Como Interpretar Textos
INTERPRETAÇÃO DE TEXTO
Semana passada, o escritor Mário Lago confessou que não conseguiu entender uma questão que interpretava um texto seu numa prova de vestibular. Mário toca aqui.
Aconteceu o mesmo comigo. Alguns anos atrás, uma universidade do Rio Grande do Sul incluiu uma crônica de minha autoria numa prova para que os vestibulandos a interpretassem. Eram algumas questões sobre um texto escrito por mim ,logo, achei que tiraria de letra. Peguei uma caneta, li as alternativas e fiquei boiando. Não entendi uma vírgula do que "aquela louca" queria dizer.
Quem está do lado de cá, escrevendo, não imagina o que pode passar pela cabeça de quem está lendo. Na nossa ingenuidade, supomos que não há nada para ser interpretado. A pergunta mais incômoda para um escritor é " o que você quis dizer com aquilo que escreveu"?
Puxa, a gente se digladia diante do computador para ser simples, objetivo, encontrar o verbo que melhor explica nosso sentimento, e ninguém entende lhufas. Dá vontade de desistir de tudo e vender pastel em Imbé.
Sei que a interpretação ajuda o aluno a pensar, concluir, avaliar, ler nas entrelinhas.Muita gente é adepta da leitura dinâmica: lê como se estivesse vendo. Não dá. Há escritores herméticos, que necessitam de atenção redobrada e um olhar mais astucioso sobre cada parágrafo. Há inventores de uma nova gramática. Há os que escrevem em código. Há aqueles que deixam quase tudo subentendido. Há os escritores neuróticos. Os que camuflam de tal modo as suas ideias, que nem eles mesmos sabem o que querem dizer. A questão é: valerá o esforço de interpretá-los?
Eu reluto diante da ideia de que é preciso ensinar alguém a pensar sobre o que está sendo lido. Podemos e devemos estimular o hábito da leitura, mas toda obra é aberta e permite várias reflexões. A maioria dos escritores, até onde eu sei, não fica tentada a criar charadas quando escreve. Ao contrário, a busca é pela comunicação, pela partilha de ideias e emoções. Pode-se fazer isso de forma densa, profunda, corrosiva, enigmática e, ainda, ser claro.
Toda interpretação de texto se dá através da sensibilidade de quem escreve e de quem lê.O resto é teoria.
A interpretação de textos é de fundamental importância para concursos. Você já se perguntou por quê?
Há alguns anos, as provas de Português, nos principais concursos do país, traziam uma frase, e dela faziam-se as questões. Eram enunciados soltos, sem conexão, tão ridículos que lembravam muito aquelas frases das antigas cartilhas: "Ivo viu a uva".
Os tempos são outros e, dentro das modernas tendências do ensino de línguas, fica cada vez mais claro que o objetivo de ensinar as regras da gramática normativa é simplesmente o texto. Aprendem-se as regras do português culto, erudito, a fim de melhorar a qualidade do texto, seja oral, seja escrito.
Nesse sentido, todas as questões são extraídas de textos, escolhidos criteriosamente pelas bancas, em função da mensagem/conteúdo, em função da estrutura gramatical. Ocorrem casos de provas contextualizadas, em que todos os textos abordam o mesmo assunto, ou seja, provas monotemáticas.
Dessa maneira, fica clara a importância do texto como objetivo último do aprendizado de língua.
Não se pode desconsiderar que, embora a interpretação seja subjetiva, há limites. A preocupação deve ser a captação da essência do texto, a fim de responder às interpretações que a banca considerou como pertinentes.
Quais são os textos escolhidos?
Textos retirados de revistas e de jornais de circulação nacional têm a preferência. Portanto, o romance, a poesia e o conto são quase que exclusividade das provas de Literatura (que também trabalham interpretação, por evidente). Assim, seria interessante observar as características fundamentais desses produtos da imprensa.
Os Artigos
São os preferidos das bancas. Esses textos autorais trazem identificado o autor.
Essas opiniões são de expressa responsabilidade de quem as escreveu - chamado aqui de articulista - e tratam de assunto da realidade objetiva, pautada pela imprensa. Portanto, os temas são, quase sempre, bem atuais.
Trata-se, em verdade, de texto argumentativo, no qual o autor/emissor terá como objetivo convencer o leitor/receptor. Nessa medida, é idêntico à redação escolar, tendo a mesma estrutura: introdução, desenvolvimento e conclusão.
Exemplo de Artigo
Os nomes de quase todas as cidades que chegam ao fim deste milênio como centros culturais importantes seriam familiares às pessoas que viveram durante o final do século passado. O peso relativo de cada uma delas pode ter variado, mas as metrópoles que contam ainda são basicamente as mesmas: Paris, Nova Iorque, Berlim, Roma, Madri, São Petesburgo. (Nelson Archer - caderno Cidades, Folha de S. Paulo, 02/05/09)
Os Editoriais
Novamente, são opinativos, argumentativos e possuem a mesma estrutura dos artigos .
Todos os jornais e revistas têm esses editoriais. Os principais diários do país produzem três textos desse gênero. Geralmente um deles tratará de política; outro, de economia; um outro, de temas internacionais.
A diferença em relação ao artigo é que o autor, o editorialista, não expressa sua opinião, apenas serve de intermediário para revelar o ponto de vista da instituição, da empresa, do órgão de comunicação. Muitas vezes, esses editoriais são produzidos por mais de um profissional. O editorialista é, quase sempre, antigo na casa e, obviamente, da confiança do dono da empresa de comunicação. Os temas, por evidente, são a pauta do momento, os assuntos da semana.
As Notícias
Aqui temos outro gênero, bem diverso.
As notícias são autorais, isto é, produzidas por um jornalista claramente identificado na matéria. Possuem uma estrutura bem fechada, na qual, no primeiro parágrafo (também chamado de lide), o autor deve responder às cinco perguntinhas básicas do jornalismo: Quem? Quando? Onde? Como? E por quê?
A grande diferença em relação ao artigo e ao editorial está no objetivo. O autor quer apenas "passar" a informação, quer dizer, não busca convencer o leitor/receptor de nada. É aquele texto que os jornalistas chamam de objetivo ou isento, despido de subjetividade e de intencionalidade.
Exemplo de Notícia
O juiz aposentado Nicolau dos Santos Neto, ex-presidente do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo, negou-se a responder ontem à CPI do judiciário todas as perguntas sobre sua evolução patrimonial. Ele invocou a Constituição para permanecer calado sempre que era questionado sobre seus bens ou sobre contas no exterior. (Folha de S. Paulo, 05/05/99)
As Crônicas
Estamos diante da Literatura.
Os cronistas não possuem compromisso com a realidade objetiva. Eles retratam a realidade subjetiva.
Se observarmos os jornais, teremos, junto aos editoriais e a dois artigos sobre política ou economia, uma crônica de algum escritor, descolada da realidade, se assim lhe aprouver.
O jornal busca, dessa maneira, arejar essa página tão sisuda.
A crônica é isso: uma janela aberta ao mar.
Sobre a crônica, há alguns dados interessantes. Considerada por muito tempo como gênero menor da Literatura, nunca teve status ou maiores reconhecimentos por parte da crítica.
Essa divisão dos textos da imprensa é didática e objetiva esclarecer um pouco mais o vestibulando. No entanto, é importante assinalar que os autores modernos fundem essa divisão, fazendo um trabalho misto. É o caso de Luis Fernando Veríssimo, que ora trabalha uma crônica, com os personagens conversando em um bar, terminando por um artigo, no qual faz críticas ao poder central, por exemplo. Martha Medeiros, por seu turno, produz, muitas vezes, um artigo, revelando a alma feminina. Em outros momentos, faz uma crônica sobre o quotidiano.
