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17 de abril de 2010

Desamparados do mundo, uni-vos - leitura - observem

Se tivesse que definir os tempos atuais, diria que são tempos de desamparo. tempos em que crescem a solidão, o vazio, a depressão e diminuem os ideais sociais. É verdade que o homo sapiens, gerado diante das forças da natureza a de enigmas como a morte, foi o motor da construção da civilização. No indivíduo, os desamparados constituem a realidade psíquica e cada um aprende a enfrentá-la, pois só assim se transforma. Entretanto, tudo indica que nesta modernidade líquida atual, o desamparo cresceu. Diminuiu a solidez das instituições e aumentou a desconfiança e a insegurança. E, ainda, não se pode esquecer do desamparo assustador vivido pela população que está abaixo da linha de pobreza.
O desamparo gera angústia que pode der traumática. Estar desamparado é se sentir assustado, perdido, é perder o norte. Várias são as situações que geram desamparo: a morte, a separação amorosa, o sentimento de fracasso, a doença, a velhice, a violência. O desamparado, quando não sabe o que fazer de sua vida, pode desenvolver a síndrome do pânico, ou seguir o caminho das drogas, dos vícios em geral, que surgem como salvação ao desamparo. Há também os que buscam a segurança nos diferentes fanatismos, bem como os sofredores crônicos, que suportam a dependência, para não enfrentar o desamparo da liberdade. O sintomas psíquicos seriam, portanto, uma reação e uma proteção ao desamparo.
Mas o que fazer para aliviar o desamparo? Desconfie das respostas fáceis, porém primeiro é preciso buscar algum tipo de ajuda, de apoio, e esta decisão é, com certeza, meio cominho andado. A criança, por exemplo, enfrenta seu desamparo brincando, pois ao brincar ela reproduz suas experiências aflitivas para, então, dominá-las; as crianças passam, portanto, de situações passivas de sofrimento para sentimentos ativos de domínio. Em minha infância, numa fase difícil de desamparo, tive a felicidade de conhecer Crarles Chaplin, que vinha todos os domingos ao bairro Bom Fim. lembro como ficava espantado e feliz ao ver o incrível Vagabundo, pobre e pequeno, vencendo todos os desafios contra os poderosos. Saía do cinema animado e sabia que voltaria a vê-lo. A arte não cura o desamparo, porque nada cura na verdade, mas alivia, e muito. O mesmo ocorre com o bom humor, que, sendo um sorriso entre lágrimas, diminui o drama da existência trágica do ser.
Quando um castelo de areia desaba, muitos choram, mas outros juntam a areia para construir outro castelo. Fiz parte do sonho de um mundo com igualdade e sem guerras, guiado pelo famoso lema: "Trabalhadores do mundo inteiro, uni-vos", que desconhecia a face sombria da humanidade, como a crueldade e a vaidade do poder. O castelo do paraíso ruiu, e outros são erguidos, lentamente, das mais variadas formas, na busca de reinventar o cotidiano junto aos demais. A propósito, há um provérbio em zulu: "Umuntu nnagabantu". Uma pessoa é uma pessoa por meio de outras pessoas. - Abrão Slavutzky - Psicanalista

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