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28 de maio de 2015

Redação - ENEM


Há duas semanas atrás, nesta coluna, publiquei um texto com reflexões acerca da possibilidade do Exame Nacional do Ensino Médio – Enem – adotar os gêneros do discurso em suas propostas de redação e quais consequências essa mudança traria para o ensino de Língua Portuguesa no Brasil.
Infelizmente, essa ideia, penso eu, não passa pela cabeça da banca elaborada do exame e de seus responsáveis no Ministério da Educação e no Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), mas como afirmei no referido artigo opinativo, o resultado de uma prova como o Enem, de âmbito nacional, requerer em sua proposta de redação a escrita de uma dissertação-argumentativa é o de estimular e incentivar o ensino da produção textual por meio de treinos, quase exaustivos, de fórmulas prontas e receitas praticamente mágicas.
Como o texto argumentativo-dissertativo é um gênero tipicamente escolar, ao longo do tempo, ele foi sendo cada vez mais engessado, diferente dos gêneros do discurso que são relativamente estáveis justamente porque, sua produção e sua leitura, consideram a situação de comunicação na qual estão inseridos, levando em conta quem é seu autor, seu interlocutor, seus objetivos, em que suportes serão veiculados etc. A dissertação-argumentativa, por sua vez, foi engessada e esse processo gera fórmulas prontas, inflexíveis, de se escrever uma redação escolar.
Alunos dos ensinos Fundamental e Médio e candidatos aos vestibulares que possuem propostas de redação semelhantes as do Enem deparam-se com receitas mágicas de como desenvolver uma tese, de como introduzir um ponto de vista e o tema e, quando essas fórmulas dão errado, não sabem o que fazer. Eu mesma, como professora , em meus primeiros textos, orientei os leitores a fazerem o seguinte “esquema”:
estrutura redação
Eis um projeto típico de uma dissertação-argumentativa, o modo mais comum (e até clássico) de organizar as partes estruturantes desse tipo textual. As estratégias argumentativas, por sua vez, são recursos utilizados para desenvolver os argumentos, de modo a convencer o leitor, por exemplo:
  • exemplos;
  • dados estatísticos;
  • pesquisas;
  • fatos comprováveis;
  • citações ou depoimentos de pessoas especializadas no assunto;
  • alusões históricas; e
  • comparações entre fatos, situações, épocas ou lugares distintos.
Apesar de essa orientação conter, em um primeiro momento, uma organização montada, ela não determina qual tipo de argumento principal, quais argumentos secundários e quais estratégias argumentativas o candidato ao Enem, por exemplo, deve utilizar; algumas possibilidades são expostas, principalmente em relação às estratégias argumentativas, mas não existe a orientação de usar, sempre, uma ou outra como uma maneira inflexível de escrever uma dissertação-argumentativa.
Um exemplo de fórmula inflexível, para ficar mais claro, é formular o argumento principal por meio de uma inferência, os argumentos secundários por citação histórica e por citação de alguma autoridade no tema e concluir o texto. Recorrer, sempre, a citações históricas e de autoridade pode não ser eficaz em todas as propostas de redação, pois pode ser difícil dependendo do tema e, por isso, nunca especifiquei ou determinei quais tipos de argumentos devem ser usados.
Os candidatos ao Enem e aos demais vestibulares devem ter em mente que a abordagem e os tipos de argumentos, contra-argumentos e estratégias argumentativas dependem de cada tema e de cada proposta de redação. A atitude adequada, como autores, já que deverão escrever textos autônomos, é estudar e analisar cada tema, cada coletânea de textos motivadores ou textos fontes, cada recorte temático e refletir sobre o melhor modo de cumprir cada proposta de redação, deixando de lado fórmulas prontas ou receitas ditas mágicas.
Ser um autor com esse senso crítico e com essa independência de estilo é fundamental não só nos vestibulares, mas também nas esferas pessoal, acadêmica e profissional, nas quais escrevemos diversos gêneros, com os mais variados objetivos e para os mais diferentes interlocutores.

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