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10 de dezembro de 2017

ECONOMIA LINGUÍSTICA


No artigo anterior mencionei as alterações que os falantes vão incorporando ao idioma e apresentei a aglutinação, resultado da ‘economia linguística’ somada à ‘pressa’ dos falantes. Não lembra?  Hoje trataremos da economia resultante de uma certa… preguicinha!
Trata-se da abreviação (ou redução), que não deve ser confundida com as siglas. Enquanto as siglas são a combinação das iniciais de uma expressão (que podem ser lidas com o nome de cada letra, como FMI, ou podem formar sílabas e palavras, como ENEM ou FUVEST), a abreviação é uma ‘poda’ que se faz em palavras que originalmente são muito longas.
Há inúmeros casos já consagrados pela gramática tradicional:
Cinema, cine < cinematógrafo
  • Extra < extraordinário
  • Foto < fotografia
  • Moto< motocicleta
  • Pneu < pneumático
  • Pornô < pornográfico
  • Quilo < quilograma

Mas as pessoas são inventivas e já há outros vocábulos de uso corrente na fila para entrar na norma culta, como os que aparecem na música “Não Enche”, de Caetano Veloso (não dos seus trabalhos mais delicados e líricos hehe):
(…) Me larga, não enche
Você não entende nada e eu não vou te fazer entender (…)
Vagaba, vampira
O velho esquema desmorona desta vez pra valer
Tarada, mesquinha
Pensa que é a dona e eu lhe pergunto: quem lhe deu tanto axé?
À-toa, vadia
Começa uma outra história aqui na luz deste dia D:
Na boa, na minha
Eu vou viver dez
Eu vou viver cem
Eu vou viver mil
Eu vou viver sem você
Ou nesta, do ‘rapper’ Hungria:
(…)E agora são duas naves em Brasília City
5 mulher, eu e um parça, Deus nos dê limite
Bem equipado bolso cheio vão entrar em choque
Balde de gelo coconut, amarula, ciroc (…)
De brinde, temos metonímias no último verso transcrito, em que as marcas são empregadas para fazer referência às bebidas (Amarula é um licor e Ciroc é uma vodca – aliás, essa última palavra é um estrangeirismo já aportuguesado, grafado com ‘c’)
Vagaba, abreviação de vagabundo e parça, de parceiro, já são empregadas correntemente na linguagem coloquial, graças a essa ‘economia linguística’, tão característica da língua falada.
E assim a língua vai se transformando continuamente.

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