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29 de agosto de 2010

Leitura - Leis e Normas

A tal lei proíbe avacalhar candidatos em época de eleições e que provocou uma manifestação de humoristas no domingo no Rio. Quer dizer, é um exemplo daquelas leis brasileiras que, como vacina ou mudinha, pegam ou não pegam. Essa não pegou, tanto que não me lembro de vê-la discutida assim em outras eleições. Isso significa que ela não deva se execrada e o seu autor sofrer um ataque de cócegas sempre que aparecer em público, para aprender. Significa que a punição por avacalhar candidatos não deve preocupar muito, nem humoristas, nem ninguém. Inclusive porque será difícil caracterizar o crime.
, cara a gozação que fizeram com você na TV, ontem, passou dos limites. Apareceu um imitador com a sua cara, dizendo uma porção de bobagens...Eu, se fosse você, processava.
Não era imitação, era eu !
Desculpe.
Uma questão maior é a dos limites de opinião, avacalhadora ou não, de quem tem o privilégio de um espaço na imprensa. Limites que independem da lei pegar ou não pegar, porque fazem parte de nossas normas, e das nossas hipocrisias jornalísticas. Na Europa e nos Estados Unidos, é comum colunistas abrirem seu voto e os próprios jornais declararem suas preferências eleitorais. No começo de cada campanha presidencial americana, por exemplo, o New York Times anuncia para quem vai torcer, o que não é um anúncio de que vai distorcer a favor do escolhido. Aqui a norma é o da objetividade, mesmo fingida. Sempre achei estranho que um cronista de jornal, que é pago para ser subjetivo ao máximo, se veja obrigado a sonegar seu gosto político, que deveria ser tão naturalmente exposto quanto seu gosto em filmes,mulheres, pastéis. Já outros sustentam que o voto aberto do cronista é um abuso do poder da imprensa. É uma discussão antiga, essa com a dona norma.
"Avacalhar", se não me falha o etimológico, vem de vaca mesmo. Reduzir alguém a vaca, pobre vaca, este símbolo de resignação fatalista, sem falha de caráter conhecida, é desmoralizá-lo. O mais triste é que não funciona. Historicamente, nem os mais avacalhados dos nossos políticos sofreram, politicamente, com a avacalhação. Temos uma cultura política à prova do ridículo. O que, claro, só torna a lei ainda mais ridícula.
Verissimo

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