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16 de agosto de 2013

Vamos tecer com palavras

Nos últimos anos, evocar a imagem de escolas violentas tem-se tornado clichê entre educadores, principalmente nos grandes centros urbanos. Essa imagem inquietante é fortalecida sempre que ocorrem episódios truculentos associados a alunos e professores. E o que era apenas exceção parece tornar-se regra.
Quase instantaneamente, fixa-se no imaginário mais um motivo enganoso para que a educação seja tomada como uma profissão prejudicada pelo social,  uma profissão quixotesca, à beira do impossível. A violência urbana é, de fato um grave problema. Em algumas regiões, a incidência de atos violentos extremos é maior até que no Oriente Médio ou na África, onde há guerra civil aberta. Então alardeamos que nossas escolas estão sendo invadidas pela brutalidade no contexto social. Isso é verdade apenas em parte. Primeiro vale lembrar o óbvio: nas escolas, há muito menos violência do que no âmbito geral da sociedade. Depois que o cotidiano escolar não se incorpora às ameaças de seu exterior como produz ele mesmo conflitos, embates e exclusões.
Por isso, a escola não pode ser pensada como refém  de um retorno hostil ou de outras instituições violentas. Se lá acontecem situações perigosas é porque elas são, em alguma medida, potencializadas pelas relações lá existentes. Há violência quando alguém, por vontade própria, causa danos à dignidade de outras pessoas. Isso pode ser feito de maneira explícita, quando afrontamos sua integridade física ou seus bens materiais. ou de maneira simbólica, como quando afrontamos sua integridade  moral ou sua participação social. Contra a primeira temos o direito. Contra a segunda, apenas a ética democrática.
O debate sobre violência escolar deve levar todos profissionais da educação a abdicar do hábito de se postarem como vítimas de uma "sociedade inadequada", e a atentar para uma escola verdadeiramente inclusiva. Estamos sendo violentos, da mesma forma, se desconfiamos de suas potencialidades, recusando-nos a oferecer o que lhes é de direito, quando aligeiramos os conteúdos por não crer que eles farão diferença na vida daquelas pessoas, ao colocar sua autoestima com um diagnóstico malicioso estamos sendo violentos. Dessa forma, o espaço escolar deve ser repensado. Às vezes somos o  exemplo daquilo que não achamos violência quando, na verdade, agredimos o emocional, algo danoso e dolorido. Repensar valores? Isso sim.

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