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29 de março de 2018

ENEM E A REDAÇÃO




Na semana passada, o Ministério da Educação (MEC) liberou para os participantes da edição de 2017 do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) os espelhos das redações para consultas com fins pedagógicos . Isso significa que cada participante poderá verificar seu desempenho em cada uma das cinco competências avaliadas pela banca corretora da prova de redação do Enem.
Com a liberação dos espelhos das dissertações-argumentativas sobre os desafios educacionais que os deficientes auditivos enfrentam no Brasil, a imprensa teve acesso a redações que obtiveram a nota máxima, isto é, os mil pontos tão almejados por todos os participantes.
Por isso, no texto de hoje, analisamos uma dessas redações nota mil do Enem 2017. Dentre uma gama de textos, optamos por analisar uma dissertação-argumentativa que consideramos simples – sem referências a autores que pareçam ser “decoreba”, apenas para se encaixar no tema da prova –, pois recorre à coletânea de textos motivadores da maneira permitida pela grade de correção, que não apresenta vocabulário rebuscado, mas que aborda e cumpre o tema e o tipo textual de modo eficaz. Resumindo: talvez encontramos o melhor exemplo do “menos é mais” em produção textual.
Estamos falando da redação da participante Yasmin Lima Rocha, do estado do Piauí. Ela redigiu um texto que, a título de exemplificação, consideramos mais acessível para a maioria dos nossos leitores, pois a sensação que tivemos, ao lê-lo, é o de uma redação bem planejada e organizada a partir do conhecimento prévio de mundo de Yasmin que, por sua vez, foi acessado a partir da leitura atenta da coletânea de textos motivadores. Como costuma dizer uma das mais belas e melhores professoras de Português que conhecemos, que tem mais de trinta anos de carreira, a redação está pronta na proposta; basta decifrar e escrever!
A formação educacional de surdos encontra, no Brasil, uma série de empecilhos. Essa tese pode ser comprovada por meio de dados divulgados pelo Inep, os quais apontam que o número de surdos matriculados em instituições de educação básica tem diminuído ao longo dos últimos anos. Nesse sentido, algo deve ser feito para alterar essa situação, uma vez que milhares de surdos de todo o país têm o seu direito à educação vilipendiado, confrontando, portanto, a Constituição Cidadã de 1988, que assegura a educação como um direito social de todo o cidadão brasileiro.
Em primeira análise, o descaso estatal com a formação educacional de deficientes auditivos mostra-se como um dos desafios à consolidação dessa formação. Isso porque poucos recursos são destinados pelo Estado à construção de escolas especializadas na educação de pessoas surdas, bem como à capacitação de profissionais para atenderem às necessidades especiais desses alunos. Ademais, poucas escolas são adeptas do uso de libras, segunda língua oficial do Brasil, a qual é primordial para a inclusão de alunos surdos em instituições de ensino. Dessa forma, a negligência do Estado, ao investir minimamente na educação de pessoas especiais, dificulta a universalização desse direito social tão importante.
Em segunda análise, o preconceito da sociedade com os deficientes apresenta-se como outro fator preponderante para a dificuldade na efetivação da educação de pessoas surdas. Essa forma de preconceito não é algo recente na história da humanidade: ainda no Império Romano, crianças deficientes eram sentenciadas à morte, sendo jogadas de penhascos. O preconceito ao deficiente auditivo, no entanto, reverbera na sociedade atual, calcada na ética dilitarista, que considera inútil pessoas que, aparentemente menos capacitadas, têm pouca serventia à comunidade, como é caso de surdos. Os deficientes auditivos, desse modo, são muitas vezes vistos como pessoas de menor capacidade intelectual, sendo excluídos pelos demais, o que dificulta aos surdos não somente o acesso à educação, mas também à posterior entrada no mercado de trabalho.
Nesse sentido, urge que o Estado, por meio de envio de recursos ao Ministério da Educação, promova a construção de escolas especializadas em deficientes auditivos e a capacitação de profissionais para atuarem não apenas nessas escolas, mas em instituições de ensino comuns também, objetivando a ampliação do acesso à educação aos surdos, assegurando a estes, por fim, o acesso a um direito garantido constitucionalmente. Outrossim, ONGs devem promover, através da mídia, campanhas que conscientizem a população acerca da importância do deficiente auditivo para a sociedade, enfatizando em mostrar a capacidade cognitiva e intelectual do surdo, o qual seria capaz de participar da população economicamente ativa , como fosse concedido a este o direito à educação e à equidade de tratamento, por meio da difusão do uso de libras. Dessa forma, o Brasil poderia superar os desafios à consolidação da formação educacional de surdos.


introdução da dissertação-argumentativa é, basicamente, um resumo de todo o texto. Logo na primeira linha, a autora apresenta a tese, de maneira clara e simples: a formação educacional de surdos, no Brasil, encontra uma série de empecilhos. Ideia principal sucinta, objetiva e incontestável. Em seguida, Yasmin já sustenta sua tese no argumento principal: quem mostra essa triste realidade são dados do Inep que apontam que o número de matrículas de deficientes auditivos nas escolas brasileiras tem diminuído ao longo dos últimos anos.
Este argumento principal foi retirado da coletânea de textos motivadores da forma como pressupõe a grade de correção do Enem: já que é proibido copiar trechos da coletânea, o participante pode e deve reescrevê-los com suas próprias palavras, ou seja, deve fazer paráfrases.
Após expor seu argumento principal, a autora indica que algo precisa ser feito (introdução e resumo da proposta de intervenção social exigida na quinta competência da grade de correção do Enem), já que a Constituição de 1988 assegura o ensino inclusivo.
No segundo parágrafo, iniciando o desenvolvimento da dissertação-argumentativa, Yasmin afirma que há um descaso por parte do Estado e que isso é o primeiro dos entraves à formação educacional dos surdos no país. Ela sustenta seu argumento secundário utilizando um exemplo como estratégia argumentativa: poucos recursos são destinados às escolas especializadas e poucas são as instituições escolares que adotam a Libras. Neste ponto, a participante enfatiza que a Libras é a segunda língua oficial do Brasil e que ele é fundamental para a inclusão dos surdos nas salas de aula.
Já no terceiro parágrafo, Yasmin dá início a uma segunda análise (muito bem sinalizada, por sinal): a do preconceito. Para fundamentar sua argumentação de que existe preconceito contra os surdos e, de quebra, cumprir a segunda competência no que concerne a relação de várias áreas de conhecimento ao tema da redação, a participante relembra o leitor que, no antigo Império Romano, crianças deficientes eram mortas.
De acordo com Yasmin, os deficientes auditivos enfrentam uma sociedade preconceituosa que pressupõe que eles são menos capazes ou até inúteis, o que gera exclusão tanto na escola quanto no mercado de trabalho.
Por fim, no quarto e último parágrafo, o da conclusão, a autora reforça a necessidade de uma proposta de intervenção social, por meio de recursos oriundos do MEC, a fim de que escolas especializadas sejam construídas e que professores capacitados sejam formados para trabalharem nestas instituições. Por outro lado, ela também sugere que organizações não-governamentais (ONGs) e a mídia em geral promovam campanhas de conscientização.
Além de tudo que escrevemos anteriormente ao texto de Yasmin, trata-se de uma redação escrita de acordo com a norma culta da Língua Portuguesa, com coesão, coerência e progressão temática com a máxima da simplicidade e da objetividade. Nossos parabéns à Yasmin!

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