Com a proximidade do final de ano, é dada a largada na maratona dos vestibulares para preencher as vagas das faculdades e universidades para o próximo ano e, neste último fim de semana, foi realizado o vestibular da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, a PUCCAMP, uma das maiores e mais respeitadas universidades particulares do interior de São Paulo. A instituição realiza, na verdade, dois vestibulares: um específico para o curso de graduação em Direito e outro para os demais cursos oferecidos.
A prova de redação do vestibular da PUCCAMP para a maioria dos cursos de graduação é composta por duas propostas de produção de uma dissertação e o candidato deve escolher apenas uma delas. Qualquer que seja a escolha, o texto deve ter, no mínimo, trinta linhas (a folha de prova contém quarenta linhas) e devem estar de acordo com o tema e o gênero; caso contrário, a nota atribuída é zero. Além disso, as instruções falam que o candidato deve empregar um “nível de linguagem à sua escolha”, ou seja, não há, como no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) nenhuma menção à norma culta da Língua Portuguesa, cabendo ao participante saber disso. O mesmo é dito em relação aos recursos gramaticais e ao vocabulário para manter a coesão textual. A primeira proposta de dissertação é baseada na adaptação de artigo de opinião publicado no jornal Folha de São Paulo no dia 30 de setembro deste ano cujo autor é Oscar Vilhena Vieira, advogado formado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), doutor pela Universidade de São Paulo (USP) e com pós-doutorado pela Universidade de Oxford. Veja o texto fonte: Leia o texto abaixo procurando apreender o tema nele desenvolvido. Em seguida, elabore uma dissertação, na qual você exporá, de modo claro e coerente, suas ideias acerca desse tema. O tema do artigo de opinião utilizado como texto fonte nesta proposta de redação do vestibular 2018 da PUCCAMP é a desigualdade social e o ponto de vista defendido pelo autor é que, apesar de esta desigualdade não ser fruto de um acidente na história, muitos a tratam como algo natural ou já naturalizado pelo tempo. De acordo com Oscar Vilhena Vieira, a desigualdade social no Brasil é resultado de escolhas deliberadas, por parte dos políticos e das instituições, com o objetivo de favorecer a concentração de renda entre poucos. Como argumento principal, o autor cita problemas crônicos em certas regiões brasileiras, o que afeta a coesão social, já que está comprovado que os 5% mais ricos detém 95% da renda nacional e que as seis maiores fortunas do país concentram o mesmo que 50% da população do Brasil. Oscar Vilhena Vieira contra-argumenta que houve sim uma pequena melhora após o final da década de 80, quando em 1988 a Constituição foi promulgada, mas isso não significou nem significa uma verdadeira redução da desigualdade social no nosso país, o que para o autor é um paradoxo, mas que tem explicação. Para o advogado, os mais ricos são beneficiados por políticos e pelas instituições brasileiras ao formularem truques para sonegar impostos e por meio de opulentas aposentadorias, o que causa uma desigualdade social abissal, mas institucionalmente legalizada, causando exclusão social. Deste modo, segundo o autor, os ricos passam a ter privilégios (não direitos) e os mais pobres começam a pensar que não são merecedores de seus direitos, o que a sociedade do consumo corrobora, levando até para a questão que a vida de um pobre não vale nada ou vale muito pouco. Outra consequência deste processo é o tratamento dado pelo Estado e suas instituições aos mais ricos e aos mais pobres. Estes, quando são vistos como ameaças, são tratados com descaso e violência. De acordo com Oscar Vilhena Vieira, a única saída desta situação é um novo projeto de nação. Este texto, mesmo que adaptado, é um belo exemplo de um gênero da ordem do dissertar e do argumentar, pois o autor opina, argumenta, exemplifica e analisa muito bem o tema escolhido. O candidato deveria ler este artigo de opinião com atenção e escrever uma dissertação-argumentativa acerca da desigualdade social no Brasil como proposital e suas consequências, refutando a ideia de que este fenômeno é natural, como se deveria ser assim mesmo e é. Há, neste texto, uma crítica sobre consumismo, individualismo, exclusão social, concentração de renda… Ou seja, há uma crítica ao capitalismo neoliberal e à corrupção, já que os mais ricos se valem de corrupções, como sonegação de impostos, e de favores políticos para se manterem como estão. Na atual situação do Brasil, talvez este seja um dos temas mais pertinentes e relevantes para se abordar em uma prova de redação. |
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27 de outubro de 2017
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