“Domingo nós fumo num samba no Bixiga Na rua Major, na casa do Nicola À mezza notte o’clock Saiu uma baita duma briga Era só pizza que avuava junto com as braciola (…)”
Domingo é dia de macarronada, certo? E também de pizza (amanhecida, que sobrou do sábado à noite) e de braciola(brachola ou bife a rolê). Mas só depois da chegada dos imigrantes italianos ao Brasil. Com eles veio também uma infinidade de contribuições.
A influência cultural desse povo não afetou apenas o Brasil: na Europa sempre foi muito grande. O desenvolvimento da gastronomia, das artes nas suas diversas manifestações (pintura, escultura, teatro, música, arquitetura e moda), das tecnologias (militares, nas engenharias) e de outros setores do conhecimento foi tamanho, que o italiano ‘exportou’ muitos estrangeirismos para diversos idiomas ocidentais, inclusive o inglês, o francês, o português e o espanhol. Já na Idade Média e no Renascimento os mercadores italianos de cidades como Veneza (lembram-se de Marco Polo?) e Gênova e os artistas se encarregaram de difundir as palavras e os produtos italianos.
Muitas pessoas ignoram que um grande número das palavras do cotidiano veio da Itália, na bagagem dos imigrantes ou dos artistas, pela via popular e pela erudita. Vejamos alguns exemplos:
- Gastronomia: nhoque, lasanha, espaguete, macarrão, muçarela, panetone, pizza, polenta e risoto;
- Música: arpejo, batuta, cantata, contralto, maestro, partitura, piano, sonata e violoncelo (além da notação internacionalmente usada de andamentos, como adágio, alegro, andante, largo, piano, presto);
- Arquitetura, moda, teatro e artes plásticas: aquarela, esboço, desenho, esfumar, têmpera, paleta, siena e magenta; baeta, brocado, feltro, tafetá e musselina; balcão, balaústre, baldaquim, cenário, entalhe, maquete, mezanino, praça, pérgula, pilastra;
- Áreas militar e naval: brigada, canhão, carroça, coronel, batalhão, esquadrão, mosquete, casamata, fosso, reduto, soldado, infantaria, florete, avaria, bergantim, mezena, carena, mercante, piloto, fragata, galera, bússola;
- Personalidades: maquiavélico (de Niccolò Macchiavelli, autor de “O Príncipe”), baderna (Marietta Baderna, uma atriz italiana que causou grande confusão quando esteve em São Paulo) e cicerone (de Cícero, político e orador romano);
- Cidades ou regiões específicas da Itália: merengue, faiança, pistola e siena (referentes a produtos das cidades de Marengue, Faenza, Pistoia e Sienna)
Realmente não há necessidade de saber a origem da palavra para poder empregá-la nas situações de comunicação, porém é nessa origem que encontraremos algumas explicações para a ortografia. O italiano apresenta alguns dígrafos que não possuímos no português, além das ‘ doppias’, letras dobradas. Assim, num primeiro momento, esses estrangeirismos eram grafados como no original, apenas entre aspas, para indicar que não pertenciam ao nosso idioma, e, com o passar do tempo e a incorporação de fato no nosso cotidiano, acabaram sendo aportuguesadas, com adaptações à nossa fonética e ortografia.
Os aportuguesamentos ficaram assim:
- -gl- passou a -lh- (talharim)
- -gn- passou a -nh- (nhoque)
- -gh- passou a -gu- (espaguete)
- -zz- passou a -ç- (praça, carroça e MUÇARELA!)
É claro que podemos não gostar, por exemplo, da aparência do nome desse tão difundido queijo. Nesse caso, retomemos a palavra original, mozzarella, mas sempre entre aspas ou em itálico, se o texto for digitado.
Usar os italianismos foi uma maneira criativa de que autores e compositores lançaram mão para construir seus textos e personagens, como fez Adoniran Barbosa (na música com que comecei o texto de hoje e em muitas outras); Alcântara Machado, em “Brás, Bixiga e Barra Funda”, por exemplo; Mário de Andrade, em “Pauliceia Desvairada” e Juó Bananére, em “La Divina Increnca”, entre outros.
Não podemos nos esquecer de que as línguas são ‘organismos’ vivos e estão sempre em mutação, conforme o uso que fazem seus falantes e esses acréscimos são modos de enriquecer os idiomas, mas nada feito com exagero é aconselhável: a norma culta prefere os termos aportuguesados aos estrangeiros, por isso atenção à escolha e à pontuação, se optar pelo termo do outro idioma.
É isso, agora vou comer a pizza de muçarela que sobrou de ontem
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