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28 de novembro de 2009

Pleonasmo "vício" ou estilo?

Não é raro ouvirmos que alguém"subiu lá em cima" ou"saiu lá fora". Há poucos dias postei sobre tautologia. Esses vícios que cometemos nas produções textuais. Certamene, reconhecemos tais formas como viciosas, e, muitas vezes, elas se transfomam em motivo de riso. No nível culto da língua, são inadmissíveis. Que pensar de alguém que tenha sofrido uma "hemorragia de sangue"ou participado de um "plebiscito popular"? A esse tipo de construção chamamos de pleonasmo, palavra grega que significa superabundância.
Quantas vezes já ouvimos que houve um "consenso geral"? Ora, consenso é a opinião geral. É o mesmo problema que ocorre com a "opinião individual de cada um"e com a "unanimidade de todos", "encarar de frente" são tão redundantes quanto o "erário público" e o "vereador municipal ".
Se esses pleonasmos beiram o ridículo, outros há no idioma perfeitamente acietáveis. São comuns, em bons escritores, contruções com duplo objeto, de grande poder expressivo. Em uma frase como" ...a carta, não a recebi...", o objeto direto é anteposto e repetido depois como pronome oblíquo. A este chamamos de objeto direto pleonástico. A frase ficou mais enfática que "Não recebi a carta".
" Vivo uma vida de cão" ou "dormiu o sono dos justos". Nessas frases, ocorre o que se conhece, gramaticalmente, como objeto direto interno. Há outras construções pleonásticas também aceitas, como é o caso da dupla negativa, em frases do tipo, "nao disse nada"ou "não havia nenhuma pessoa lá". Mais elegantes, entretanto, soam as formas "nada disse"ou " não havia pessoa alguma lá". Note que o pronome indefinido "algum", posposto ao substantivo, assume valor negativo.
Como vocês perceberam, nem sempre o pleonasmo é um vício de linguagem. Vezes há em que é um poderoso recurso de estilo. No belo "Soneto de Fidelidade", diz Vinicius de Morais" De tudo, ao meu amor serei atento/Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto/(...) E em seu louvor fiel hei de espalhar meu canto/E rir meu riso e derramar meu pranto (...).
Em Manuel Bandeira, no "Poema Só para Jaime Ovalle"temos"Chovia uma triste chuva de resignação". O limite pode ser tênue. Mas, com um pouco de sensibilidade, fica fácil distinguir um do outro. (Adaptado)

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