O que a Cartola e Kid Abelha têm em comum? O emprego do advérbio interrogativo nos versos de suas músicas. Observemos os trechos a seguir:
“Meu coração não sei por que “(…) Eu encomendo o jantar só pra nós doisO emprego dos “porquês” sempre gera dúvidas e insegurança, mas vamos por partes, observando e compreendendo cada situação. Nos dois exemplos acima, encontramos o advérbio interrogativo. Será empregado “por que”, separado, quando estiver sendo usado nas interrogações diretas ou indiretas. Opa… interrogação indireta? Sim! É uma pergunta “disfarçada de frase declarativa. A frase se encerra com ponto final, mas o verbo ou locução verbal nela presente deixa implícita uma pergunta, ou seja, ao ouvir a frase, mesmo com ponto final, temos o impulso de responder. Imagine a cena: a mãe entra no quarto e fala: “Eu queria saber por que você ainda não arrumou o quarto.” Certamente o filho (coloque-se no lugar dele) vai responder: “Ainda não deu tempo, eu estava estudando!” É o caso da canção “Carinhoso”: “Meu coração, não sei por que”… mas eu gostaria de saber! Essa é a tal interrogação indireta. A interrogação direta é mais facilmente identificada, uma vez que tem a pontuação característica, é encerrada com o ponto de interrogação. No caso da segunda música também temos um advérbio interrogativo, mas no final da frase a entonação fica mais forte, então vai receber um acento circunflexo. A dica prática é tentar encaixar a palavra “razão” depois do ‘por que’. Se fizer sentido, empregaremos o ‘por que’ separado. Observemos: “Por que (razão) você não arrumou o quarto?” “Eu queria saber por que (razão) você não arrumou o quarto?” “Você não arrumou o quarto por quê (razão)?” Já o ‘porque’, junto e sem acento, é uma conjunção, que pode ser coordenativa explicativa ou subordinativa causal (ver texto da semana passada). Em ambos os casos, podemos ter certeza de que é o ‘porque’, quando pudermos substituir pela conjunção ‘pois’. Vejamos: “Vai minha tristezaEsse ‘porque’ pode, sem prejuízo de sentido, ser trocado pelo ‘pois’: “pois eu não posso mais sofrer”. E por último, temos o ‘porquê’, junto e com acento. Nesse caso temos o termo funcionando como substantivo, sinônimo de ‘motivo’: “Eu entendo os seus porquês (seus motivos), embora não concorde com eles.” |
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17 de setembro de 2018
OS PORQUÊS
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