Exemplo de Crônica
O mulherão
Peça para um homem descrever um mulherão.Ele imediatamente vai falar do tamanho dos seios,na medida da cintura,no volume dos lábios,nas pernas,bumbum e cor dos olhos. Ou vai dizer que mulherão tem que ser loira,1,80m,siliconada,sorriso Colgate.Mulherões,dentro deste conceito,não existem muitas:Vera Fischer, Letícia Spiller,Malu Mader,Adriane Galisteu,Lumas e Brunas.Agora pergunte para uma mulher o que ela considera um mulherão e você vai descobrir que tem uma a cada esquina.
Mulherão é aquela que pega dois ônibus por dia para ir ao trabalho e mais dois para voltar,e quando chega em casa encontra um tanque lotado de roupa e uma família morta de fome.Mulherão é aquela que vai de madrugada para a fila garantir matricula na escola e aquela aposentada que passa horas em pé na fila do banco para buscar uma pensão de 100 Reais.
Mulherão é a empresária que administra dezenas de funcionários de segunda a sexta, e uma família todos os dias da semana .Mulherão é quem volta do supermercado segurando várias sacolas depois de ter pesquisado preços e feito malabarismo com o orçamento.Mulherão é aquela que se depila, que passa cremes, que se maquia, que faz dieta,que malha,que usa salto alto, meia-calça,ajeita o cabelo e se perfuma,mesmo sem nenhum convite para ser capa de revista.Mulherão é quem leva os filhos na escola,busca os filhos na escola,leva os filhos para a natação,busca os filhos na natação,leva os filhos para a cama,conta histórias,dá um beijo e apaga a luz.Mulherão é aquela mãe de adolescente que não dorme enquanto ele não chega, e que de manhã bem cedo já está de pé, esquentando o leite.
Mulherão é quem leciona em troca de um salário mínimo,é quem faz serviços voluntários,é quem colhe uva,é quem opera pacientes,é quem lava roupa pra fora,é quem bota a mesa,cozinha o feijão e à tarde trabalha atrás de um balcão.Mulherão é quem cria filhos sozinha, quem dá expediente de oito horas e enfrenta menopausa,TPM,menstruação.Mulherão é quem arruma os armários, coloca flores nos vasos,fecha a cortina para o sol não desbotar os móveis, mantém a geladeira cheia e os cinzeiros vazios.Mulherão é quem sabe onde cada coisa está, o que cada filho sente e qual o melhor remédio pra azia.
LUMAS,BRUNAS,CARLAS,LUANAS E SHEILAS:Mulheres nota dez no quesito lindas de morrer, mas MULHERÃO É QUEM MATA UM LEÃO POR DIA.
Martha Medeiros
A interpretação serve para a Química!
Responda rápido a uma pergunta:
O que há em comum entre os aprovados nos primeiros lugares? Será que possuem semelhanças?
Sim, de fato, o que os identifica é a leitura e a curiosidade pelo mundo que os cerca. Eles leem bastante e leem de tudo um pouco.
As instituições de ensino superior não querem mais aquele aluno que decora regrinhas. Elas buscam o cidadão que possui leitura e conhecimento de mundo. Nesse aspecto, as questões, inclusive das provas de exatas, muitas vezes pedem criticidade e compreensão de enunciados.Quantas vezes você não errou uma questão de Física ou de Biologia por não entender o que foi pedido. Pois estamos falando de interpretação de textos.
A leitura e a interpretação tornam-se, dessa maneira, exigência de todas as disciplinas. E não pense que essa capacidade crítica de entender o texto escrito (e até falado) é exclusividade do vestibular. Quando você for buscar uma vaga no mercado de trabalho, a criticidade, a capacidade de comunicação e de compreensão do mundo serão atributos importantes nessa concorrência.
DICAS PARA INTERPRETAR
Podemos, tranquilamente, ser bem-sucedidos numa interpretação de texto. Para isso, devemos observar o seguinte:
01.Ler todo o texto, procurando ter uma visão geral do assunto;
02. Se encontrar palavras desconhecidas, não interrompa a leitura, vá até o fim, ininterruptamente;
03. Voltar ao texto tantas quantas vezes precisar;
04. Não permitir que prevaleçam suas ideias sobre as do autor;
05. Partir o texto em pedaços (parágrafos, partes) para melhor compreensão;
06. Verificar, com atenção e cuidado, o enunciado de cada questão;
07. Cuidado com os vocábulos: destoa (=diferente de ...), não, correta, incorreta, certa, errada, falsa, verdadeira, exceto, e outras; palavras que aparecem nas perguntas e que, às vezes, dificultam a entender o que se perguntou e o que se pediu;
08. Não se deve procurar a verdade exata dentro daquela resposta, mas a opção que melhor se enquadre no sentido do texto;
09. O autor defende ideias e você deve percebê-las;
10. Os adjuntos adverbiais e os predicativos do sujeito são importantíssimos na interpretação do texto.
Não se esqueça:" O que está escrito, escrito está."
A prova de Língua Portuguesa exige muita atenção, muita concentração; assim evita-se ler ou interpretar equivocadamente o comando das questões.
Interpretação de Texto – consiste em saber o que é importante para a análise de textos:
1.Não extrapole ao que está escrito no texto. Muitas vezes , por se tratar de fatos reais, o candidato interpreta o que não está escrito. Deve-se ater somente às informações que estão relatadas.
2.Não valorize apenas uma parte do contexto. O texto deve ser considerado como um todo, não se atenha à parte dele.
3.Sublinhe as palavras-chave do enunciado, para evitar de entender justamente o contrário do que está escrito. Leia duas vezes o comando da questão, para saber realmente o que se pede. Tome cuidado com algumas palavras, como: pode, deve, não, sempre, é necessário, é obrigatório, correta, incorreta, exceto, erro, etc.
4.Se o comando pede a ideia principal ou tema, normalmente deve situar-se no primeiro ou no último parágrafo - introdução e conclusão.
5. Se o comando busca argumentação, deve localizar-se nos parágrafos intermediários , no desenvolvimento.
6. Não levar em consideração o que o autor quis dizer, mas sim o que ele disse; escreveu.
7.Tomar cuidado com os vocábulos relatores, os que remetem a outros vocábulos do texto: pronomes relativos, pronomes pessoais, pronomes demonstrativos, etc.
8.A descontextualização de palavras ou frases, certas vezes, são também um recurso para instaurar a dúvida no candidato. Leia a frase anterior e a posterior para ter idéia do sentido global proposto pelo autor, desta maneira a resposta será mais consciente e segura.
9.Interpretar um texto não é simplesmente saber o que se passa na cabeça do autor quando ele escreve seu texto. É, antes, inferir. Se eu disser: “Levei minha filha caçula ao parque.”, pode-se inferir que tenho mais de uma filha. Ou seja, inferir é retirar informações implícitas e explícitas do texto. E será com essas informações que o candidato irá resolver as questões de interpretação na prova.
10.Há de se tomar cuidado, entretanto, com o que chamamos de “conhecimento de mundo”, que nada mais é do que aquilo que todos carregamos conosco, fruto do que aprendemos na escola, com os amigos, vendo televisão, enfim, vivendo. Isso porque muitas vezes uma questão leva o candidato a responder não o que está no texto, mas exatamente aquilo em que ele acredita.
11. Se as alternativas forem muito parecidas grife com o lápis a parte que é diferente. Nosso cérebro trabalha melhor com uma quantidade menor de informações de cada vez. Grifando as partes diferentes você irá focar apenas na parte que é diferente, já que a parte que é igual não irá determinar a alternativa correta. Veja nas alternativas abaixo e entenderá o que quero dizer:
a) O suspeito chegou ao escritório às 9 da manhã.
b) O suspeito deixou ao escritório às 9 da manhã.
c) O suspeito deu uma saída às 9 da manhã mas voltou logo em seguida.
d) O suspeito ficou no escritório por 9 horas.
Agora que já grifou a parte diferente, precisa voltar ao texto e ver se há referência à manhã (se não houver, já elimina a, b e c, sobrando apenas d); se retornou (elimina a, b, d e sobra c); e assim por diante.
12- Responda primeiro o que sabe. Ficar perdendo tempo com questões mais difíceis fará com que acabe errando as mais fáceis. Nosso emocional pode nos ajudar ou atrapalhar e nós é que decidimos o que vai ser. Leia e se não conseguir achar a resposta, marque um “x” ao lado das questões que não consegue responder de primeira, responda as outras e siga assim, “pulando” e marcando as mais difíceis e resolvendo as mais fáceis. Quando terminar com as fáceis, retorne às difíceis, se não puder responder, reduza a duas alternativas e chute. Se você não sabe não há como descobrir a resposta.
13- Mantenha a calma. Não importa se o texto é longo, se é difícil, se há muitas questões. Desesperar-se só irá causar um bloqueio mental que o fará errar tudo e provocará o famoso e temido “branco”. Melhor responder calmamente (e corretamente) 70% das questões e chutar as outras (se não der tempo de resolver todas) do que fazer tudo às pressas e se enrolar todo.
14- Atenção ao uso da paráfrase (reescritura do texto sem prejuízo do sentido original).
Veja o exemplo:
Frase original: Estava eu hoje cedo, parado em um sinal de trânsito, quando olho na esquina, próximo a uma porta, uma loirona a me olhar e eu olhava também.(Concurso TRE/ SC – 2005)
A frase parafraseada é:
a) Parado em um sinal de trânsito hoje cedo, numa esquina, próximo a uma porta, eu olhei para uma loira e ela também me olhou.
b) Hoje cedo, eu estava parado em um sinal de trânsito, quando ao olhar para uma esquina, meus olhos deram com os olhos de uma loirona.
c) Hoje cedo, estava eu parado em um sinal de trânsito quando vi, numa esquina, próxima a uma porta, uma louraça a me olhar.
d) Estava eu hoje cedo parado em um sinal de trânsito, quando olho na esquina, próximo a uma porta, vejo uma loiraça a me olhar também.
Resposta: Letra C.
15- Uma das partes bem distintas do parágrafo é o tópico frasal, ou seja, a ideia central extraída de maneira clara e resumida.
Atentando-se para a ideia principal de cada parágrafo, asseguramos um caminho que nos levará à compreensão do texto.
MÃOS À OBRA
O texto a seguir é referência para as questões 1 a 4.
Reduzir a poluição causada pelos aerossóis – partículas em suspensão na atmosfera, compostas principalmente por fuligem e enxofre – pode virar um enorme tiro pela culatra. Estudo de pesquisadores britânicos e alemães revelou que os aerossóis, na verdade, seguravam o aquecimento global. Isso porque eles rebatem a luz solar para o espaço, estimulando a formação de nuvens (que também funcionam como barreiras para a energia do sol). Ainda é difícil quantificar a influência exata dos aerossóis nesse processo todo, mas as estimativas mais otimistas indicam que, sem eles, a temperatura global poderia subir 4 ºC até 2100 – as pessimistas falam em um aumento de até 10º, o que nos colocaria “dentro” de uma churrasqueira. Como os aerossóis podem causar doenças respiratórias, o único jeito de lutar contra a alta dos termômetros é diminuir as emissões de gás carbônico, o verdadeiro vilão da história.
(Superinteressante, dez. 2005, p. 16.)
1. Assinale a alternativa cujo sentido NÃO está de acordo com o sentido que a expressão “pode virar um enorme tiro pela culatra” apresenta no texto.
a) Pode ter o efeito contrário do que se pretende.
b) Pode aumentar ainda mais o problema que se quer combater.
c) Pode fazer com que o aquecimento global aumente.
d) Pode provocar diminuição na formação de nuvens.
e) Pode aumentar a ocorrência de doenças respiratórias.
2. Assinale a alternativa cuja afirmativa mantém relações lógicas de acordo com o texto.
a) Os aerossóis seguram o aquecimento global porém estimulam a formação de nuvens.
b) Os aerossóis seguram o aquecimento global mas estimulam a formação de nuvens.
c) Os aerossóis seguram o aquecimento global pois estimulam a formação de nuvens.
d) Os aerossóis seguram o aquecimento global e estimulam a formação de nuvens.
e) Os aerossóis seguram o aquecimento global entretanto estimulam a formação de nuvens.
3. Segundo o texto, “o verdadeiro vilão da história” é(são):
a) o aquecimento global.
b) as emissões de gás carbônico.
c) a formação de nuvens.
d) as doenças respiratórias.
e) as barreiras para a energia do sol.
4. O termo “pessimistas” está se referindo às:
a) temperaturas.
b) pessoas.
c) influências.
d) estimativas.
e) barreiras.
05. Considere o seguinte trecho:
Em vez do médico do Milan, o doutor José Luiz Runco, da Seleção, é quem deverá ser o responsável pela cirurgia de Cafu. Foi ele quem operou o volante Edu e o atacante Ricardo Oliveira, dois jogadores que tiveram problemas semelhantes no ano passado.
O termo “ele”, em destaque no texto, refere-se:
a) ao médico do Milan.
b) a Cafu.
c) ao doutor José Luiz Runco.
d) ao volante Edu.
e) ao atacante Ricardo Oliveira.
06. Considere o seguinte diálogo:
I. A: Por que você está triste?
II. B: Porque ela me deixou.
III. A: E ela fez isso por quê?
IV. B: Não sei o porquê. Tentei acabar com as causas da crise por que passávamos.
V. A: Ah! Você se perdeu nos porquês.
Do ponto de vista gramatical, os termos sublinhados estão corretamente empregados em:
a) IV somente.
b) I, III e V somente.
c) II e IV somente.
d) I, II, III, IV e V.
e) II e V somente.
07. “Você só precisa comprar a pipoca. O DVD é grátis.”
Assinale a alternativa que apresenta a forma correta para juntar os dois períodos da propaganda acima num só.
a) Você só precisa comprar a pipoca, entretanto o DVD é grátis.
b) Você só precisa comprar a pipoca, já que o DVD é grátis.
c) Você só precisa comprar a pipoca, inclusive o DVD é grátis.
d) Você só precisa comprar a pipoca e o DVD é grátis.
e) Você só precisa comprar a pipoca, cujo DVD é grátis.
Caindo na gandaia
O ex-campeão mundial dos pesos pesados Mike Tyson se esbaldou na noite paulistana. Em duas noites, foi ao Café Photo e ao Bahamas, casas frequentadas por garotas de programa. Na madrugada da quinta-feira, foi barrado com seis delas no hotel onde estava hospedado, deu gorjeta de US$ 100 a cada uma e foi terminar a noite na boate Love Story. Irritado com o assédio, Tyson agrediu um cinegrafista e foi levado para a delegacia. Ele vai responder por lesões corporais, danos materiais e exercício arbitrário das próprias razões.
(Época, nº 391, nov. 2005.)
08. Segundo o texto, é correto afirmar:
a) Mike Tyson estava irritado com o assédio das garotas de programa.
b) Mike Tyson foi preso em companhia das garotas.
c) Tyson foi liberado da delegacia por demonstrar exercício arbitrário de suas razões.
d) Mike Tyson, em duas noites, esteve em três boates e uma delegacia.
e) Mike Tyson distribuiu US$ 100 em gorjetas e se esbaldou na noite paulistana.
