Redação do ENEM 2015: texto Nota 1.000 |
Os espelhos das redações corrigidas da edição do ano de 2015 do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) foram publicados pelo Ministério da Educação no último dia 13 de junho, depois de mais de três meses de atraso, já que tal divulgação fora prometida pelo Governo Federal para o início deste ano.
Com isso, a imprensa teve acesso a dissertações-argumentativas que obtiveram a nota máximo na prova de redação do exame, 1.000 pontos e é uma destas redações que vamos analisar e comentar no texto de hoje.
O tema da redação do ENEM 2015 foi “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira” e a proposta foi assim apresentada aos candidatos no segundo dia de provas:
A dissertação-argumentativa que analisamos é a da candidata Amanda Carvalho Maia Castro, publicada na seção de educação do portal na internet G1:
Na introdução deste texto, podemos ver um claro exemplo sobre como usar adequadamente a coletânea de textos motivadores das propostas de redação do ENEM, já que este afirma não permitir a cópia parcial e/ou integral dos textos que compõem a coletânea. A candidata, a fim de embasar a sua afirmação de que houve um aumento das violências (física, sexual, psicológica, financeira etc) contra as mulheres, cita dados estatísticos presentes na coletânea da proposta de redação articulando-os com as suas palavras.
Já a tese de Amanda é que tal violência tem raízes históricas e ideológicas, ou seja, ela se refere, talvez sem saber, à cultura do estupro. Na verdade, somos envoltos em ideologias, pois a neutralidade não existe; afirmar que é neutro em política, por exemplo, já que é uma posição ideológica. Nesta questão específica, as ideologias relacionadas à violência contra a mulher são, dentre elas, o machismo, o patriarcalismo e a misoginia (ódio ou aversão às mulheres).
E é citando a sociedade patriarcal que a candidata inicia o desenvolvimento da sua redação, juntamente com o acréscimo à discussão de termos biológicos e filosóficos, utilizando, inclusive, a frase de Simone de Beavouir por sua vez usada no caderno de questões do ENEM 2015. Assim, Amanda pontua a segunda competência.
A candidata, ao fazer isso, contextualiza a violência contra as mulheres e a define como naturalizada justamente por essas questões culturais e sociais que colocam a mulher como um ser inferior ao homem, o que liga ao machismo no terceiro parágrafo da sua dissertação-argumentativa, argumentando que a cultura machismo, além de ter a mulher como inferior, a objetifica como produto sexual que o deve servir no sexo, na casa, no relacionamento etc.
Segundo Amanda, e com toda razão, esta atmosfera tem como consequência uma cultura do medo, já que nós, mulheres, estamos expostas às violências dentro e fora de casa e este também é o motivo, de acordo com a candidata, do baixo número de denúncias.
Deste modo, no desenvolvimento, esta redação realmente desenvolveu, de maneira embasada, as questões históricas e ideológicas mencionadas na introdução, explicando o que é, como se dá e quais são as consequências da cultura do estupro no Brasil.
Para Amanda, tal cultura dificulta a erradicação da violência contra a mulher na sociedade brasileira, mas mesmo assim a candidata propõe uma intervenção social, pontuando a quinta competência. Sua proposta é que a mídia deixe de usar seu poder de propagação de informação para promover a objetificação da mulher (aqui a candidata não cita, mas podemos nos lembrar das propagandas, papéis em novelas etc) e passe a difundir campanhas governamentais que incentivem as denúncias de casos de violência e que o poder Legislativo crie leis mais severas em relação a punição dos agressores a fim de diminuir a reincidência.
Esperamos que esta redação nota 1.000 sirva de inspiração para os candidatos ao ENEM 2016.
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