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14 de outubro de 2014

Geleiras

Geleiras em todo o mundo estão derretendo, recuando e até desaparecendo completamente. Mas na região montanhosa de Karakoram, na Ásia – a casa do K2, o segundo pico mais alto da Terra – as geleiras não estão derretendo, e algumas estão se expandindo.
Por que essas geleiras asiáticas estão misteriosamente se expandindo
Agora, os cientistas encontraram uma explicação para essa estabilidade glacial misteriosa. Embora a precipitação esteja aumentando em todo o Himalaia, a maior parte dessa umidade cai no verão – exceto em Karakoram, onde a neve domina a cena.
“Tem sido uma fonte de controvérsia o fato de que estas geleiras não estão mudando enquanto outras geleiras do mundo estão”, disse a pesquisadora Sarah Kapnick, pós-doutorada em ciências atmosféricas e oceânicas na Universidade de Princeton.
O Karakoram é uma cadeia de picos nevados pitoresca ao longo da fronteira da Índia, Paquistão e China. É parte da maior cadeia de montanhas do Himalaia, que está perdendo suas geleiras conforme o clima esquenta.
No entanto, observações na região de Karakoram revelam que as geleiras estão estáveis e a queda de neve está aumentando em vez de diminuir.
Ela e seus colegas coletaram dados de precipitação e temperaturas recentes do Departamento Meteorológico do Paquistão e de outras fontes, incluindo dados de satélite. Eles combinaram esta informação com modelos climáticos para acompanhar as mudanças em três regiões do Himalaia entre 1861 e 2100: a Karakoram; o Himalaia  central; e o Himalaia que inclui parte do sudeste do platô tibetano.
Os pesquisadores descobriram que um novo modelo que simula o clima em uma área de 2.500 quilômetros quadrados foi capaz de igualar os ciclos de temperatura e precipitação observados no Karakoram. Um modelo usado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) para simular o que vai acontecer se o mundo continuar a emitir gases de efeito estufa nas taxas atuais não foi capaz de capturar esses ciclos sazonais, disse Kapnick.
O motivo, segundo ela, é que o IPCC e outros modelos climáticos são de baixa resolução, captando a mudança climática em áreas não mais finas do que cerca de 44.100 quilômetros quadrados. A resolução grosseira “suaviza” variações de altitude, o que funciona muito bem para os Himalaias centrais e Himalaia sudeste. No entanto, a região de Karakoram tem mais variabilidade de elevação do que as outras duas regiões. Em última análise, o resultado é que o IPCC e outros modelos superestimam a quantidade de calor na região, disse Kapnick.
Como os modelos anteriores superestimaram a temperatura do Karakoram, eles também subestimaram a quantidade de neve na região. Este é o ponto crucial da misteriosa anomalia de Karakoram, relataram os pesquisadores ontem (12 de outubro) na revista Nature Geoscience.
À medida que o mundo aquece, a precipitação aumenta no Himalaia. Por causa da geografia da região do Karakoram, ele obtém a maior parte desta umidade extra no inverno, quando os ventos do oeste trazem neve para as montanhas.
Em contraste, as regiões do Himalaia central e sudeste obtém a maioria de sua umidade de monções no verão. Como o verão é mais quente, a maior parte desta umidade cai em forma de chuva.
“A quantidade total de água que está caindo do céu está aumentando durante os meses de verão”, disse Kapnick. “Mas desde que as temperaturas estão subindo acima de zero, elas não estão traduzindo em um aumento da queda de neve, e sim, na verdade, traduzindo a diminuição da queda de neve nessas duas regiões.”
Em Karakoram, a queda de neve está diminuindo no verão, mas aumentando no inverno, disse ela. Embora os pesquisadores não testaram a ideia, essa neve presumivelmente alimenta as geleiras do Karakoram, impedindo-as de encolher.
Compreender a queda de neve no Karakoram e no resto do Himalaia é importante para trazer à tona variações regionais das mudanças climáticas, mas os resultados têm um uso mais imediato também. A neve age como um reservatório de água para as pessoas da região do Himalaia, e as previsões de precipitação sazonais são importantes para a compreensão de disponibilidade de água. Se a neve e o gelo derretem muito rapidamente, Kapnick disse, pode causar inundações devastadoras

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