NO INICIO DO BLOG

13 de agosto de 2018

AH, A VOZ PASSIVA !!!!!

A internet propicia o acesso a muitas informações, com fundamento ou não, sérias ou com imagens recheadas de comicidade. Entre todo o material que recebo ou que acesso pela rede, sem dúvida não posso deixar de mencionar as placas com dizeres, digamos assim, com um emprego muito sui generis da Língua Portuguesa.
É o caso desta:
Do ponto de vista da comunicação, se o autor conseguiu compradores para a madeira, a língua cumpriu sua função, mas, do ponto de vista da norma culta, são necessários alguns ajustes para que a Gramática Normativa não seja desrespeitada.
Vamos às considerações:
Do ponto de vista ortográfico, podemos constatar que ocorreu uma redução do ditongo ‘eu’ para apenas ‘o’. Essa redução é um fenômeno comum nas línguas derivadas do Latim e já ocorria no Latim vulgar (a variante empregada pela camada da população que tinha pouca ou nenhuma educação formal), no Império Romano. Nos dias atuais, é comum ouvirmos ‘oro’ (ouro), ‘toro’ (touro), ‘quejo’ (queijo), ‘otoridade’ (autoridade), o que comprova a presença do fenômeno da redução ainda hoje. E no final da palavra, há troca do ‘o’ por ‘u’, também comum na língua falada.
Já do ponto de vista sintático, o desvio é mais comum e integra a lista de casos de concordância verbal dignos de atenção: a Voz Passiva Sintética. Há várias maneiras de apresentar a relação entre o sujeito e a ação expressa pelo verbo: a Voz Ativa (sujeito pratica a ação expressa pelo verbo); a Voz Passiva (sujeito recebe a ação); a Voz Reflexiva (sujeito pratica a ação e ele mesmo a recebe) e Voz Recíproca (há dois sujeitos e um pratica a ação sobre o outro e este a retribui ao primeiro).
A Voz Passiva tem uma outra característica: ela pode se apresentar na forma Analítica (o verbo da Voz Ativa transforma-se numa locução verbal, formado pelo verbo ‘ser’ no mesmo tempo e modo da Voz Ativa mais o verbo principal no particípio) ou pode se apresentar na forma Sintética, em que o verbo mantém a mesma conjugação da Voz Ativa, mas agora aparece acompanhado do pronome ‘SE’ (pronome apassivador) e concorda (no singular ou no plural) com o sujeito paciente, que aparecerá após o verbo. Nessa construção, o agente da passiva não aparecerá expresso na frase.
É exatamente essa alteração na ordem dos termos na frase que leva as pessoas a se equivocarem na concordância!
Vejamos como se dá essa transformação da Voz Ativa na Voz Passiva:
  • Apagaram a luz da sala. (Voz Ativa com sujeito indeterminado)
  • A luz da sala foi apagada. (Voz passiva Analítica, com sujeito ‘luz’)
  • Apagou-se a luz da sala. (Voz Passiva Sintética com sujeito ‘luz’)
Porém, se falarmos em ‘luzes’, teremos o seguinte:
  • Apagaram as luzes da sala. (Voz Ativa com sujeito indeterminado)
  • As luzes da sala foram apagadas. (Voz Pass. Analítica, com sujeito ‘luzes’)
  • Apagaram-se as luzes da sala. (Voz Passiva Sintética com sujeito ‘luzes’)
Observem que, semanticamente, não há mudança na informação da frase, mas o emprego da Voz Passiva Sintética é uma maneira eficiente de não identificar quem executa a ação, procedimento que pode ser útil, por exemplo, nas dissertações, em que é necessário empregar linguagem impessoal.
Voltando à placa lá do início, para obedecer à norma culta poderíamos ter:
“Vendem-se lenhas de eucalipto” (mas não é usual empregar ‘lenha’ no plural) ou
“Vende-se lenha de eucalipto”

Nenhum comentário: