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31 de março de 2014

Texto - avanço tecnológico e o afastamento das relações interpessoais

Diz a anedota: “o computador veio resolver problemas que a gente não tinha”. Cada nova aquisição tecnológica deve sempre ser analisada à luz da relação custo-benefício, ou utilidade versus problemas.
Ainda que não se saiba até o momento, e com certeza, se os problemas relacionados à Internet serão clinicamente significativos no futuro ou se serão de irrelevantes, o que se tem constatado é que seu uso pode estar presente em diversas patologias psíquicas, ora aparecendo como condição secundária à essas patologias, ora constituindo-se numa condição primária da própria patologia. No primeiro caso teríamos a manifestação de alguns transtornos através da Internet, como seria o caso da adição ao jogo e ao sexo, no segundo caso como a nova descrição psicopatológica da Adição à Internet.
Alguns autores mais pessimistas consideram que os novos dispositivos tecnológicos capazes de diminuir muito, ou mesmo substituir, esforços humanos podem nos debilitar, podem nos fazer menos humanos. E pouco importa se tal temor tenha ou não fundamento, pois já foi provocado por diferentes avanços tecnológicos em diferentes momentos da história. Agora é a vez da Internet a provocar o mesmo temor. 
Dentro das dependências sem substância, que podem ser comparadas à comportamentos compulsivos, a única reconhecida nas classificações oficiais é o Jogo Patológico. Entretanto, o uso por Compulsão da Internet, bem como o excesso de exercício físico, de trabalho, o Sexo Compulsivo, a Compulsão às Compras, alguns incluídos nos Transtornos do Controle de Impulsos, são quadros que devem ser mais bem estudados pelas importantes implicações na vida cotidiana.
Não sabemos ainda se é justo falar em compulsão à Internet, se existem pessoas consideradas normais que passam muito tempo na frente da televisão ou do aparelho de som e, muito possivelmente, também com prejuízo do relacionamento interpessoal. É comum nos consultórios de psiquiatria, pais que tentam atribuir diagnóstico de aditos à Internet para seus filhos. Entretanto, esses mesmos pais passam também muitas horas no trabalho, além daquelas horas que o ganho de dinheiro justificaria, ou diante da televisão, no bar.
Enquanto o álcool, a maconha e a cocaína podem ser consideradas drogas facilitam o contacto social, a adição à Internet seria uma patologia que se desenvolve em pessoas de vocação solitária. Acreditamos que seriam, além de pessoas solitárias, também não desejosas do convívio interpessoal exuberante e entusiasmado. Trata-se de uma opção de postura social, compensada e gratificada pela Internet, pois são comuns os traços de introversão na personalidade de informáticos compulsivos.
O mais sensato, talvez e por ora, seria reservar a denominação Compulsão à Internet aos usuários que, além de preencherem critérios de adicção, recorressem à Internet para jogos, bate-papo e pornografia. Isso, pelo fato da Internet ser um importante meio de trabalho para muitos, uma oportunidade de extraordinária criatividade para outros e uma vasta fonte de informação para todos. Há pois, necessidade de diferenciarmos o lazer, o trabalho e a informação da adicção, propriamente dita.
Com todos esses cuidados, os partidários da classificação desta síndrome definem o dependente como a pessoa que se utiliza excessivamente da Internet, gerando uma distorção de seus objetivos pessoais, familiares ou profissionais. Se uma pessoa passa horas e horas conectada, negligenciando obrigações familiares, pessoais e profissionais de forma reiterada, podemos estar diante de uma situação de adicção. Mesmo assim, não está claro se a Compulsão à Internet deva ser considerada uma patologia própria ou se ela representa apenas um sintoma de algum outro estado emocional subjacente.
A socialização e a comunicação interpessoal virtuais parecem constituir os elementos básicos do efeito aditivo da Internet para um grande número de internautas, manifestando-se através do intercâmbio dos chats, do correio eletrônico, participação em grupos de discussão, conversações em tempo real. Para outro grupo, a busca de prazeres sexuais negados pela realidade concreta tem sido o ponto chave, aparecendo sob a forma da busca continuada e excessiva de material erótico e pornográfico.
Distintos estudos sustentam que o uso da Internet poderia causar um impacto negativo em nossas relações sociais habituais, em nosso espaço cotidiano, levando-nos, por exemplo, a perder parte de nosso círculo social, a diminuir o tempo de comunicação familiar ou a incrementar o sentimento de solidão.
Não é de se estranhar que tenham surgido diversas hipóteses sustentando existir um uso patológico da Internet, e que tal uso, para alguns estudos, têm como resultado o desenvolvimento de transtornos emocionais ainda não classificados nos manuais diagnósticos, para outros, o contrário, ou seja, alguns transtornos emocionais e de personalidade é que favoreceriam a adição à Internet.

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