Muitos alunos me perguntam como eu sobrevivo às atrocidades cometidas na internet, principalmente nas redes sociais, contra o idioma. Não é que não me incomodem, afinal, admiro tanto a Língua Portuguesa que escolhi trabalhar com ela, mas não passo o tempo todo fiscalizando ou policiando o uso que fazem do idioma. O que faço então? Observo atentamente os desvios da norma culta e acabo empregando como objeto de estudo e de exemplos para as aulas.
Confesso, entretanto, que algumas situações me ‘abalam’: o mau emprego da cedilha é uma delas. Para falar a respeito do emprego, vamos antes entender a função e passear pela história desse sinalzinho. i
A cedilha é um dos chamados sinais diacríticos, sinais empregados para alterar a pronúncia de algumas letras, dando-lhes novo valor fonético. Outros sinais diacríticos são o til (pois é, til não é acento!) e o trema que, abolido pelo Acordo Ortográfico, manteve-se apenas em palavras de origem estrangeira.
A cedilha teria derivado de uma forma do “z” na escrita visigótica (retome o estudo de História, para relembrar quem foram os visigodos), a qual teria passado a manuscritos de letra francesa escritos na Espanha do séc. XII.ii Esse pequeno ‘z’ (parecido com o ‘zeta’ grego), “zedilla”iii(na forma diminutiva do nome da letra) era desenhado sob a letra ‘C’, para indicar que ela deveria ser pronunciada de modo sibilante, como o ‘s’ inicial ou o dígrafo ‘ss’ . Veja o desenho:
Observemos agora um trecho da Crônica de D. Fernando de Fernão Lopes, historiador português que você deve ter estudado em Literatura Portuguesa, no período do Humanismo (1434-1527). O excerto aparece em português arcaico:
Até o século 15 ou 16, era comum o uso de “ç” diante de qualquer uma das cinco vogais e também no início de palavras, para representar o som do ‘s’ inicial ou ‘ss’, como já mencionei. Isso porque a letra ‘c’ simples, sem a ‘marquinha’ costumava ser pronunciada como ‘k’. Com o passar do tempo, a ortografia foi sendo normatizada, foram sendo estabelecidos padrões e regras para o emprego.
Atualmente, o Acordo Ortográfico determina que o cê cedilhado seja empregado apenas diante das vogais A, O e U.(confira a Base III do acordo: o 3º item trata da distinção gráfica entre as letras s, ss, c, ç e x, que representam sibilantes surdas)iv
O cê cedilha não pode ser empregado, portanto em ‘você’, ‘conhecer’, ‘conciso’ etc. Além disso, convém lembrar que não é uma letra diferenciada, é a junção da letra “c” com o sinal diacrítico cedilha, por isso não aparece separadamente no alfabeto e nos dicionários aparece na sequência alfabética.
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5 de março de 2017
TERCEIRÃO - ANTENEM-SE
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