Segundo o dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, “tolerar” significa suportar algo ou alguém que é agressivo, indesejável; consentir, admitir, permitir e não impedir; aturar-se reciprocamente. Por outro lado, de acordo com o mesmo dicionário, “respeitar” significa ter respeito, deferência por algo ou alguém, ter consideração; reconhecer; ter cuidado.
Esta simples consulta ao dicionário nos faz perceber claramente que o ideal é respeitar as pessoas e tolerar seria o mínimo para a convivência pacífica em uma sociedade.
Em meio a debates acalorados nas redes sociais, nos almoços e jantares de famílias, nas reuniões entre amigos e nas pausas com os colegas de trabalhos estamos testemunhando e até nos envolvendo em situações nas quais não há tolerância e muito menos respeito. Não que não devemos discutir ideias, pois estas estão aí justamente para serem debatidas, questionadas, discutidas e daí então acatadas ou não. O que não devemos fazer é faltar com o respeito para com as pessoas que pensam diferente de nós.
E quando há falta de respeito normalmente o debate enveredou para a esfera individual e pessoal, ou seja, foi para o lado pessoal e daí toda discussão cessa, isto é, acaba.
“Da intolerância ao respeito: como fazer esta mudança?“. Vivemos em uma democracia na qual há liberdade de expressão e na qual não deve haver opressão em relação a ela e neste campo entra em debate as ideias e, nesta seara, há discussão do que é de bom ou de mau gosto, por exemplo.
Podemos conviver com alguém que pensa diferente de nós? Sim, podemos e devemos, pois assim exercemos nossas habilidades de argumentação, persuasão, paciência, tolerância e respeito por meio do embasamento de nossas opiniões e de nossos pontos de vista. Caso o pensamento diferente não fira a lei, nada mais a fazer do que isso. Agora, se o pensamento distinto ferir a lei e incentivar racismo, homofobia, misoginia e demais atos ilegais daí estamos tratando de discursos de ódio e não de liberdade de expressão e estes sim devem ser combatidos, assim como o desrespeito aos direitos humanos na prova de redação do Enem.
Críticos do exame apontam que o critério de respeito aos direitos humanos na prova de redação do Enem fere o direito à liberdade de expressão, pois os candidatos deveriam escrever o que a prova pede, mas não. O respeito aos direitos humanos como critério de avaliação e correção numa prova de redação só mostra que este exame, no caso, o Enem, almeja futuros alunos universitários que respeitem a dignidade humana e que saibam conviver com as diferenças, ou seja, no mínimo, tolerar o outro.
Gabriela Araújo, ex-corretora do Enem e coordenadora de um grande colégio do interior de São Paulo afirmou em entrevista que:
Você pode se posicionar com uma visão diferente da coletânea da prova, mas a pessoa não pode dizer que xingar ou se posicionar de forma agressiva contra uma outra pessoa é liberdade de expressão. Há um limite entre liberdade de expressão e crime. Os direitos humanos protegem humanos de outros seres humanos, respeitar isso na redação é o mínimo que se espera de um aluno.
A partir de 2013, o desrespeito à competência número cinco pode resultar em anulação da dissertação-argumentativa, o que resultou em 955 redações anuladas por este motivo em 2014; já no ano de 2016, juntando as duas edições do Enem, este número saltou para 4.798 redações anuladas por ferirem os direitos humanos.
Obviamente que a tolerância e o respeito, que seria o ideal, devem ser praticados além do Enem e, assim, devem ser levados para a vida e para todas as esferas de convivência social (escolar, do trabalho, familiar, das relações íntimas etc).
Como promover esta mudança? Como passarmos da tolerância para o respeito? Será que um dia alcançaremos este patamar? Espero sinceramente que sim.
DISSERTE SOBRE - DA INTOLERÂNCIA AO RESPEITO; COMO FAZER ESSA MUDANÇA?
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