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23 de agosto de 2010

Leitura - As traças e o Avatar

Dia desses fui fazer uma pesquisa em jornais do Museu da Comunicação Hipólito José Costa. Sabia que ali encontraria o que não achei no Google. Como o prédio está em obras, entrei pelos fundos. Passei por linotipos, impressoras, prensas, equipamentos de rádio,retratos de comunicadores. Ouvi a voz de Brizola ao longe. Num espaço com poltronas, um áudio reproduzia a fala do líder da legalidade.

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A conclamação de Brizola me acompanhou até o elevador. Senti-me melancólico. Fui pesquisar no jonal do Basil de 1991, poucos dias antes do anúncio de que o JB em papel deixaria de circular. A cada caderno da coleção mensal que pedia, a mesa ia se enchendo de traças. Andavam, paravam,faziam-se de mortas. Uma família de traças devorava a coluna de João Saldanha num canto do jornal. A memória alimentava os bichinhos. O que Saldanha será capaz de fazer no metabolismo de uma traça.

Saí de novo pelos fundos, o Brizola continuava discursando, e pensei se algum adolescente seria capaz de identificar uma daquelas máquinas. Os equipamentos de hoje, o Ipad, o Ipod, o Smartphone, o Kindle irão um dia parar em museus? Que estranhamento provocarão em um guri daqui uns 30 anos.

Uma semana depois fui conversar sobre jornalismo com alunas do Ensino Médio do instituto Estadual de Educação Pedro Schneider se São Leopoldo. Era a semana de comunicação do Pedrinho. Juntaram numa sala 50 gurias do magistério. Muitas chupavan pirulitos. Temi pelo pior. Como conseguiria falar com aquelas adolescentes? O que seria de mim quando o pirulito acabasse?

Fui indo. Dizia para mim mesmo: interação, esse é o segredo. E fui. Falamos de jornal, de texto, de leitura, até que chegamos ao mundo delas, o mundo virtual. Descobri que poucas usam o orkut. É antigo. Que muitas não curtem o Twitter, é coisa de velho. Que não usam mais o icq, só o msn, eque quase todas se comunicam pelo facebook. Quis saber se alguma delas teve um avatar na internet. Avatar? Só uma sabia o que era.. A menina explicou para as colegas do que se tratava e ouviu uma murmurar: mas que bobagem.

O pirulito terminou e a conversa rolou por mais de uma hora. Remocei com a vivacidade daquelas adolescentes. Voltei para o jornal e fui investigar no Google quando ocorreu o pico do Avatar, que chamavam Second life. foi em 2007. Todo mundo tinha uma segunda vida paralela, com fazendas, amigos ricos. O seu duplo na internet faria o que não fazia ou não tinha na vida real. Os avatares do Grêmio venciam o Ceará de goleada.

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E aí você se pergunta nós, da geração do papel, somos muito mais sensíveis?

Paulo Santana

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