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4 de novembro de 2018

COMENTÁRIOS SOBRE O TEMA DE REDAÇÃO ENEM 2018

Como o controle de dados influencia o comportamento dos usuários na internet? Esse foi o tema da redação no Enem 2018, anunciado neste domingo (4) pelo Inep. "É um tema extremamente relevante, principalmente para o público do Enem — jovens que vão para a universidade buscar conhecimento. Se eles não têm noção de como a ferramenta que eles usam determina o que eles vão ver, podem estudar e ver as coisas de uma forma tendenciosa", afirma Altieres Rohr, colunista do G1 em tecnologia.
Para Rohr, um dos pontos mais importantes a serem explorados é que não se sabe, exatamente, como os algoritmos de sites como Facebook, Twitter e Instagram funcionam. "Você não sabe como as suas ações influenciam no algoritmo. Às vezes você entra numa discussão acalorada sobre um tema, nunca mais quer ouvir falar dele, mas o Facebook interpreta o envolvimento como interesse", pondera.
"Às vezes, não é sequer possível saber que o algoritmo está em ação, e não está claro se é possível desativá-lo de alguma forma", lembra. Em redes sociais com a chamada 'linha do tempo', explica Rohr, "ela já foi decidida por você. Não funciona mais em ordem cronológica".
Esses algoritmos, explica Rohr, também funcionam para que as pessoas se mantenham em bolhas de posições políticas — embora o próprio especialista afirme que o Facebook vem tentando combater essa tendência. "Se você tem dez pessoas que concordam com você e uma que não concorda, ele vai dar um peso maior para aquela que não concorda para balancear um pouco. Antigamente realmente não aparecia ninguém, era aquela câmara de eco", diz.
O efeito também se espalha para além das redes sociais, afirma o colunista. "Se você usa Android, tem um menu de notícias que o Google separa onde você pode delimitar os assuntos que te interessam. Se você vive visitando sistes de fofocas sobre artistas, vai ver um monte de notícias sobre isso. Se lê mais sobre política, vai ler mais sobre política. Não é só a bolha, entra também a alienação, porque você só lê sobre o mesmo assunto", explica.
Para a professora Ana Erthal, da ESPM Rio, o filtro limita as escolhas das pessoas a ponto de elas não perceberem que existem outras possibilidades além daquelas que aparecem no resultado de buscas do Google, por exemplo. "Você passa a achar que aquilo é normal. Se eu só vi um micro-ondas de 400 reais, por exemplo, é porque o de 900 reais não existia. É o que a minha bolha fala", explica.
Para Camilo Aggio, professor de Comunicação da Universidade Federal de Minas Gerais, é preciso ter cuidado, no entanto, com a ideia de que as pessoas são manipuladas a se comportarem desta ou daquela maneira — inclusive em posições políticas.
"É sempre prudente que a gente desconfie antes de se entregar a uma ideia de que as pessoas estão sendo manipuladas, conduzidas. Hoje, a gente está falando de algoritmos, de social media de um modo geral, mas por muito tempo foi a mídia. Será que os algoritmos não são a nova versão dessa tese antiga de que a mídia seria o grande agente manipulador e maléfico? Eu acho que a gente precisa ter cautela em usar essa expressão 'controle', porque advém de uma grande falácia que por um tempo predominou nas teorias da comunicação — que já está superada há quase um século — , que é a ideia de que existe uma massa amorfa de pessoas manipuláveis, completamente suscetíveis", alerta.

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