09.No próximo dia 20/03, às 7 horas, desembarcam no aeroporto de Guarulhos a dupla sertaneja Antenor e Secundino, onde excursionaram pela Europa, que fizeram grande sucesso se divulgando a nossa música sertaneja.
Assinale a alternativa que reescreve o texto acima de acordo com a norma culta.
a) No próximo dia 20/03, às 7 horas, desembarca no aeroporto de Guarulhos a dupla de cantores Antenor e Secundino,que excursionou pela Europa, com grande sucesso na divulgação da nossa música sertaneja.
b) No próximo dia 20/03, às 7 horas, desembarcam no aeroporto de Guarulhos a dupla de cantores Antenor e Secundino,onde excursionaram pela Europa, em que fizeram grande sucesso e divulgando a nossa música sertaneja.
c) No próximo dia 20/03, às 7 horas, desembarcam no aeroporto de Guarulhos a dupla de cantores Antenor e Secundino,cujos excursionaram pela Europa e fizeram grande sucesso, onde divulgaram a nossa música sertaneja.
d) No próximo dia 20/03, às 7 horas, desembarcam no aeroporto de Guarulhos a dupla de cantores Antenor e Secundino, os quais excursionaram pela Europa com grande sucesso, se divulgando a nossa música sertaneja.
e) No próximo dia 20/03, às 7 horas, desembarca no aeroporto de Guarulhos a dupla de cantores Antenor e Secundino, que excursionaram pela Europa, inclusive que fizeram grande sucesso, onde divulgou a nossa música sertaneja.
10. Enquanto na fala muitas vezes nem todos os verbos e substantivos são flexionados, na escrita isso pode ser considerado um erro. Considere as seguintes sentenças:
I. Saíram os resultados.
II. Foi inaugurado as usina.
III. Apareceu cinquenta pessoas na festa.
IV. O time apresentou os jogadores.
V. Saiu os nomes dos jogadores.
VI. Também vieram os juízes.
Seguem as normas da escrita padrão as sentenças:
a) I, IV e VI apenas.
b) II, III e V apenas.
c) I, II e III apenas.
d) IV, V e VI apenas.
e) I, III e V apenas.
Aparecem novos casos
Cinco novos casos de febre maculosa foram identificados no Rio de Janeiro depois que a doença foi confirmada como causa da morte do superintendente da Vigilância Sanitária Fernando Villas-Boas. A doença também provocou a morte do jornalista Roberto Moura e a internação de um professor aposentado, um menino de 8 anos e uma turista. Em São Paulo, uma garota de 12 anos morreu em decorrência da doença. Ela foi picada por um carrapato quando passeava em um parque.
(Época, nº 391, nov. 2005.)
11. De acordo com as informações do texto acima, assinale a alternativa correta.
a) O texto não aponta a forma provável como a vítima paulista contraiu a febre maculosa.
b) Todas as vítimas da febre maculosa morreram.
c) As vítimas fatais da febre maculosa foram infectadas no Rio de Janeiro.
d) Dos seis infectados, apenas dois sobreviveram.
e) O texto inclui Fernando Villas-Boas na contagem de casos de febre maculosa no Rio de Janeiro.
12. O Projeto Genoma, que envolve centenas de cientistas de todos os cantos do globo, às vezes tem de competir com laboratórios privados na corrida pelo desenvolvimento de novos conhecimentos que possam promover avanços em diversas áreas.
Assinale a alternativa em que o termo “privado” foi usado no mesmo sentido que apresenta acima.
a) Muitos laboratórios acabam privados de participar da concorrência pelos obstáculos legais que se impõem aos participantes.
b) Nem sempre os projetos que envolvem ciência básica podem contar com a injeção de recursos privados, que privilegiam as pesquisas com perspectivas de retorno econômico no curto prazo.
c) Mesmo alguns dos grandes laboratórios que atuam no mercado vêem-se privados de condições materiais para investir em pesquisa de ponta.
d) Os laboratórios privados da licença para desenvolver pesquisas com clonagem de seres humanos prometem recorrer da decisão.
e) Muitos projetos desenvolvidos em centros universitários, privados de recursos, acabam sendo engavetados.
GABARITO:
1) E
2) C
3) B
4) D
5) C
6) D
7) B
8) D
9) A
10) A
11) E
12) B
Fala, amendoeira
Esse ofício de rabiscar sobre as coisas do tempo exige que prestemos alguma atenção à natureza – essa natureza que não presta atenção em nós. Abrindo a janela matinal, o cronista deparou no firmamento, que seria de uma safira impecável se não houvesse a longa barra de névoa a toldar a linha entre céu e chão – névoa baixa e seca, hostil aos aviões. Pousou a vista, depois, nas árvores que algum remoto prefeito deu à rua, e que ainda ninguém se lembrou de arrancar, talvez porque haja outras destruições mais urgentes. Estavam todas verdes, menos uma. Uma que, precisamente, lá está plantada em frente à porta, companheira mais chegada de um homem e sua vida, espécie de anjo vegetal proposto ao seu destino.
Essa árvore de certo modo incorporada aos bens pessoais, alguns fios elétricos lhe atravessam a fronde, sem que a molestem, e a luz crua do projetor, a dois passos, a impediria talvez de dormir, se ela fosse mais nova. Às terças, pela manhã, o feirante nela encosta sua barraca, e, ao entardecer, cada dia, garotos procuram subir-lhe pelo tronco. Nenhum desses incômodos lhe afeta a placidez de árvore madura e magra, que já viu muita chuva, muito cortejo de casamento, muitos enterros, e serve há longos anos à necessidade de sombra que têm os amantes de rua, e mesmo a outras precisões mais humildes de cãezinhos transeuntes.
Todas estavam ainda verdes, mas essa ostentava algumas folhas amarelas e outras já estriadas de vermelho, numa gradação fantasista que chegava mesmo até o marrom – cor final de decomposição, depois da qual as folhas caem. Pequenas amêndoas atestavam seu esforço, e também elas se preparavam para ganhar coloração dourada e, por sua vez, completado o ciclo, tombar sobre o meio-fio, se não as colhe algum moleque apreciador de seu azedinho. É como se o cronista, lhe perguntasse – Fala, amendoeira – por que fugia ao rito de suas irmãs, adotando vestes assim particulares, a árvore pareceu explicar-lhe:
-- Não vês? Começo a outonear. É 21 de março, data em que as folhinhas assinalam o equinócio do outono. Cumpro meu dever de árvore, embora minhas irmãs não respeitem as estações.
-- E vais outoneando sozinha?
-- Na medida do possível. Anda tudo muito desorganizado, e, como deves notar, trago comigo um resto de verão, uma antecipação de primavera e mesmo, se reparares bem neste ventinho que me fustiga pela madrugada, uma suspeita de inverno.
-- Somos todos assim.
-- Os homens, não. Em ti, por exemplo, o outono é manifesto e exclusivo. Acho-te bem outonal, meu filho, e teu trabalho é exatamente o que os autores chamam de outonada: são frutos colhidos numa hora da vida que já não é clara, mas ainda não se dilui em treva. Repara que o outono é mais estação da alma que da natureza.
-- Não me entristeças.
-- Não, querido, sou tua árvore-de-guarda e simbolizo teu outono pessoal. Quero apenas que te outonize com paciência e doçura. O dardo de luz fere menos, a chuva dá às frutas seu definitivo sabor. As folhas caem, é certo, e os cabelos também, mas há alguma coisa de gracioso em tudo isso: parábolas, ritmos, tons suaves... Outoniza-se com dignidade, meu velho.
