Questão 01: O trecho “Pensa-se logo num palhaço” , pode ser reescrito, respeitando a transitividade do verbo e mantendo o sentido, assim:
(A) O palhaço pode ser logo pensado.
(B) Pensam logo num palhaço.
(C) Pode-se pensar num palhaço.
(D) Pensam-se logo num palhaço.
(E) O palhaço é logo pensado.
RESPOSTA:
O próprio enunciado da questão já dá a dica: para resolvê-la, o candidato tem que verificar a transitividade verbal. Quem se lembrou de que somente VTD e VTDI aceitam voz passiva elevou muito as chances de marcar a alternativa correta.
O verbo “pensar” foi, aqui, usado como VTI. Sendo assim, aquele “se” que o acompanha não pode ser considerado partícula apassivadora. Conclui-se, então, que a frase não está na voz passiva sintética e que não pode ser convertida para a voz passiva analítica.
A voz do verbo, no trecho do enunciado, é ativa. O “se” que o acompanha tem a função de mostrar que não se sabe ou não há interesse em dizer quem é o sujeito. Logo, o “se” é um índice de indeterminação do sujeito.
Sabendo que verbos que não sejam VTD ou VTDI não aceitam a voz passiva, podemos eliminar as alternativas A e E.
Outro detalhe: quando um verbo é acompanhado de “se” com a função de IIS, ele deve ficar na 3a pessoa do singular. Logo, podemos eliminar a alternativa D.
Ficamos entre B e C. A alternativa C apresenta uma frase correta, com “se” exercendo a função de IIS. Todavia, o sentido dela é diferente do sentido apresentado pelo trecho do enunciado. Neste, não há ideia de possibilidade. Naquele, sim.
A resposta, então, é a letra B. Além do uso do “se” – IIS, há outra forma de indeterminar o sujeito: utilizando-se o verbo na 3a pessoa do plural sem que haja referência anterior ao sujeito dele. Logo, o sentido de “pensa-se logo num palhaço” é o mesmo de “pensam logo num palhaço”.
RESPOSTA: letra B.
Questão 02: A expressão em que a retirada do sinal indicativo de crase altera o sentido da sentença é
(A) Chegou à noite.
(B) Devolveu o livro à Maria.
(C) Dei o presente à sua irmã.
(D) O menino foi até à porta do circo.
(E) O circo voltou à minha cidade.
RESPOSTA:
Nem sempre a retirada do acento grave indicativo de crase acarretará erro. Quando a crase for facultativa, sua retirada em nada alterará a sentença; se ela for obrigatória, sua omissão implicará erro; caso ela seja proibida, não deve aparecer de jeito nenhum.
Em algumas situações, porém, a opção pelo uso do sinal indicativo de crase depende do sentido que se deseja dar à frase.
Na questão analisada, temos as seguintes situações:
Letra B – crase facultativa: o uso da crase antes de nome próprio feminino obedece às seguintes regras:
1. Nome próprio completo: crase proibida, pois o uso da crase indica que há, além da preposição, o artigo “a”. A colocação de artigo antes de um nome próprio denota um contexto de intimidade, enquanto o uso do nome próprio completo indica que há formalidade. Logo, a convivência entre artigo e nome completo é algo incoerente.
2. Nome próprio – uso do primeiro nome + determinante que indique proximidade: crase obrigatória. Se houver alguma expressão que denote intimidade, o artigo deverá ser usado antes do nome. Se o nome for feminino e precedido, também, da preposição A, ocorrerá crase. Se tivéssemos, então, a sentença “dei um presente à Ana, minha amiga”, a crase seria obrigatória.
3. Nome próprio – uso somente do primeiro nome, sem determinante que indique intimidade: crase facultativa. Como não há contexto que indique intimidade e nem que indique formalidade, a colocação da crase passa a ser uma opção de quem escreve.
Letras C e E – crase facultativa.
O uso de artigo antes de pronomes possessivos é facultativo. Logo, posso dizer tanto “este é o meu livro” quanto “este é meu livro”. Quando temos um pronome possessivo feminino singular precedido da preposição “a”, deparamos com a seguinte situação: não é possível afirmar com certeza se, além da preposição, há também um artigo ali. Vejamos:
Dirigiu-se a minha bicicleta.
Havendo ou não artigo nessa frase, o “a” ficará no singular, pois artigos concordam com o termo a que se referem. Se a crase acontecer, é sinal de que o artigo está lá; se não for, só há preposição. Usar ou não o acento grave, nesse caso, é opção de quem escreve.
Se, todavia, estivéssemos diante do seguinte enunciados, a situação seria outra:
Referiu-se às minhas palavras.
Aqui, temos um pronome possessivo feminino plural precedido por “as”, também no plural. Como a preposição é uma palavra invariável, sabemos que o termo que foi para o plural, acima, é um artigo. Logo, ÀS é a soma de A (prep.) + A (art.). Assim, havendo exigência de preposição, se tivermos AS + pronome possessivo feminino no plural, a crase será obrigatória.
Pelo contrário, se a frase fosse escrita como abaixo, o que ocorreria?
Referiu-se a minhas palavras.
A ausência de concordância entre o “a” e o “minhas”, acima, indica que não há artigo para se fundir com a preposição, de modo que a crase não pode acontecer. Conclusão: quando há exigência de preposição, se houver um A (singular) que anteceda pronome possessivo feminino no plural, a crase será proibida.
OBSERVAÇÃO: se houver palavra subentendida, a crase antes de pronome possessivo feminino singular será obrigatório. Exemplo:
Referiu-se às minhas palavras, não às suas. (O vocábulo “palavras” está subentendido aí, depois de suas. Logo, a crase é obrigatória).
Letra D – crase facultativa.
A regra geral enuncia que não pode haver crase depois de preposição. Temos, todavia, uma exceção: após a preposição “até” a ocorrência de crase é facultativa, pois, nesse caso, o uso da preposição “a” é facultativo! Observem:
Fui até o parque.
Fui até ao parque.
Ambas as frases acima estão corretas. Na primeira, optou-se por não usar a preposição “a”. Na segunda, ela foi usada. Quando a palavra é feminina, a opção pelo uso da preposição “a” acarreta sua fusão com o artigo “a”, o que implica a existência do sinal indicativo de crase.
O menino foi até a porta do circo – somente artigo
O menino foi até a+a porta do circo – preposição + artigo = O menino foi até à porta do circo.
Letra A – pode-se usar ou não a crase, mas a opção por usar ou não acarreta variação brusca de sentido.
Chegou à noite – o termo em negrito é uma expressão adverbial feminina, por isso apresenta acento grave. O sujeito é desinencial, marcado pela terminação do verbo (3a pessoa do singular – ele/ela).
Chegou a noite – o termo em negrito é o sujeito da frase (quem chegou? A noite). Como é sujeito, não pode apresentar acento grave, pois o núcleo do sujeito não pode ser preposicionado. Essa frase equivale a dizer “anoiteceu”.
Sendo assim, a alternativa em que a retirada do sinal indicativo de crase acarreta mudança de sentido é a letra A.
RESPOSTA: letra A.
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