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19 de maio de 2010

Sinal amarelo

Na vida, há dores maiores do que as que sofremos, dificuldades superiores às que enfrentamos e superações acima das que conseguimos. A novela Viver a Vida reforçou minha convicção a tal respeito.

Recebi um telefonema da produção para gravar um depoimento sobre alcoolismo. Gravei, mas a projeção não ocorreu. Na novela, foram divulgados depoimentos que são grandes exemplos de superação, pelo que recebi a preterição do meu com naturalidade. A ansiedade, porém, me faz buscar espaços para transmitir, baseado em experiência própria, que tanto alcoolatria – vício – quanto alcoolismo – doença – se originam da ingestão exagerada do álcool e que quem bebe, mesmo apenas esporadicamente, mas tem dificuldades em parar quando toma o primeiro gole e tende a um porre, embora não sendo viciado e nem doente, tem o sinal amarelo aceso.

Alguns podem beber socialmente, sem maiores consequências. Outros começam e não conseguem parar. Estes, se beberem reiteradamente, instalarão no organismo o vício, que é a dependência da bebida, superável, e a doença, que, repito, é incurável, pois os alcaloides que se instalam no cérebro quando o fígado faz a triagem do sangue não saem mais. São hóspedes indesejáveis cujo hospedeiro não consegue expulsar. Daí as recaídas daqueles que passam por períodos de abstinência sem atingir a sobriedade. Os hóspedes – alcaloides – não alimentados ficam ávidos por álcool e, quando o recebem procuram recuperar o tempo perdido, pelo que as recaídas são episódios terríveis.

Reafirmo: quem, começando a beber, entra em euforia tem sinal amarelo aceso e precisa cuidado, não devendo beber reiteradamente; quem for viciado pode parar de beber, superando a dependência. No entanto, após adquirir a doença, não pode beber em nenhuma hipótese, sob pena de consequências terríveis, pelo que, se chegar à abstinência, deve se esforçar para não recair.

Julguei pertinente minha ousadia na busca do presente espaço para atender à ansiedade e transmitir estas informações de quem já teve sinal amarelo aceso, não o entendeu, avançou-o, tornou-se alcoólatra, teve abstinências e recaídas e hoje, embora com a doença do alcoolismo organicamente instalada, vive sóbrio, substituindo o prazer gerado pela bebida pela a alegria de viver.

Odacir Klein

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