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14 de maio de 2014

UFSM adota carta aberta e texto de opinião para o vestibular de 2015

Carta Aberta



Aqui vai o comentário sobre o segundo gênero pedido no vestibular Unicamp 2014 (o primeiro foi publicado ontem e pode ser lido neste link).

Mais uma vez, caiu uma carta como gênero na prova da Unicamp. Este ano, foi escolhida a carta aberta, um gênero em que o autor se dirige a uma figura pública (tipicamente, uma autoridade) fazendo uma crítica ou solicitação. A diferença entre esse gênero e a carta argumentativa é que, na carta aberta, há a publicação do texto, que se torna acessível a toda uma comunidade. O autor da carta espera, assim, que o público faça pressão sobre a autoridade, aumentando a eficácia do texto e a probabilidade de as reivindicações serem atendidas (ou de a crítica ser sentida).




Veja a proposta abaixo ou na página da Comvest:



 Como de costume nas provas da Unicamp, não basta saber o nome do gênero: muito mais importante é entender as partes que o compõem e o propósito específico desse gênero na situação colocada pela banca elaboradora. Vamos entender então cada passo que compõe o gênero, seguindo a estrutura que eu já comentei aqui diversas vezes:

1. O propósito:

O propósito principal da carta era a reivindicação de ações consistentes para a melhoria da mobilidade urbana em uma cidade. É muito provável, no entanto, que a banca não esteja esperando a conclusão “reivindicamos ações consistentes”, mas sim uma sugestão específica de ação, que poderia ser encontrada nos textos motivadores, especialmente no texto III (por exemplo, nos trechos “aproximando os locais de moradia dos locais de trabalho ou de acesso aos serviços essenciais”, “ampliando o modo coletivo e os meios não motorizados de transporte” e “a ocupação dos vazios urbanos, modificando-se, assim, os fatores geradores de viagens e diminuindo-se as necessidades de deslocamentos, principalmente motorizados”).
 
2. O locutor:
 
A banca a pediu claramente que o candidato se colocasse no lugar demembro de uma associação de moradores interessados na melhoria da mobilidade urbana. Faz sentido supor, portanto, que as características individuais desse autor sejam secundárias em relação às características da associação (aparentemente, um costume da associação é se reunir e discutir textos sobre mobilidade urbana, como indicado nos seguintes trechos do enunciado: “uma associação de moradores de uma grande cidade se mobilizou, buscou informações em textos e documentos variados” e “utilize também informações apresentadas nos trechos abaixo, que foram lidos pelos membros da associação”). No entanto, a natureza do gênero carta aberta e, mais ainda, a especificidade da proposta feita pela Unicamp neste ano tornam a exploração de características uma tarefa de importância reduzida em relação à argumentação e à apresentação de uma proposta.



3. O interlocutor:

A carta deveria ser dirigida a autoridades municipais. Imagino que a banca examinadora aceitará tanto essa denominação genérica quanto a menção a alguma autoridade mais específica (duas autoridades possíveis seriam o prefeito ou o secretário de transportes, por exemplo; o candidato deveria ter cuidado, no entanto, para não dirigir o texto a alguma autoridade extramunicipal, como a presidente ou o ministro dos Transportes). Para criar a imagem dessa autoridade, apresentando vantagens que ela teria ao colocar em prática as medidas propostas na carta, seria possível usar o texto II: um forte argumento apresentado nesse texto é o de que a própria cidade tem um alto custo devido a problemas de mobilidade urbana. Assim, o locutor poderia tornar a carta mais convincente argumentando que suas propostas diminuirão esse custo.

4. O meio:

Esse provavelmente foi um dos aspectos que causou mais dúvidas; isso porque a carta aberta é, historicamente, um texto jornalístico e, portanto, necessita de título. No entanto, seguindo sua tradição de modificar ligeiramente as características dos gêneros, a Unicamp explicitou que a carta em questão seria divulgada por meio de redes sociais. Assim, a necessidade de título tende a desaparecer. Da mesma forma, a carta aberta publicada em jornais costuma não ter uma assinatura destacada. Mas a proposta da Unicamp pediu essaassinatura (com as iniciais do remetente), o que indica a preferência por uma estrutura clássica de carta, com cabeçalho, saudação, despedida e assinatura.
O mais provável é que ocorra neste ano o mesmo que ocorreu com o comentário e com o manifesto na prova de 2012: naquele ano, a Unicamp aceitou textos com e sem título, com e sem cabeçalho. Acreditamos que, no vestibular de 2014, a Unicamp aceitará tanto as redações com formato clássico de carta (“Campinas, 10 de novembro; Ao secretário de transportes...”) quanto as que contêm título típico de carta aberta (“Carta aberta ao secretário de transportes”).
 
5. A linguagem:
 
Sobre a linguagem, espera-se que o candidato escreva um textoformal e que use interlocução, de modo a caracterizar a carta. A ausência de interlocução será, provavelmente, uma falha muito mais grave do que a ausência de aspectos formais, como o cabeçalho.

É isso que posso falar por enquanto. Ainda esta semana, a Unicamp deve publicar a expectativa oficial da banca, que, nos últimos anos, revelou-se muito pouco útil. Vamos ver se teremos alguma mudança este ano.

Até breve

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