NO INICIO DO BLOG

1 de março de 2018

TEMA DE REDAÇÃO

Você já deve ter ouvido, mesmo que à boca miúda: se alguém tem uma conduta reprovável, é porque não aprendeu bons valores em casa.

ÉTICA, RESPEITO E HONESTIDADE SÃO QUALIDADES ENALTECIDAS E ALVO DE PREOCUPAÇÃO DE PAIS E ESCOLAS, MAS DESVIOS SÃO TÃO FREQUENTES QUE LEVAM À PERGUNTA: É POSSÍVEL ENSINAR PRINCÍPIOS A OUTRA PESSOA?

O economista e ensaísta Eduardo Giannetti compara a assimilação de valores ao aprendizado da linguagem. É difícil dizer quem nos ensinou a falar, mas ninguém nasceu sabendo e todos aprenderam.
“Valores éticos são uma espécie de gramática da convivência. Sem a gramática, não há língua, do mesmo modo como a virtude dá o estilo do convívio”, diz Giannetti.
Ele lembra o diálogo entre Platão e Protágoras, no qual esse último argumenta que a consciência e a noção de justiça são traços conquistados a duras penas pela humanidade, que devem ser reaprendidos a cada geração; o ensino começa no colo das mães, passa pela escola e continua por toda a vida em comunidade, com a ajuda da punição dos transgressores.
O educador Mario Sergio Cortella aponta a exemplaridade como melhor maneira de ensinar ética. “É claro que valores podem ser transmitidos pelos pais, mas não com a automaticidade que alguns desejam. Até porque parte da força de uma nova geração vem da oposição à anterior.”
Giannetti afirma que a adesão às normas depende de internalização: é preciso entender por si mesmo que a regra é importante para a vida em sociedade, e não ser coagido por castigos ou vergonha.
“Passa por uma educação formal, que ajude a entender a existência de normas não para tolher pessoas, mas permitir que compartilhem o espaço de forma harmoniosa.”
Luciene Tognetta, da Unesp, coordena o Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral, que reúne membros de várias universidades atentos ao ensino da ética nas escolas. Pesquisa do grupo analisou projetos de educação moral de 1.100 escolas públicas e considerou só 2% completos, já que a maioria se resumia em preleções verbais, tarefas e iniciativas isoladas de professores.
No aconselhamento que o grupo promove em colégios, a instrução é criar um ambiente que estimule a autonomia e a autorregulação. “O professor deve dar às crianças condições de resolver problemas pela conversa, deixar que, num conflito, saiam de seu ponto de vista e percebam o do outro. Só assim se desenvolve a autonomia do dever moral”, diz a professora.
O colégio Bandeirantes, de São Paulo, dá curso de formação em ética para professores e funcionários e, nas salas de aula, mantém a disciplina Convivência em Processo de Grupo, que ocupa uma hora por semana do sexto ano ao fim do ensino médio, apresentando dilemas morais.
“A ideia é, sem mencionar a palavra ética ou moral, permitir que problemas relacionados apareçam naturalmente”, diz a coordenadora, Maria Estela Zanini.
Também para Giselle Magnossão, diretora do Albert Sabin, o ambiente é mais importante do que a aula expositiva para o estímulo da ética. No currículo, há momentos em que alunos são convidados a sustentar posições. “Não é preleção sobre respeito, mas um debate em que o aluno reflete e argumenta.”
É possível expandir para toda a comunidade a noção de que o ambiente é peça-chave na formação da moral.
Mesmo rechaçando a máxima de que o homem é produto do meio, Cortella diz que a conduta resulta em boa parte do
sistema de valores vigente, a que a pessoa adere “para não se sentir excluída”.
Microcosmos como o trânsito oferecem tubos de ensaio, afirma Giannetti. “Se você pegar um motorista carioca e levar a Zurique, em pouco tempo ele estará dirigindo como o suíço, e vice-versa”.
Mas o contrato social que rege a vida é mais quebradiço do que se pensa. Na Nova York de 1977, bastou um apagão de pouco mais de 24 horas, entre 13 e 14 de julho, para haver explosão no número de crimes: 1.600 lojas danificadas e mil incêndios foram reportados, levando a mais de 3.000 detenções.
Não é preciso ir tão longe em tempo e espaço: todo brasileiro deve se lembrar da greve de policiais militares no Espírito Santo, em fevereiro, que deixou 198 mortos em três semanas.
“Mesmo em sociedades avançadas, quando há o colapso da dimensão da submissão, rapidamente descamba-se para uma situação de guerra de todos contra todos”, afirma Giannetti. “E você percebe como é frágil esse acordo da ética cívica.”

TEXTO II

A SENSAÇÃO QUE SE TEM É QUE O BRASIL VIVE UMA CRISE ÉTICA E, NESSAS HORAS, SEMPRE SURGE A PROPOSTA DE AMPLIAR AS AULAS DE ÉTICA NAS ESCOLAS. MAS SERÁ QUE EXISTE UMA CORRELAÇÃO ENTRE ESTUDAR ÉTICA E SER ÉTICO?

O filósofo Eric Schwitzgebel, da Universidade da Califórnia, Riverside, tentou medir isso. Perguntou a professores de ética, isto é, gente que ganha a vida ensinando os outros sobre o que é certo e o que é errado, com que frequência votavam, ligavam para suas mães, respondiam a e-mails de alunos, comiam carne, doavam sangue, contribuíam para associações de caridade etc. e comparou suas respostas com as dadas por filósofos de outras especialidades e professores de outros cursos.
Schwitzgebel também foi aos arquivos para ver se os eticistas relutaram mais do que colegas de outras áreas em aderir ao nazismo ou se eles roubavam menos livros das bibliotecas. Os resultados, como o leitor já deve suspeitar, indicam que não há diferenças importantes nos comportamentos dos diversos professores.
Duas exceções são os livros —as chances de títulos de ética desaparecerem das estantes são 50% maiores do que os de outras matérias— e o abate de animais para consumo humano: 60% dos eticistas o condenaram, contra 19% dos professores de outras áreas. A diferença, contudo, despareceu quando se mediu a frequência com que comem carne: 38% dos professores haviam jantado um mamífero na noite anterior, contra 37% dos eticistas. Como dizia Terêncio, “sou humano e nada do que é humano me é estranho”.

TENDO EM CONTA AS IDEIAS DOS TEXTOS, ALÉM DE OUTRAS INFORMAÇÕES QUE JULGUE RELEVANTES, REDIJA UMA DISSERTAÇÃO EM PROSA, NA QUAL VOCÊ EXPONHA SEU PONTO DE VISTA SOBRE O TEMA “ÉTICA NO SÉCULO XXI”

Nenhum comentário: