensão do habeas corpus.
> Comissão Nacional da Verdade
Criada para apurar violações dos Direitos Humanos de 1946 a 1988, sobretudo as praticadas por agentes do Estado, a Comissão Nacional da Verdade (CNV) está intimamente ligada à ditadura. Com as investigações, alguns fatos vêm sendo reescritos:
— Uma das principais ações realizadas foi a constatação de que o ex-presidente Juscelino Kubitschek sofreu um atentado político, contrariando a versão de que havia morrido em um acidente de carro, em uma investigação conduzida pela Comissão da Verdade de São Paulo. Outro fato importante é a exumação do corpo do presidente deposto João Goulart, pela suspeita de envenenamento. O ex-presidente teve, décadas após sua morte, direito a funeral como chefe de estado. A CNV de São Paulo também promoveu a mudança no laudo de morte de Vladimir Herzog para homicídio, após investigação a pedido da família — salienta o professor de geografia César Martinez.
> Pátria de chuteiras
Outro tema do momento, a Copa do Mundo pode aparecer numa questão de cunho político-social.
— Na copa do México, em 1970, em que o Brasil conquista o tricampeonato, a ditadura se aproveita do evento para difundir o ufanismo. Frases como "Ninguém segura este país", "Ame-o ou deixe-o" e "Pra frente Brasil" delinearam o período do general Emílio Garrastazu Médici. Contudo, é importante destacar que, nesta mesma época, ocorrem os assassinatos dos líderes Carlos Marighella e Carlos Lamarca, fatos que podem surgir nas provas — aponta o professor Alexander Magnus
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