Há duas semanas, os deputados federais votaram, na Câmara dos Deputados, em Brasília/Distrito Federal, acerca da abertura do processo de afastamento da Presidente da República Dilma Rousseff.
Nosso intuito não é escrever sobre a nossa posição política a respeito dessa questão, mas sim refletir sobre o que não devemos aprender com os deputados federais que votaram naquele dia. A votação, que durou horas e foi transmitida pelos principais meios de comunicação do país, foi marcada por discursos que ultrapassaram o tempo permitido e que fugiram à temática da questão.
A maioria dos deputados federais ali presentes, se estivessem prestando o ENEM, na prova de redação, se sairiam muito mal. Propositalmente ou não, a grande maioria não cumpriu o tema nem o gênero discursivo ali pedido: o voto. Ao votar, muitos dedicaram seus votos aos seus familiares, comemoraram aniversários de filhos, netos e sobrinhos, rogaram a Deus, às suas bancadas e aos seus eleitores e até a paz em Israel foi convocada.
O cerne da questão, se a Presidente Dilma cometeu ou não crime de responsabilidade, pouco foi discutida e mencionada pelos parlamentares, o que causou constrangimento, indignação e até riso por parte da população. Muitos usaram aquele momento como plataforma partidária, visando as próximas eleições. Além disso, essas falas configuram dedicatórias e homenagens e não votos.
Desse modo, temos configurados o tangenciamento, no mínimo, do tema, a fuga completa do tema e o não cumprimento do gênero discursivo exigido. A seleção, a relação e a argumentação em torno das ideias foram, no mínimo, fracas ou até nulas. A paz em Israel e na Palestina é importante, mas não tem a ver com o tema daquela votação.
Muitos deputados também demonstraram total falta de domínio da norma culta da Língua Portuguesa num contexto e num ambiente formais que exigem a adequação linguística apropriada, ou seja, a fala culta e formal.
Os Direitos Humanos também foram desrespeitados, especialmente por um determinado parlamentar que dedicou seu voto a um dos maiores torturadores e comandantes da ditadura militar brasileira. Ao mencionar uma pessoa que torturou, estuprou e matou incontáveis militantes contrários ao regime ditatorial, inclusive crianças, este deputado desrespeitou os Direitos Humanos.
O mais triste é saber que fomos nós quem elegemos estes senhores e, assim, fomos nós que os colocamos lá. Que nas próximas eleições, o estudo seja item obrigatório na lista de exigências dos eleitores, além do respeito ao próximo, o bom senso e a retórica.
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