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17 de setembro de 2018

OS PORQUÊS


O que a Cartola e Kid Abelha têm em comum? O emprego do advérbio interrogativo nos versos de suas músicas. Observemos os trechos a seguir:
“Meu coração não sei por que
Bate feliz Quando te vê…
E os meus olhos ficam sorrindo
E pelas ruas vão te seguindo…
Mas mesmo assim, foges de mim (…)
“(…) Eu encomendo o jantar só pra nós dois
Se não tem nada pra depois, então por que não eu?
Você tá nessa, rejeitada, caçando paixão
Eu com a cara mais lavada digo, por que não?
Por que não eu? (…)”
O emprego dos “porquês” sempre gera dúvidas e insegurança, mas vamos por partes, observando e compreendendo cada situação.
Nos dois exemplos acima, encontramos o advérbio interrogativo. Será empregado “por que”, separado, quando estiver sendo usado nas interrogações diretas ou indiretas. Opa… interrogação indireta? Sim! É uma pergunta “disfarçada de frase declarativa. A frase se encerra com ponto final, mas o verbo ou locução verbal nela presente deixa implícita uma pergunta, ou seja, ao ouvir a frase, mesmo com ponto final, temos o impulso de responder. Imagine a cena: a mãe entra no quarto e fala:
“Eu queria saber por que você ainda não arrumou o quarto.”
Certamente o filho (coloque-se no lugar dele) vai responder:
“Ainda não deu tempo, eu estava estudando!”
É o caso da canção “Carinhoso”: “Meu coração, não sei por que”… mas eu gostaria de saber! Essa é a tal interrogação indireta. A interrogação direta é mais facilmente identificada, uma vez que tem a pontuação característica, é encerrada com o ponto de interrogação.

No caso da segunda música também temos um advérbio interrogativo, mas no final da frase a entonação fica mais forte, então vai receber um acento circunflexo.
A dica prática é tentar encaixar a palavra “razão” depois do ‘por que’. Se fizer sentido, empregaremos o ‘por que’ separado. Observemos:
“Por que (razão) você não arrumou o quarto?”
“Eu queria saber por que (razão) você não arrumou o quarto?”
“Você não arrumou o quarto por quê (razão)?”
Já o ‘porque’, junto e sem acento, é uma conjunção, que pode ser coordenativa explicativa ou subordinativa causal (ver texto da semana passada). Em ambos os casos, podemos ter certeza de que é o ‘porque’, quando pudermos substituir pela conjunção ‘pois’. Vejamos:
“Vai minha tristeza
E diz a ela que sem ela não pode ser
Diz-lhe numa prece
Que ela regresse
Porque eu não posso mais sofrer (…)”
Esse ‘porque’ pode, sem prejuízo de sentido, ser trocado pelo ‘pois’: “pois eu não posso mais sofrer”.
E por último, temos o ‘porquê’, junto e com acento. Nesse caso temos o termo funcionando como substantivo, sinônimo de ‘motivo’:
“Eu entendo os seus porquês (seus motivos), embora não concorde com eles.”

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