(Carlos Drummond de Andrade)
01) As palavras remoto (primeiro parágrafo), afetar (segundo parágrafo) e ostentar (terceiro parágrafo) significam, no texto, respectivamente:
A) ( ) longínquo, afeiçoar, alardear;
B) ( ) distante, distrair, mostrar;
C) ( ) antigo, incomodar, exibir;
D) ( ) distraído, aparentar, ornamentar;
02) Equinócio (quarto parágrafo) significa:
A) ( ) equívoco;
B) ( ) ponto de órbita da terra onde se registra igual duração do dia e da noite;
C) ( ) mancha escura que aparece de vez em quando no céu;
D) ( ) que tem poder igual;
03) Em “precisões mais humildes de cãezinhos transeuntes” (passagem situada no segundo parágrafo), o autor refere-se:
A) ( ) à fome dos cães que comem as amêndoas da amendoeira;
B) ( ) ao hábito que os cães têm de urinar em postes ou troncos de árvore;
C) ( ) aos cães vira-latas que, famintos, comem as folhas de amendoeira;
D) ( ) à precisão com que os humildes cãezinhos demonstram ao andar;
04) Destaque o item que melhor caracteriza o “ofício de rabiscar sobre as coisas do tempo”, situado no primeiro parágrafo:
A) ( ) desenhista que só se inspira na natureza;
B) ( ) escritor que só escreve sobre a natureza;
C) ( ) pintor de paisagens;
D) ( ) autor que escreve sobre temas da época em que vive;
05) Quando o cronista, referindo-se à árvore escreveu “fala, amendoeira”, no terceiro parágrafo:
A) ( ) cometeu um erro porque árvore não fala;
B) ( ) estava delirando;
C) ( ) usou um recurso de estilo atribuindo à amendoeira qualidades humanas;
D) ( ) foi imperativo porque a árvore era sua;
06) O trecho “frutos colhidos numa hora da vida que já não é clara, mas ainda não se dilui em treva”, localizado no oitavo parágrafo, refere-se:
A) ( ) aos escritos do autor;
B) ( ) aos frutos da amendoeira;
C) ( ) aos frutos colhidos na árvore à noitinha;
D) ( ) ao trabalho dos agricultores;
07) Ao usar a passagem “Essa árvore de certo modo incorporada aos bens pessoais”, quis o autor demonstrar:
A) ( ) que a árvore plantada à sua porta é um bem pessoal;
B) ( ) carinho pela árvore que está plantada em frente à sua porta e que a considera como sua;
C) ( ) que ia iniciar uma descrição da árvore que está plantada em frente à sua porta;
D) ( ) que não permitirá nunca que a árvore seja retirada da frente de sua porta;
08) As expressões anjo vegetal (primeiro parágrafo) e árvore-da-guarda (décimo parágrafo):
A) ( ) são arcaicas;
B) ( ) atestam os erros comuns no autor;
C) ( ) revelam o descuido do autor no uso da Língua Portuguesa;
D) ( ) são criadas pelo autor pela associação com a expressão anjo-da-guarda;
09) Destaque o item que NÃO corresponde à crônica lida:
A) ( ) o autor espiritualizou a amendoeira atribuindo-lhe sentimentos humanos;
B) ( ) o autor compara, na crônica, seu envelhecer com o da amendoeira;
C) ( ) a idéia central da crônica é a descrição dos efeitos do outono sobre as amendoeiras;
D) ( ) a amendoeira com que o autor “conversa” demonstrou sabedoria e bom senso;
10) Destaque o item que encerra a idéia central, a mensagem, enviada pelo cronista:
A) ( ) descuido das autoridades que permitiam a permanência da amendoeira naquele local;
B) ( ) reverencia a amendoeira que considerava sua;
C) ( ) aceitação do envelhecimento com serenidade;
D) ( ) engrandecimento do outono;
GABARITO:
1) C
2) B
3) B
4) D
5) C
6) A
7) B
8) D
9) C
10) C
Leia o texto a seguir e responda às questões.
Rio - Além das vitórias contra Colômbia, por 2 a 1, e Equador, por 1 a 0, e da liderança absoluta nas eliminatórias do Mundial de 2006, o técnico Carlos Alberto Parreira e o coordenador da seleção brasileira, Zagallo, têm outro motivo para comemorar o início da campanha do hexacampeonato. Eles acreditam ter conseguido quebrar a resistência em torno do nome do meia Zé Roberto. “Nunca duvidei da capacidade dele, um jogador que vem melhorando a cada temporada”, disse Parreira. O treinador reconhece que parte da crítica observava o meia do Bayern de Munique com ressalvas. “Por desinformação, creio.”Para Zagallo, o jogador é importante como opção de ataque, no instante em que a zaga adversária se concentra em Ronaldo, Rivaldo e Ronaldinho Gaúcho, e também para ajudar no bloqueio, no meio-de-campo.“O Zé Roberto foi bem no ataque várias vezes nos treinos antes dos dois jogos e repetiu isso depois, notadamente contra a Colômbia, afirmou. “Tem gente que só gosta de reclamar e não quer enxergar o óbvio.”Os elogios vêm de toda parte. O atacante Ronaldo atribuiu a Zé Roberto a base de equilíbrio da equipe e acrescentou que o meia sabe dar dribles curtos que deixam o marcador sem rumo. O lateral Roberto Carlos também enalteceu o colega.(O Estado de S. Paulo, E6, 14 setembro 2003)1- O texto informa que(A) o técnico Parreira tem várias opções de ataque para os próximos jogos da Seleção, com Ronaldo, Rivaldo e Ronaldinho Gaúcho.(B) os atacantes da Seleção brasileira reclamaram da atuação de Zé Roberto, por estarem desinformados de sua capacidade.(C) Roberto Carlos criticou, pois queria que o colega o ajudasse no bloqueio, o que não aconteceu, nos jogos da Seleção.(D) Zé Roberto teve importante atuação nos treinos e no último jogo da Seleção contra a Colômbia.2- Eles acreditam ter conseguido quebrar a resistência em torno do nome do meia Zé Roberto.A frase grifada acima significa, respeitando-se o sentido do texto,(A) diminuir a defesa.(B) reconhecer os obstáculos.(C) afastar a oposição.(D) medir a capacidade.3- Este texto trata, principalmente, da(A) excelente atuação de Zé Roberto, na última convocação da seleção.(B) merecida vitória da seleção, especialmente contra o Equador.(C) apresentação dos jogadores convocados pelo técnico Parreira.(D) presença de Zagallo como coordenador da seleção brasileira.4- De acordo com o texto, (A) o Brasil jogou primeiramente contra o Equador e depois contra a Colômbia.(B) a Seleção fez dois jogos, o primeiro deles, contra a Colômbia.(C) o jogo contra o Equador aconteceu logo depois dos treinos.(D) Zé Roberto foi elogiado ainda antes dos jogos da seleção.5-“Nunca duvidei da capacidade dele, um jogador que vem melhorando a cada temporada.”A afirmação acima reproduz(A) um fato ocorrido durante os treinos.(B) uma dúvida dos torcedores.(C) a opinião do técnico Parreira.(D) um fato que deverá acontecer.
