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6 de janeiro de 2010

O que devo usar à beira-mar?

Estou postando este texto por ser hilário, diferente dos demais com que estamos acostumados a ler.
David Coimbra, colunista do Zero Hora, escreveu-o no dia 6 de janeiro de 2010. Leiam, vale a pena...
Sunga ou bermuda?
O sempiterno dilema da vida praiana. Não poucas mulheres professam ojeriza à sunga. Consideram um homem de sunga um exibicionista. Entendo o porquê. A sunga, por ser sumária e rente ao corpo, pode deixar em relevo os atributos masculinos. Algumas mulheres sentem-se ultrajadas ao deparar com os volumes íntimos de um homem tornados públicos, e sou forçado a concordar com elas: há sungas indesculpáveis. Nenhuma mais do que a sunga branca. A sunga branca equivale à camisa aberta ao peito, à gargantilha, ao medalhão, ao carro com sistema de som de rave.
Conheço um sujeito que ficou estigmatizado por causa de uma sunga laranja. Usou-a uma única vez, em uma única tarde de um verão distante, mas foi o que bastou para certa moça da alta sociedade porto-alegrense avaliá-lo, julgá-lo e condená-lo: tratava-se, o gajo, de um caso típico e irrecorrível de "bicho de chaleira".
A moça essa era muito conhecida em seu meio, muito influente e muita dada à divulgação de notícias - espécie de jornalista amadora. Divulgou para todas as amigas e conhecidas, e até para algumas nem tão conhecidas assim, que o rapaz da sunga laranja tinha dotes modestos, e assim ele se tornou célebre na cidade. Chegava a um lugar, e as pessoas cochichavam à sorrelfa sobre suas mínimas partes, e riam, e riam. Eu mesmo, sempre que o via, lembrava de imediato da fofoca, mas não sabia que a divulgadora jamais tivera contato primário com o órgão difamado.
Até certa noite. Naquela noite, ela teve.
Ocorreu neste 2009 ainda de fresca lembrança. Tiveram um encontro casual, ele a cortejou, ela resolveu conferir in loco suas antigas impressões e deu-se o que se deu. Ao fim da noite, a moça voltou para casa positivamente impressionada. No dia seguinte, encontrou algumas amigas e suspirou:
-Guriiiias, eu estava enganada...
Tentou desfazer o mal feito, alegou que fora iludida pela sunga, mas de que adianta agora a retificação? Penas ao vento... O rapaz jamais deixará de ter a má fama que lhe foi imputada, ela lhe acompanhará pela existência toda, como o Estigma de Caim. Será que ele sabe disso? Melhor não. Mas, ontem mesmo, estava eu passeando pelas fímbrias espumantes do Mar Tenebroso e quem vejo? Nosso herói difamado. Vestia discreta bermuda de surfista, larga, espaçosa, que lhe descia aos joelhos. Teria consciência do prejuízo que lhe acarretou a sunga laranja ? Até o fim da temporada, vou tomar coragem e perguntar.
Mas o importante é a conclusão a que se chega dessa triste história: a sunga pode ser, sim, problemática. Sem contar que as mulheres gaúchas, a exemplo das portenhas, consideram a bermuda mais elegante.
Para nadadores diletantes como eu, no entanto, a sunga é uma necessidade. Além do mais, a bermuda moderna, compridíssima, na prática as calças curtas redivivas, essa bermuda moderna pressupõe que o homem só sinta calor nas canelas. Ilógico. Mas ainda mais absurdo são as fami-geradas calças Capri, que permitem única e tão-somente o arejamento dos tornozelos. Aí, não. Aí é demais.
Como sair de tal imbróglio? Eu, por precaução, tomei uma decisão salomônica, neste verão 2010: visto bermudas e tenho, sob elas, uma discreta sunga de nadador, que exponho só ao entrar na água. Mas preta. Invariavelmente preta. Cautelosamente preta.

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