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12 de novembro de 2018

ORTOGRAFIA


Há quem diga que o português é uma das línguas mais difíceis do mundo. Bem, não conheço todas as línguas, aliás, conheço bem poucas para me atrever a fazer uma afirmação abrangente assim ou para negá-la. Mas posso afirmar que, por ter elementos tão diversificados na sua origem e formação, ela tem peculiaridades muito interessantes.
“Última flor do Lácio, inculta e bela” é como se refere Olavo Bilac à língua portuguesa, remontando às origens em Roma. Criando um contraponto interessante, para Tom Zé, ela chama a atenção por ser “Visigoda e celta,
Dama culta e bela’, numa alusão às contribuições que esses povos deram ao Latim que chegara à Península Ibérica por volta do século III a. C.
Todas essas contribuições muitas vezes ficam registradas na ortografia, que, no nosso idioma, é baseada em critérios etimológicos (referentes à origem dos vocábulos) e fonológicos (ligados aos fonemas, aos sons representados pelas letras).  Assim, saber a origem das palavras pode ajudar a escrevê-las corretamente, mas nem sempre é possível obter facilmente essa informação. Dessa forma, a prática da leitura de bons textos e a consulta a dicionários é o que geralmente facilita a vida dos usuários do idioma.
Como a língua é um ‘organismo’ vivo, com o passar do tempo vai havendo evolução, já que os falantes vão imprimindo alterações nas palavras, quer por dificuldade em pronunciar a forma considerada correta pela norma culta, quer por abreviar ou por suprimir letras ou sílabas para tornar a comunicação mais ‘dinâmica’. Assim, a língua vai sofrendo alterações que, por vezes, têm como resultado formas coincidentes ou muito parecidas, porém com significados diferentes.
Os homônimos, os parônimos e as palavras polissêmicas são alguns dos exemplos dessas convergências de formas. A homonímia diz respeito às palavras que têm a grafia, a pronúncia, ou ambas, coincidentes (sessão, seção e cessão, por exemplo). Já a polissemia é a característica de um mesmo vocábulo apresentar diferentes significados e o contexto se encarregará de deixar claro para o leitor qual deles é o adequado. O Enem já explorou a polissemia em diversas questões, como em 2012.

É a paronímia, no entanto, que costuma tirar o sono de quem presta concursos, pois uma pequena alteração muda completamente o significado da palavra. Vejamos alguns exemplos:
absolver (perdoar, inocentar)absorver (aspirar, sorver)
comprimento (extensão)cumprimento (saudação)
delatar (denunciar)dilatar (alargar)
descrição (ato de descrever)discrição (reserva, prudência)
descriminar (tirar a culpa)discriminar (distinguir)
emigrar (deixar um país)imigrar (entrar num país)
eminente (elevado)iminente (prestes a ocorrer)
flagrante (evidente)fragrante (perfumado)
fluir (escorrer)fruir (desfrutar, tirar proveito)
fusível (aquilo que funde)fuzil (arma de fogo)
infligir (aplicar pena)infringir (violar, desrespeitar)
lactante (que produz leite)lactente (criança que ainda mama)
mandado (ordem judicial)mandato (procuração)
preceder (vir antes) proceder (VTI = dar início; VI = ter origem)proceder (VTI = dar início; VI = ter origem)
ratificar (confirmar)retificar (corrigir)
soar (produzir som)suar (transpirar)
tráfego (trânsito)tráfico (comércio ilegal)
A lista acima não esgota os casos de paronímia, portanto quanto mais nos dedicarmos à leitura atenta de bons textos e à consulta de dicionários sempre que encontrarmos termos desconhecidos, menos dúvidas vamos ter ao interpretar textos ou ao escrever. Para muitos pode não parecer tarefa fácil, mas certamente será gratificante ver as dúvidas e os deslizes de ortografia diminuindo.

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