Gabarito 1- B// 2 - C// 3 - A// 4 - D// 5 - C
PELES DE SAPOS
Em 1970 e 1971, houve, no Nordeste brasileiro, uma enorme procura por sapos, que eram caçados para que suas peles fossem exportadas para os Estados Unidos. Lá elas eram usadas para fazer bolsas, cintos e sapatos. Isso levou a uma drástica diminuição da 5 população de sapos nessa região.O sapo se alimenta de vários insetos, principalmente mariposas, grilos e besouros. É um animal voraz, isto é, comilão. Quando adulto chega a comer trezentos besouros por dia.Sem os sapos, seus inimigos naturais, as mariposas, os 10 besouros e os grilos, proliferaram de maneira assustadora.Esses insetos invadiram as cidades. Mariposas e besouros concentraram-se em torno dos postes de iluminação pública e também entraram nas casas, causando grandes transtornos. Os grilos, com seu cricri, não deixavam as pessoas dormirem.
Em maio de 1972, na cidade de lati, em Pernambuco, a população, em uma espécie de mutirão, varreu ruas e calçadas, amontoando principalmente besouros, e também mariposas e grilos mortos, para serem levados por caminhões de lixo. Em apenas três dias encheram-se mais de oitenta caminhões com esses bichos!
O governo proibiu a caça de sapos e passou a fiscalizar a exportação de suas peles.
1) o título do texto, Peles de sapos, representa:
a) o motivo da invasão dos insetos nas cidades
b) o objetivo econômico dos exportadores
c) a razão de ter aumentado o número de grilos e mariposas
d) uma riqueza importante do Nordeste brasileiro
e) a causa da extinção definitiva dos sapos
2) Uma informação conta com uma série de elementos básicos: o que aconteceu, quem participou dos acontecimentos, onde e quando se passaram, como e por que ocorreram os fatos etc. Considerando que o acontecimento básico do texto 1 é a caça aos sapos, assinale a informação que não está presente no texto:
a) onde ocorreu: no Nordeste brasileiro.
b) quando ocorreu: em 1970 e 1971.
c) para que ocorreu: exportação de peles.
d) como ocorreu: armadilhas especiais.
e) consequência da caçada: redução da população de sapos.
3) Assinale a frase em que o vocábulo destacado tem seu antônimo corretamente indicado:
a) “...para que suas peles fossem exportadas...” - compradas
b) “...uma enorme procura por sapos...” - imensa
c) “...levou a uma drástica diminuição da população...” - progresso
d) “Quando adulto chega a comer...” - filhote
e) “...seus inimigos naturais,...” - adversários
4) “O sapo se alimenta de vários insetos, principalmente mariposas, grilos e besouros.”; o emprego de principalmente nesse fragmento do texto indica que o sapo:
a) também come outros insetos.
b) só come mariposas, grilos e besouros.
c) prefere mariposas a grilos e besouros.
d) não come mariposas, grilos e besouros.
e) só come insetos nordestinos.
5)”Em 1970 e 1971,houve, no Nordeste brasileiro, uma enorme procura por sapos, que eram caçados para que suas peles fossem exportadas para os Estados Unidos. Lá elas eram usadas para fazer bolsas, cintos e sapatos. Isso levou a uma drástica diminuição da população de sapos nessa região.”. Nesse primeiro parágrafo do texto os elementos se referem a outros do mesmo parágrafo. Assinale a correspondência errada:
a) suas - dos sapos
b) lá - Estados Unidos
c) elas - as peles dos sapos
d) isso - bolsas, cintos e sapatos
e) nessa região - Nordeste brasileiro
6) “É um animal voraz, isto é, comilão.”; o emprego de isto é nesse segmento do texto mostra que:
a) voraz e comilão são palavras de significados diferentes.
b) o autor empregou erradamente a palavra voraz.
c) o autor quer explicar melhor o significado de voraz.
d) comilão é vocábulo mais raro do que voraz.
e) o autor não está interessado em que o leitor entenda o que escreve.
7) A mensagem que se pode entender do texto é:
a) A matança indiscriminada de animais pode causar desequilíbrios ecológicos.
b) A economia do país está acima do bem-estar da população.
c) A união da população não resolve muitos de nossos problemas.
d) Os insetos são inimigos dos homens.
e) O governo não cuida da proteção aos animais.
GABARITO:
1) B
2) D
3)D
4) A
4) A
5)D
6) C
6) C
7) A
UM ARRISCADO ESPORTE NACIONAL
Os leigos sempre se medicaram por conta própria, já que de médico e louco todos temos um pouco, mas esse problema jamais adquiriu contornos tão preocupantes no Brasil como atualmente. Qualquer farmácia conta hoje com um arsenal de armas de guerra para combater doenças de fazer inveja à própria indústria de material bélico nacional. Cerca de 40% das vendas realizadas pelas farmácias nas metrópoles brasileiras destinam-se a pessoas que se automedicam. A indústria farmacêutica de menor porte e importância retira 80% de seu faturamento da venda “livre” de seus produtos, isto é, das vendas realizadas sem receita médica.
Diante desse quadro, o médico tem o dever de alertar a população para os perigos ocultos em cada remédio, sem que necessariamente faça junto com essas advertências uma sugestão para que os entusiastas da automedicação passem a gastar mais em consultas médicas. Acredito que a maioria das pessoas se automedica por sugestão de amigos, leitura, fascinação pelo mundo maravilhoso das drogas “novas” ou simplesmente para tentar manter a juventude. Qualquer que seja a causa, os resultados podem ser danosos.
É comum, por exemplo, que um simples resfriado ou uma gripe banal leve um brasileiro a ingerir doses insuficientes ou inadequadas de antibióticos fortíssimos, reservados para infecções graves e com indicação precisa. Quem age assim está ensinando bactérias a se tornarem resistentes a antibióticos. Um dia, quando realmente precisar de remédio, este não funcionará. E quem não conhece aquele tipo de gripado que chega a uma farmácia e pede ao rapaz do balcão que lhe aplique uma “bomba” na veia, para cortar a gripe pela raiz? Com isso, poderá receber na corrente sangüínea soluções de glicose, cálcio, vitamina C, produtos aromáticos tudo sem saber dos riscos que corre pela entrada súbita destes produtos na sua circulação. (Dr. Geraldo Medeiros -Veja - 1995)
1) Sobre o título dado ao texto - um arriscado esporte nacional -, a única afirmação correta é:
a) mostra que a automedicação é tratada como um esporte sem riscos.
b) indica quais são os riscos enfrentados por aqueles que se automedicam.
c) denuncia que a atividade esportiva favorece a automedicação;
d) condena a pouca seriedade daqueles que consomem remédio por conta própria.
e) assinala que o principal motivo da automedicação é a tentativa de manter-se a juventude.
2) Os leigos sempre se medicaram por conta própria,... Esta frase inicial do texto só NÃO equivale semanticamente a:
a) Os leigos, por conta própria, sempre se medicaram.
b) Por conta própria os leigos sempre se medicaram.
c) Os leigos se medicaram sempre por conta própria
d) Sempre se medicaram os leigos por conta própria.
e) Sempre os leigos, por conta própria, se medicaram.
3) O motivo que levou o Dr. Geraldo Medeiros a abordar o tema da automedicação, segundo o que declara no primeiro parágrafo do texto, foi:
a) a tradição que sempre tiveram os brasileiros de automedicar-se.
b) os lucros imensos obtidos pela indústria farmacêutica com a venda “livre” de remédios.
e) aumentar o lucro dos médicos, incentivando as consultas.
GABARITO:
1) B 2)D 3) A
CINZAS DA INQUISIÇÃO
1. Até agora fingíamos que a Inquisição era um episódio da história europeia, que tendo durado do século XII ao século XIX, nada tinha a ver com o Brasil. No máximo, se prestássemos muita atenção, íamos falar de um certo Antônio José – o Judeu, um português de origem brasileira, que foi queimado porque andou escrevendo umas peças de teatro.
