CORRETO USO DA COLOCAÇÃO PRONOMINAL
Muita dúvida surge em relação à colocação dos pronomes oblíquos átonos (me, te, se, nos, vos, o, a, lhe) na frase. Será que, na frase “Não me toque”, o pronome deveria ficar antes do verbo (Não me toque) ou depois dele (Não toque-me)? Tudo vai depender dos ímãs, que são palavras que puxam, atraem esses pronomes:
· Qualquer palavra de sentido negativo é ímã, atrai o pronome: não, nunca, jamais, nem, ninguém, nada, etc. (Exemplo: Não me toque; Acho que ele nunca se tocou, etc.);
· A palavra QUE - menos quando for substantivo - também é ímã. Sempre atrai o pronome (Ex.: Quero que me faça um favor!; Foi ela que se estropiou. Obs.: E aquele quê chamou-me a atenção. Aqui, o “quê” é substantivo, nome, e não é ímã. Significa algo mais, qualquer coisa, etc.);
· Qualquer advérbio (palavra que exprime circunstâncias de tempo, modo, lugar, afirmação, dúvida, etc.), como hoje (tempo), sempre (tempo), já (tempo), talvez (dúvida), agora (tempo), aqui (lugar), etc. (Ex.: Aqui se faz, aqui se paga; Eles agora se entendem; Tudo já se acabou; etc. Obs.: se, após o advérbio, houver pausa (com vírgula), não haverá a atração: Ontem, deram-me um presente);
· Pronomes demonstrativos, este, esse, aquele, isso, isto, aquilo, etc. (Exemplos: Esse garoto se deu mal; Sabia que isso lhe faz bem?);
· Pronomes indefinidos, aqueles que se referem a um ser de maneira vaga, imprecisa, indefinida, como: tudo, todos, vários, muitos, poucos, diversos, alguém, ninguém, etc. (Exemplos: Ninguém se culpou; Creio que todos o chamaram, etc.);
· Conjunções subordinativas, palavrinhas que ligam as orações subordinadas às principais, como: porque, embora, conforme, se, como, quando, conquanto, caso, quanto, segundo, consoante, enquanto, quanto mais, etc. (Exemplos: Ficou bravo porque se danou; Quanto mais se gaba, mais se ilude. Obs.: se o “porque” for substituível pela palavra “que” (caso em que será explicativo), não atrairá o pronome. Exemplo: Fique quieta já, porque (que) chamaram-na de desequilibrada);
· Pronomes relativos, que, quem, o qual, a qual, quanto, onde, etc. (Exemplos: Onde se estabeleceu a desordem?; Eis a moça a quem me dirigi).
Somente nesses casos o pronome vem antes do verbo?
Não. Na expressão formada por EM + Verbo no gerúndio, o pronome SE também fica antes do verbo: “Em SE tratando de dinheiro, não tomemos partido.” O mesmo acontece nas frases exclamativas e optativas (que exprimem emoção, desejo, etc.). Exemplos: “Que Deus o acompanhe!”; “Que ele se dê muito bem”, etc.
Outra construção frequente é a formada por PREPOSIÇÃO (geralmente a, para...) + Verbo no infinitivo (cantar, cantares, cantarmos, cantarem, etc.). Levando-se em consideração o som, que deve ser agradável, convencionou-se que o pronome também deve posicionar-se antes do verbo (Exemplo: Ao se trocarem, notaram vestes estranhas no armário; Para se promoverem, fizeram coisas terríveis; etc. Obs.: Se a preposição for A e o pronome, A ou O, preferir-se-á, por questão de sonoridade, a colocação após o verbo: Eu estava a olhá-la; Eu estava a olhá-lo).
E quando o pronome vem depois do verbo?
