Marque bem Pessoa
Heterônimo de Fernando Pessoa, Alberto Caeiro é questão certa na UFRGS
Garanta um gol na prova conhecendo detalhes de "O Guardador de Rebanhos"
Não era um dia como esta quinta-feira em que a seleção de Portugal jogou partida decisiva na Copa do Mundo. Ainda assim, Fernando Pessoa estava em transe:
"Escrevi trinta e tantos poemas a fio, numa espécie de êxtase cuja natureza não conseguirei definir. (...) E o que se seguiu foi o aparecimento de alguém em mim, a quem dei desde logo o nome de Alberto Caeiro. Desculpe-me o absurdo da frase: aparecera em mim o meu mestre."
O heterônimo antimetafísico de Pessoa veio ao mundo nesse rompante místico, relatado pelo poeta português ao crítico e ensaísta Casais Monteiro. O apego de Caeiro à natureza e aos sentidos são algumas das caracterísitas que os vestibulandos poderão descobrir em O Guardador de Rebanhos, livro que aparece pelo terceiro ano na lista de leituras obrigatórias da UFRGS – e que está de saída em 2015.
Segundo o professor de literatura do Grupo Unificado Vanderlei Vicente, o conjunto de 49 poemas, escritos em 1914, mas publicados em 1925, tem como tema fundamental "a natureza, representação da única realidade aceitável, com a qual (Caeiro) mantém uma relação baseada na sensação pura, naquilo que seus sentidos percebem. Sua compreensão de mundo nega os mistérios do mundo, pois seriam impossíveis de serem objetivamente captados".
A seguir, elencamos informações para você golear na pergunta sobre Caeiro: abaixo, traços importantes do heterônimo segundo o também professor de literatura do Unificado Pedro Gonzaga. Ao lado, poemas exemplares da obra comentados por Vanderlei Vicente.
Alberto em Pessoa
Alberto Caeiro é um dos célebres heterônimos desenvolvidos por Fernando Pessoa (127 no total, de acordo com biografia recente) como parte de sua maneira de fazer poesia, criando autores autônomos que teriam nomes, vidas e ideias (visão de mundo e estética) distintas dele mesmo. Caeiro seria assim o poeta ligado à vida do campo e a uma rejeição do mundo moderno, em especial à crença nos avanços científicos e no processo de urbanização. No seu processo de busca pela realidade total, por uma realidade sem mediação que fosse apreendida apenas pelos sentidos, Caeiro também tenta descartar a influência da filosofia e da religião, como se não fossem mais do que filtros falsificadores da experiência humana. Ao buscar a vida natural, a vida simples de um pastor, em tese, também simplificando a maneira de se expressar, o poeta estaria mais próximo da verdade.
(Pedro Gonzaga)
Caeiro em características
-Linguagem objetiva
-Versos livres
-Versos brancos
-Escassez de metáforas (desviantes do real)
-Estranhamento (um novo modo de ver as coisas)
-Presentismo (focar a atenção apenas no instante vivido)
-Versos livres
-Versos brancos
-Escassez de metáforas (desviantes do real)
-Estranhamento (um novo modo de ver as coisas)
-Presentismo (focar a atenção apenas no instante vivido)
Caeiro em 5 temas
-A natureza
-A vida no campo como se fosse um pastor
-O paganismo radical (a luta contra as religiões)
-O sensacionismo (valor total aos sentidos)
-A antimetafísica (briga com os modelos filosóficos)
-A vida no campo como se fosse um pastor
-O paganismo radical (a luta contra as religiões)
-O sensacionismo (valor total aos sentidos)
-A antimetafísica (briga com os modelos filosóficos)
Fonte: Pedro Gonzaga
Os poemas
O poema que abre o livro apresenta a ideia de que "Pensar incomoda como andar à chuva", em uma negação do mundo metafísico, abstrato. Essa imagem surge também no poema V, no qual Alberto Caeiro mais uma vez insiste em sua visão de não pensar sobre a vida:
Há metafísica bastante em não pensar em nada.
O que eu penso do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.
O que eu penso do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.
Texto igualmente famoso de O Guardador de Rebanhos é o poema XX, no qual o poeta compara o rio símbolo de Portugal, o Tejo, com o rio de sua aldeia:
O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.
A proximidade do rio que corre em sua aldeia com sua vida faz com que Caeiro valorize a beleza daquilo que está próximo de sua vida. Mas há ainda um importante fator de diferenciação entre os dois rios: pensando no Tejo, surgem as conquistas de Portugal; e olhar para o rio de sua aldeia, nada suscita:
O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.
Fonte: Vanderlei Vicente
Questão Comentada
Questão 37
Considere as seguintes afirmações sobre os poemas de Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa.
I - No poema em que "vê" Jesus (Num meio-dia de fim de primavera/ tive um sonho como uma fotografia./ Vi Jesus Cristo descer à terra.), o eu-lírico saúda Jesus na condição de menino travesso, mas obediente, que cuida das cabras do rebanho e convive carinhosamente com a Virgem Maria.
II - No poema cujos primeiros versos são "O meu olhar azul como o céu/ É calmo como a água ao sol./ É assim, azul e calmo,/ Porque não interroga nem se espanta...", a expressão direta, muito ritmada mas sem rimas nem métrica fixa, está a serviço da enunciação da natureza imanente e das sensações também diretas que ela desperta no poeta.
III - No poema cujos primeiros versos são O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia/ Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia, o poeta estabelece o contraste entre a fama e a história do rio Tejo e a irrelevância do rio provinciano, que é amado, no entanto, por ter às suas margens a aldeia medieval habitada há gerações pela família de Caeiro.
Quais estão corretas?
A) Apenas II.
B) Apenas III.
C) Apenas I e II.
D) Apenas I e III.
E) I, II e III
B) Apenas III.
C) Apenas I e II.
D) Apenas I e III.
E) I, II e III
A questão estava bem elaborada e é um bom caminho para a preparação do candidato para 2015, pois pedia ao mesmo tempo compreensão da obra de Caeiro como também conhecimento de alguns dos poemas mais famosos. Na primeira afirmativa, o erro consiste em apresentar um menino Jesus que não condiz com aquele sonhado por Caeiro, que é um menino perfeitamente normal, mas que não convive com a virgem Maria. A segunda alternativa se mostra correta, dado que as características apontadas na questão estão de acordo com os versos e também com aquilo que é verdade para o resto da obra de Caeiro. O erro da três reside na afirmação de que ali estão as terras da família do poeta. Isso nada tem a ver com a vida singela que Caeiro escolhe levar. Resposta A.
Nenhum comentário:
Postar um comentário