2. Mas não dá mais para escamotear. Acabou de se realizar um congresso que começou em Lisboa, continuou em São Paulo e Rio, reavaliando a Inquisição. O ideal seria que esse congresso tivesse se desdobrado por todas as capitais do país, por todas as cidades, que tivesse merecido mais atenção da televisão e tivesse sacudido a consciência dos brasileiros do Oiapoque ao Chuí, mostrando àqueles que não podem ler jornais nem frequentar as discussões universitárias o que foi um dos períodos mais tenebrosos da história do Ocidente. Mas mostrar isso, não por prazer sadomasoquista, e sim para reforçar os ideais de dignidade humana e melhorar a debilitada consciência histórica nacional.
3. Calar a história da Inquisição, como ainda querem alguns, em nada ajuda a história das instituições e países. Ao contrário, isto pode ser ainda um resquício inquisitorial. E no caso brasileiro essa reavaliação é inestimável, porque somos uma cultura que finge viver fora da história.
4. Por outro lado, estamos vivendo um momento privilegiado em termos de reconstrução da consciência histórica. Se neste ano (1987) foi possível passar a limpo a Inquisição, no ano que vem será necessário refazer a história do negro em nosso país, a propósito dos cem anos da libertação dos escravos. E no ano seguinte, 1989, deveríamos nos concentrar para rever a “república” decretada por Deodoro. Os próximos dois anos poderiam se converter em um intenso período de pesquisas, discussões e mapeamento de nossa silenciosa história. Universidades, fundações de pesquisa e os meios de comunicação deveriam se preparar para participar desse projeto arqueológico, convocando a todos: “Libertem de novo os escravos”, “proclamem de novo a República”.
5. Fazer história é fazer falar o passado e o presente, criando ecos para o futuro.
6. História é o anti-silêncio. É o ruído emergente das lutas, angústias, sonhos, frustrações. Para o pesquisador, o silêncio da história oficial é um silêncio ensurdecedor. Quando penetra nos arquivos da consciência nacional, os dados e os feitos berram, clamam, gritam, sangram pelas prateleiras. Engana-se, portanto, quem julga que os arquivos são lugares de poeira e mofo. Ali está pulsando algo. Como um vulcão aparentemente adormecido, ali algo quer emergir. E emerge. Cedo ou tarde. Não se destrói totalmente qualquer documentação. Sempre vai sobrar um herege que não foi queimado, um judeu que escapou ao campo de concentração, um dissidente que sobreviveu aos trabalhos forçados na Sibéria. De nada adiantou àquele imperador chinês ter queimado todos os livros e ter decretado que a história começasse por ele.
7. A história começa com cada um de nós, apesar dos reis e das inquisições.
(SANT’ANNA, Affonso R. de. A raiz quadrada do absurdo. Rio de Janeiro, Editora Rocco, 1989)
1. Tendo em vista o desenvolvimento do texto, assinale a opção que justifica o título “Cinzas da Inquisição”:
a. ( ) A Inquisição se transformou em cinzas e deve ser arquivada.
b. ( ) A valorização da dignidade do ser humano é ponto básico da história da Inquisição.
c. ( ) A Inquisição deixou marcas que devem levar a uma reflexão.
d. ( ) A discussão dos fatos relacionados à Inquisição tem se mostrado infrutífera.
e. ( ) A lembrança dos fatos da Inquisição não conseguiu melhorar o futuro.
2. Assinale a opção em que há erro na relação entre a ideia e o parágrafo indicado entre parênteses:
a. ( ) Os brasileiros supunham que a Inquisição pertencesse somente à história da Europa. (1º parágrafo)
b. ( ) Foi realizado um congresso com o intuito de reavaliar a Inquisição. (2º parágrafo)
c. ( ) A História estabelece relações entre o passado e o futuro. (3º parágrafo)
d. ( ) O momento é propício para fazermos uma reflexão sobre importantes fatos de nossa história. (4º parágrafo)
e. ( ) A história tem sua força própria, ela grita e aparece, apesar de todos os obstáculos. (6º parágrafo)
3. Com relação aos cem anos da libertação dos escravos e aos cem anos da Proclamação da República, pode-se afirmar, de acordo com o texto, que:
a. ( ) é necessário comemorar as várias conquistas feitas ao longo desses anos.
b. ( ) tanto a libertação dos escravos quanto a Proclamação da República precisam ser revistas e repensadas.
c. ( ) têm sido convocados mais pesquisadores para estudar esse período de nossa história.
d. ( ) esses assuntos vêm sendo constantemente abordados nas universidades brasileiras.
e. ( ) o governo deve dar a essas datas históricas a mesma importância que dá a outras.
4. O paradoxo da expressão “um silêncio ensurdecedor” indica que o silêncio:
a. ( ) provoca alienação e torpor
b. ( ) leva à paralisação e à inércia
c. ( ) gera atos de violência e loucura
d. ( ) atordoa e aflige
e. ( ) causa temor e respeito
Gabarito:
1. C 2. C 3. B 4. D
MR. STEFHENS COMPRA UMA CIDADE
Mr. Stefhens simplesmente nos comprou. Quis tudo como estava. Não nos despejou das casas nem disse muita coisa. Aliás, Mr. Stefhens não falava, quero dizer, não ouvimos uma vez sequer as palavras de Mr. Stefhens. Ficava olhando tudo como se fosse a primeira vez, com as mãos nos bolsos, balançando a cabeça mas sem que isso dissesse muito. Mr. Stefhens não era um homem que extravasasse seus sentimentos. Quanto a isso nos acostumamos logo. Nunca perguntamos a Mr. Stefhens o que ele pensava nos seus passeios e da compra da cidade. O homem não parecia perigoso, mas até meio abobalhado, quando daqueles passeios intermináveis.
Vivia medindo as ruas, contando as casas e vez por outra circulava a cidade em passos que, a todos nós, pareciam misteriosos, mas que para Mr. Stefhens tinha lá o seu sentido: o homem não era louco. Pelo menos não aparentava. E o deixamos aos seus estranhos afazeres. Por isso quase não notamos quando chegaram as grandes traves de ferro, as cercas, as telas de aço e os veículos cheios de trabalhadores mal encarados e mudos. Continuamos nossa vida sem ligar à vida de Mr. Stefhens. Durante muitos dias homens estranhos pareciam confirmar as contas que Mr. Stefhens havia feito naquelas semanas que sucederam à compra da cidade. Isso supúnhamos porque balançavam a cabeça apoiando o caderninho que Mr. Stefhens mantinha sempre aberto diante dos seus olhos. Armaram os instrumentos e começaram a cavar buracos em volta da cidade. Tudo perfeitamente conforme as mais rígidas normas da construção. Fizeram uma espécie de calçada em volta da cidade e uma mureta também circular. Depois armaram os ferros e colocaram as telas, que se uniam numa imensa abóbada sobre as nossas cabeças, envolvendo a cidade. Era uma gaiola bonita, com entrada vistosa, e um letreiro sobre ela que jamais pudemos ver, não por alguma imposição, mas simplesmente porque não tivemos curiosidade e disposição.Não nos faziam mal, por que interferir nos negócios de Mr. Stefhens? Os visitantes que começaram a surgir, tão diferentes de nós, não perturbavam o desenrolar dos nossos dias e desconhecíamos suas línguas.Aprendemos a viver com eles entrando em nossas casas, apontando nossos filhos, mexendo em nossas coisas e até insinuando nossos desejos. Muitos deles caíam na gargalhada, mas iam todos embora, impreterivelmente, às cinco horas em ponto, quando Mr. Stefhens fechava a porta e desaparecia.Mr. Stefhens também não mudou em nada nossa vida. Até passamos a receber grandes atenções do mundo e nos últimos tempos temos visto que Mr. Stefhens tem engordado e ri à toa, muito feliz.(Alberto Lins Caldas. BABEL: CONTOS. Rio de Janeiro, Revan, 2001)
Assinale a única alternativa correta:
01. A trama textual explora as seguintes questões:
a. ( ) egoísmo e intolerância humana
b. ( ) coisificação e passividade do homem
c. ( ) incomunicabilidade e preconceito religioso
d. ( ) exploração dos animais e corrupção econômica
02. Aponte a relação metafórica que o texto constrói:
a. ( ) homem – domador b. ( ) trabalho – grilhões
c. ( ) cidade – prisão d. ( ) filhos – ornamentos
03. Indique a passagem que identifica o papel social de Mr. Stefhens:
a. ( ) “Aliás, Mr. Stefhnes não falava…”
b. ( ) “O homem não parecia perigoso…”
c. ( ) “… ria à toa, muito feliz.”
