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19 de março de 2017

ESTUDANDO PARA O ENEM


“Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis, nada menos”.
Alguém já sentiu certa estranheza ao ler essa passagem de “Memórias Póstumas de Brás Cubas”? Em caso afirmativo, ouso afirmar que Machado de Assis obteve êxito! (Como se ele não fosse mesmo bom em provocar reflexões, não é?)
Ao colocar juntas uma ideia temporal e outra ‘financeira’, o Bruxo do Cosme Velho1 realçou o caráter interesseiro da personagem Marcela. E esse efeito foi resultado da quebra de paralelismo.
Esse mecanismo, o paralelismo, pode se dar em três planos: o morfológico, o sintático e o semântico. Ele caracteriza-se pelas relações de semelhança entre palavras e expressões, o que pode ocorrer tanto no plano morfológico (quando os termos pertencem à mesma classe gramatical), quanto no sintático (quando há semelhança entre frases ou orações) ou no semântico (quando há correspondência de sentido entre os termos).
Um exemplo de quebra no paralelismo morfológico, que ocasiona uma interpretação absurda, pode ser visto na placa abaixo, retirada de uma página humorística da internet:
O autor da placa, descuidadamente, misturou elementos de natureza diferente: há substantivo e verbo na lista. E a sequência acabou sendo lida e interpretada como uma frase, que resultou na imagem que aparece após a placa: nenhuma bicicleta pode fumar cachorros naquele lugar!
É preciso destacar que quando a quebra é manifestada de forma intencional, como fez Machado de Assis, não configura um desvio, porque um dos um dos recursos estilísticos mais frequentes na sua obra foi a ironia.  No caso da placa, temos um defeito na construção do texto, pois não podemos colocar, em um mesmo conjunto, elementos de natureza diferente (nem mesmo na Matemática!)
Para fazermos um contraponto, observemos agora a música “O quereres”, de Caetano Veloso:
Onde queres revólver, sou coqueiro
Onde queres dinheiro, sou paixão
Onde queres descanso, sou desejo
E onde sou só desejo, queres não
E onde não queres nada, nada falta
E onde voas bem alta, eu sou o chão
E onde pisas o chão, minha alma salta
E ganha liberdade na amplidão (…)
No texto, o compositor estabelece paralelismo no nível sintático – os versos repetem a mesma estrutura, mas não no semântico, pois toda a canção é estruturada a partir da criação de antíteses e paradoxos, configurando uma aula sobre paralelismo e sobre figuras de linguagem!

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