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27 de outubro de 2017

UM COMENTÁRIO!!!




Com a proximidade do final de ano, é dada a largada na maratona dos vestibulares para preencher as vagas das faculdades e universidades para o próximo ano e, neste último fim de semana, foi realizado o vestibular da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, a PUCCAMP, uma das maiores e mais respeitadas universidades particulares do interior de São Paulo. A instituição realiza, na verdade, dois vestibulares: um específico para o curso de graduação em Direito e outro para os demais cursos oferecidos.
A prova de redação do vestibular da PUCCAMP para a maioria dos cursos de graduação é composta por duas propostas de produção de uma dissertação e o candidato deve escolher apenas uma delas.
Qualquer que seja a escolha, o texto deve ter, no mínimo, trinta linhas (a folha de prova contém quarenta linhas) e devem estar de acordo com o tema e o gênero; caso contrário, a nota atribuída é zero. Além disso, as instruções falam que o candidato deve empregar um “nível de linguagem à sua escolha”, ou seja, não há, como no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) nenhuma menção à norma culta da Língua Portuguesa, cabendo ao participante saber disso. O mesmo é dito em relação aos recursos gramaticais e ao vocabulário para manter a coesão textual.
A primeira proposta de dissertação é baseada na adaptação de artigo de opinião publicado no jornal Folha de São Paulo no dia 30 de setembro deste ano cujo autor é Oscar Vilhena Vieira, advogado formado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), doutor pela Universidade de São Paulo (USP) e com pós-doutorado pela Universidade de Oxford. Veja o texto fonte:
Leia o texto abaixo procurando apreender o tema nele desenvolvido. Em seguida, elabore uma dissertação, na qual você exporá, de modo claro e coerente, suas ideias acerca desse tema.

A desigualdade não é um acidente na história de uma sociedade, mas sim fruto de deliberadas escolhas políticas e institucionais que favorecem a concentração de renda, bens e benefícios públicos. A situação crítica de muitas regiões brasileiras deveria deixar claro que, quando a desigualdade é profunda e persistente, ela compromete fortemente o devido funcionamento das instituições e a própria coesão social.

Apesar dos esforços de distribuição de riqueza por intermédio do acesso à educação, saúde, saneamento básico e mesmo assistência social, articulados pela Constituição de 1988, o Brasil não se tornou um país mais justo nas últimas décadas. Como aponta relatório da Oxfam, os 5% mais ricos detêm 95% da renda nacional. As 6 maiores fortunas concentram o mesmo que 50% da população.
Os indicadores sociais apontam para uma relativa melhoria das condições de vida dos mais pobres propiciada pela estratégia social democrata adotada em 1988, mas mesmo a redução da pobreza não redundou numa significativa redução da desigualdade.
Há razões para esse paradoxo, e parecem estar, por exemplo, nos diversos benefícios regiamente oferecidos aos mais ricos, nos truques para não pagarem impostos e nas opulentas aposentadorias.
O problema é que esse padrão de abissal desigualdade institucionalmente entrincheirado corrói o tecido social e perverte o modo como as instituições republicanas funcionam. De um lado a desigualdade inibe a construção de relações de reciprocidade, dificultando que as pessoas vejam a si, e aos demais, como merecedores de igual respeito e consideração. A exclusão e os privilégios, e não verdadeiros direitos, passam a determinar as relações sociais. Numa sociedade individualista e de consumo, como a brasileira, isso redunda necessariamente em tensão social, violência e banalização da vida.
De outro lado, o enorme desequilíbrio de poder dentro da sociedade, decorrente da extrema desigualdade, também impacta de outro modo: setores influentes da sociedade extraem benefícios inaceitáveis do poder público, enquanto os mais pobres, especialmente quando vistos como ameaça, recebem das instituições tratamento inversamente proporcional: a regra é o descaso, o arbítrio, a violência. O resultado de tudo isso é uma imensa e crescente desconfiança nas instituições.
A saída dessa crise mais profunda, gerada pela naturalização da desigualdade, dependerá da construção de um novo projeto de nação.
(Adaptado de: VIEIRA, Oscar Vilhena. Folha de S. Paulo, B2, Cotidiano. 30/09/2017)
O tema do artigo de opinião utilizado como texto fonte nesta proposta de redação do vestibular 2018 da PUCCAMP é a desigualdade social e o ponto de vista defendido pelo autor é que, apesar de esta desigualdade não ser fruto de um acidente na história, muitos a tratam como algo natural ou já naturalizado pelo tempo. De acordo com Oscar Vilhena Vieira, a desigualdade social no Brasil é resultado de escolhas deliberadas, por parte dos políticos e das instituições, com o objetivo de favorecer a concentração de renda entre poucos.
Como argumento principal, o autor cita problemas crônicos em certas regiões brasileiras, o que afeta a coesão social, já que está comprovado que os 5% mais ricos detém 95% da renda nacional e que as seis maiores fortunas do país concentram o mesmo que 50% da população do Brasil.
Oscar Vilhena Vieira contra-argumenta que houve sim uma pequena melhora após o final da década de 80, quando em 1988 a Constituição foi promulgada, mas isso não significou nem significa uma verdadeira redução da desigualdade social no nosso país, o que para o autor é um paradoxo, mas que tem explicação.
Para o advogado, os mais ricos são beneficiados por políticos e pelas instituições brasileiras ao formularem truques para sonegar impostos e por meio de opulentas aposentadorias, o que causa uma desigualdade social abissal, mas institucionalmente legalizada, causando exclusão social.
Deste modo, segundo o autor, os ricos passam a ter privilégios (não direitos) e os mais pobres começam a pensar que não são merecedores de seus direitos, o que a sociedade do consumo corrobora, levando até para a questão que a vida de um pobre não vale nada ou vale muito pouco.
Outra consequência deste processo é o tratamento dado pelo Estado e suas instituições aos mais ricos e aos mais pobres. Estes, quando são vistos como ameaças, são tratados com descaso e violência.
De acordo com Oscar Vilhena Vieira, a única saída desta situação é um novo projeto de nação.
Este texto, mesmo que adaptado, é um belo exemplo de um gênero da ordem do dissertar e do argumentar, pois o autor opina, argumenta, exemplifica e analisa muito bem o tema escolhido. O candidato deveria ler este artigo de opinião com atenção e escrever uma dissertação-argumentativa acerca da desigualdade social no Brasil como proposital e suas consequências, refutando a ideia de que este fenômeno é natural, como se deveria ser assim mesmo e é.
Há, neste texto, uma crítica sobre consumismo, individualismo, exclusão social, concentração de renda… Ou seja, há uma crítica ao capitalismo neoliberal e à corrupção, já que os mais ricos se valem de corrupções, como sonegação de impostos, e de favores políticos para se manterem como estão.
Na atual situação do Brasil, talvez este seja um dos temas mais pertinentes e relevantes para se abordar em uma prova de redação.

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