As leis devem ser obedecidas por todas as pessoas, certo? Bem… do ponto de vista legal e do ético, sim, essa afirmação é verdadeira. E à primeira vista, parece não haver problema algum na frase, não é?
Pois bem, não é! Legal e eticamente, deve-se levar à risca esse conselho, mas gramaticalmente, perceberemos que essa construção apresenta uma impropriedade, causada por influência da linguagem coloquial. Relembremos alguns detalhes importantes: chamamos de Voz do verbo à relação existente entre o sujeito e a ação do verbo. Desse modo, dizemos que uma frase está na Voz Ativa quando o sujeito pratica a ação expressa pelo verbo; na Voz Passiva, quando o sujeito recebe a ação; na Voz Reflexiva, quando o sujeito pratica a ação e ele mesmo a recebe e Voz Recíproca, quando há ao menos dois sujeitos e um pratica a ação sobre o outro e este a retribui ao primeiro. Agora relembremos as alterações que ocorrem na passagem da voz ativa para a voz passiva analítica (aquela que emprega o verbo ‘ser’ como auxiliar, ao lado do verbo principal):
Se houver outros termos com diferentes funções sintáticas, eles manterão as funções que já apresentavam na Voz Ativa (objeto indireto (OI), adjuntos adverbiais, adjuntos adnominais, continuarão a ser classificados do mesmo jeito). Mantemos, na transformação, os aspectos semânticos, ou seja, não há mudança na informação da frase, é alterado apenas o ponto de vista a partir do qual apresentamos um fato: se a ideia é realçar quem faz a ação, usamos a Voz Ativa (nela é o sujeito que age); se a intenção é realçar o alvo da ação, empregamos a Voz Passiva (nela o sujeito recebe a ação). Mas cuidado! Não é apenas uma troca na ordem das palavras, o verbo precisa ser alterado e o agente ganha uma preposição! Agora que já relembramos a transformação da Voz Ativa para a Vos Passiva, voltemos à frase do início do texto. Por que motivo ela não está de acordo com a norma culta? No quadro da “fórmula” da transformação, observamos que para ser possível a alteração de uma voz na outra, o verbo precisa ser transitivo direto ou bitransitivo. Isso porque é o objeto direto da Voz Ativa que se transformará em sujeito da Voz Passiva. E por que há essa exigência quanto ao verbo e ao objeto? Porque o sujeito nunca pode ser preposicionado! Dessa forma, apenas um termo que não é precedido de preposição poderá vir a ser sujeito. Trocando em miúdos, se o verbo é VTI, não será possível passar a frase para a Voz Passiva. E o que essa exigência tem a ver com o verbo obedecer? É que, de acordo com as regras de Regência Verbal, o verbo obedecer é VTI, regido de preposição A. O problema é que, na linguagem coloquial, em situações informais, as pessoas deixam de empregar a preposição e a sensação é de que o verbo é VTD, o que possibilitaria a transformação em voz passiva. O mesmo ocorre com o verbo ‘assistir, no sentido de ver, presenciar. Ele também exige preposição A, para ter essa significação, mas isso é desconsiderado na linguagem informal. Assim, para ‘consertar’ a frase inicial, se fosse uma questão de exame, precisaríamos manter a voz ativa:
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6 de agosto de 2018
VOZ PASSIVA
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