Em primeiro lugar, é bom saber que, se não houver ímã algum, o pronome pode ficar depois do verbo. Pode, mas é claro que, se for possível a próclise, ela será preferida, pois compactua com a tendência do português falado no Brasil. Veja algumas situações em que se deve colocar o pronome após o verbo:
· Uma frase nunca deve ser iniciada por um pronome oblíquo átono (me, te, se, nos, vos, o, a, lhe). Algumas inadequações: “Me faça um favor”; “Se preocupou comigo?” Corrigindo-os, teríamos: “Faça-me um favor”; “Preocupou-se comigo?”;
· Em frases imperativas afirmativas (exprimem ordem, pedido), o pronome também fica depois do verbo: “Entregue-me o papel!”; “Dê-lhe o baralho”, etc.;
· Com o gerúndio, o pronome prefere ficar após o verbo: “O evento ocorreu desse modo, evitando-se os conflitos”; “Vi as crianças perdendo-se entre agressões”, etc. (Obs.: na expressão formada por EM + SE + gerúndio, como já foi dito, o pronome (se) fica antes do verbo. Exemplo: Em se tratando de futebol, ele é o melhor).
O pronome também pode ficar no meio do verbo?
Pode, claro. Mas a mesóclise, como é chamada essa construção, é praticamente inexistente no português falado no Brasil, tendo em vista que a nossa tendência é pôr o pronome antes do verbo. Mas é inevitável neste caso: 1) quando a frase for iniciada por um verbo no futuro do pretérito do indicativo (eu faria, tu farias, ele faria, etc.); ou 2) no futuro do presente do mesmo modo (eu farei, tu farás, ele fará, etc.).
Outro detalhe: mesmo não sendo em início de frase, quando não existe ímã e o tempo verbal é um dos dois mencionados, pode-se intercalar o pronome: “Eu preferi-lo-ia mais bem passado” (não há ímã, e o tempo é o futuro do pretérito. Pode-se deixar o pronome no meio ou, preferível, colocá-lo antes: “Eu o preferiria mais bem passado”. Errado seria colocar o pronome depois do verbo no futuro do pretérito ou do presente: “Eu preferiria-o”).
Eu a amo ou Eu amo-a?
Tanto faz. Com os pronomes eu, tu, ele, nós, vós e eles, a colocação do pronome é facultativa (você escolhe se quer antes ou depois do verbo). Logo, “Eu a amo” e “Eu amo-a” estão corretíssimas.
O infinitivo isolado é outro caso opcional: “Sem ofendê-lo (ou Sem o ofender), eu gostaria de tirar uma satisfação”. Tome cuidado para não colocar o pronome após particípios (forma em que o verbo, geralmente, termina em DO, TO e SO, como cantado, vendido, dito, etc.: “Tenho dito-lhe” (errado); “Tenho lhe dito” (certo)).
E quando houver dois ou mais verbos?
Se esses verbos dependerem um do outro, tratar-se-á de uma locução verbal: “Todos querem dançar”; “Ele vai andando”, etc. Esse é um caso bastante simples. Se quiser ter a certeza de que sempre estará de acordo com a norma-padrão, é só deixar o pronome oblíquo átono sempre depois do principal, desde que este não esteja no particípio.
Exemplos: “Realmente não estamos entendendo-a”; “Ela quis dizer-me que está bem”. Se houver palavra atrativa (ímã) antes da locução, o pronome oblíquo poderá vir antes da locução ou depois do principal: “Realmente não A estamos entendendo” ou “Realmente não estamos entendendo-A”.
Se não houver ímã algum, o pronome oblíquo pode, na prática, adotar qualquer posição; de preferência aquela que não nos fira os ouvidos: “Ela ME quis dizer que está bem”; “Ela quis ME dizer que está bem”; “Ela quis dizer-ME que está bem” (as duas últimas construções soam de maneira mais natural; em se tratando de colocação pronominal em locuções verbais, quando houver mais de uma possibilidade, apele ao seu ouvido, ao som agradável).
Obs.: Antigamente se usava o hífen quando o pronome vinha depois do verbo auxiliar (Ela quis-me dizer...). Hoje em dia, esse procedimento não mais tem sido adotado, apesar de ainda ser considerado correto. Além disso, mesmo nos casos em que há ímã antes da locução, tem sido aceita a colocação do átono no meio dela.
Nenhum comentário:
Postar um comentário