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18 de março de 2010

Ciência Climática ou Evangelização Climática?

Como George W. Bush e Tony Blair aprenderam do jeito mais difícil, as pessoas não gostam de ser enganadas sobre a origem e ameaças em potencial. A revelação de que as razões para invadir o Iraque eram muito exageradas e, em alguns casos, completamente inventadas, provocou uma reação adversa que ajudou a tirar o Partido Republicano do poder nos Estado Unidos em 2008, e que pode fazer o mesmo com o partido Trabalhista britânico no fim deste ano.
Uma mudança similar na opinião pública mundial está acontecendo em relação às mudanças climáticas. O processo ganhou impulso no ano passado, após hackers vazarem milhares de e-mails de um renomado centro britânico, de pesquisa, mostrando que alguns dos mais influentes climatologistas vinham tentando disfarçar falhas em seu trabalho, bloqueando pesquisas e tramando para reforçar o que remonta a uma linha partidária sobre mudanças do clima. Mais recentemente, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, respeitado grupo consultivo das Nações Unidas, foi profundamente constrangido pela revelação de que algumas previsões alarmantes de um informe influente, lançado em 2007, tinham pouca ou nenhuma base científica.
Apesar de nenhum desses lapsos dar qualquer motivo para duvidar de que o aquecimento global é real, causado pelo homem, e que irá criar problemas para nós,esses desafios do IPCC estão fazendo estragos. De fato, estudos recentes mostram que cresce cada vez menos a crença da opinião pública no consenso científico sobre o aquecimento global.
As maiores manchetes sobre os erros do IPCC falam de um alerta sobre o derretimento das geleiras do Himalaia feito em seu informe de 2007, sobre os possíveis impactos das mudanças climáticas."As geleiras do Himalaia estão diminuindo mais rápido do que em qualquer outra parte do mundo", disse o relatório, acrescentando que "se o ritmo persistir, a possibilidade de elas desaparecerem até o ano de 2035, talvez antes, é muito alta."Como se viu, essa previsão não se baseava em nenhuma pesquisa científica revisada por especialistas, e sim fora tirada de um relatório da WWF, que repercutia uma especulação não comprovada de um único pesquisador.
Essa falta de base científica não impediu inúmeros ativistas contra o aquecimento global de citar a previsão sobre as geleiras a qualquer oportunidade. Quando o governo da Índia afirmou no ano passado que as geleiras do Himalaia estavam em uma forma melhor do que a alegada pelo IPCC, o presidente do painel,Pachauri, desdenhou das objeções, alegando que eram baseadas em ciência de vodu.
Recentemente, o governo indiano reagiu às revelações sobre a falta de embasamento dos alertas sobre as geleiras anunciando planos de estabelecer o que parece seu próprio"IPCC" indiano, a fim de medir o impacto do aquecimento global. O ministro do Ambiente, Ramesh, declarou: há uma linha tênue entre ciência climática e evangelização climática. Eu estou do lado da ciência climática.
Evangelização climática é uma descrição correta para que o IPCC tem feito, por ter exagerado algumas ramificações das mudanças no clima visando chamar a atenção dos políticos. Lal, principal autor do relatório do IPCC que continha o erro sobre o Himalaia, admitiu que ele e e seus colegas sabiam que a previsão dramática sobre as geleiras era baseada em nenhuma ciência revisada por especialistas. Como se não bastasse explicou: Pensávamos que se pudéssemos chamar a atenção, isso impactaria legisladores e políticos, encorajando-os a fazer alguma ação concreta.
Se o IPCC quer fazer seu trabalho de forma correta deve confessar todos os seus erros e arrumar a casa. Ninguém espera que ela seja infalível. Mas nós também não devemos tolerar suas tentativas de assustar legisladores ao invés de informá-los.Bjorn Lomborg - Diretor de Consenso de Copenhaque, autor de vários livros sobre o clima.

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