d. ( ) “Vivia medindo as ruas, contando as casas…”
04. Quanto à forma, pode-se classificar o texto como:
a. ( ) epopeia – mescla de fatos verídicos e ficcionais que apresentam o homem como heroi, superior ao meio.
b. ( ) sátira – narrativa de fundo paródico-cômico sobre a situação do homem contemporâneo.
c. ( ) alegoria – narrativa que apresenta, sob uma camada material e concreta, ideias e reflexões relativas ao homem e sua condição.
d. ( ) lenda – narrativa de fundo sobrenatural que explica as origens do homem e do mundo.
05. Sobre a composição textual, pode-se afirmar que:
a. ( ) o nome do Mr. Stefhens indica o “status” da personagem reiterado pelo pronome de tratamento em inglês.
b. ( ) a narração é feita em 2ª pessoa.
c. ( ) Os eventos ocorrem sem obedecer a uma ordem cronológica.
d. ( ) todas as personagens são individualizadas, mostradas em seus aspectos físicos e psicológicos.
Gabarito
1. b 2. C 3. D 4. C 5. A
COMO O REI DE UM PAÍS CHUVOSO
Um espectro ronda o mundo atual: o espectro do tédio. Ele se manifesta de diversas maneiras. Algumas de suas vítimas invadem o “shopping center” e, empunhando um cartão de crédito, comprometem o futuro do marido ou da mulher e dos filhos. A maioria opta por ficar horas diante da TV, assistindo a “reality shows”, os quais, por razões que me escapam, tornam interessante para seu público a vida comum de estranhos, ou seja, algo idêntico à própria rotina considerada vazia, claustrofóbica.
O mal ataca hoje em dia faixas etárias que, uma ou duas gerações atrás, julgávamos naturalmente imunizadas a seu contágio. Crianças sempre foram capazes de se divertir umas com as outras ou até sozinhas. Dotadas de cérebros que, como esponjas, tudo absorvem e de um ambiente, qualquer um, no qual tudo é novo, tudo é infinito, nunca lhes faltam informação e dados a processar. Elas não precisam ser entretidas pelos adultos, pois o que quer que estes façam ou deixem de fazer lhes desperta, por definição, a curiosidade natural e aguça seus instintos analíticos. E, todavia, os pais se vêem cada vez mais compelidos a inventar maneiras de distrair seus filhos durante as horas ociosas destes, um conceito que, na minha infância, não existia. É a ideia de que, se a família os ocupar com atividades, os filhos terão mais facilidades na vida.
Sendo assim, os pais, simplesmente, não deixam os filhos pararem. Se o mal em si nada tem de original e, ao que tudo indica, surgiu, assim como o medo, o nojo e a raiva, junto com nossa espécie ou, quem sabe, antes, também é verdade que, por milênios, somente uma minoria dispunha das precondições necessárias para sofrer dele. Falamos do homem cujas refeições da semana dependiam do que conseguiria caçar na segunda-feira, antes de, na terça, estar fraco o bastante para se converter em caça e de uma mulher que, de sol a sol, trabalhava com a enxada ou o pilão. Nenhum deles tinha tempo de sentir o tédio, que pressupõe ócio abundante e sistemático para se manifestar em grande escala. Ninguém lhe oferecia facilidades. Por isso é que, até onde a memória coletiva alcança, o problema quase sempre se restringia ao topo da pirâmide social, a reis, nobres, magnatas, aos membros privilegiados de sociedades que, organizadas e avançadas, transformavam a faina abusiva da maioria no luxo de pouquíssimos eleitos.
O tédio, portanto, foi um produto de luxo, e isso até tão recentemente que Baudelaire, para, há século e meio, descrevê-lo, comparou-se ao rei de um país chuvoso, como se experimentar delicadeza tão refinada elevasse socialmente quem não passava de “aristocrata de espírito”.
Coube à Revolução Industrial a produção em massa daquilo que, previamente, eram raridades reservadas a uma elite mínima. E, se houve um produto que se difundiu com sucesso notável pelos mais inesperados andares e cantos do edifício social, esse produto foi o tédio. Nem se requer uma fartura de Primeiro Mundo para se chegar à sua massificação. Basta, a rigor, que à satisfação do biologicamente básico se associe o cerceamento de outras possibilidades (como, inclusive, a da fuga ou da emigração), para que o tempo ocioso ou inútil se encarregue do resto. Foi assim que, após as emoções fornecidas por Stalin e Hitler, os países socialistas se revelaram exímios fabricantes de tédio, único bem em cuja produção competiram à altura com seus rivais capitalistas. O tédio não é piada, nem um problema menor. Ele é central. Se não existisse o tédio, não haveria, por exemplo, tantas empresas de entretenimento e tantas fortunas decorrentes delas. Seja como for, nem esta nem soluções tradicionais (a alta cultura, a religião organizada) resolverão seus impasses. Que fazer com essa novidade histórica, as massas de crianças e jovens perpetuamente desempregados, funcionários, gente aposentada e cidadãos em geral ameaçados não pela fome, guerra ou epidemias, mas pelo tédio, algo que ainda ontem afetava apenas alguns monarcas?
ASCHER, Nélson, Folha de S. Paulo, 9 abr. 2007, Ilustrada. (Texto adaptado)
Um espectro ronda o mundo atual: o espectro do tédio. Ele se manifesta de diversas maneiras. Algumas de suas vítimas invadem o “shopping center” e, empunhando um cartão de crédito, comprometem o futuro do marido ou da mulher e dos filhos. A maioria opta por ficar horas diante da TV, assistindo a “reality shows”, os quais, por razões que me escapam, tornam interessante para seu público a vida comum de estranhos, ou seja, algo idêntico à própria rotina considerada vazia, claustrofóbica.
O mal ataca hoje em dia faixas etárias que, uma ou duas gerações atrás, julgávamos naturalmente imunizadas a seu contágio. Crianças sempre foram capazes de se divertir umas com as outras ou até sozinhas. Dotadas de cérebros que, como esponjas, tudo absorvem e de um ambiente, qualquer um, no qual tudo é novo, tudo é infinito, nunca lhes faltam informação e dados a processar. Elas não precisam ser entretidas pelos adultos, pois o que quer que estes façam ou deixem de fazer lhes desperta, por definição, a curiosidade natural e aguça seus instintos analíticos. E, todavia, os pais se vêem cada vez mais compelidos a inventar maneiras de distrair seus filhos durante as horas ociosas destes, um conceito que, na minha infância, não existia. É a ideia de que, se a família os ocupar com atividades, os filhos terão mais facilidades na vida.
Sendo assim, os pais, simplesmente, não deixam os filhos pararem. Se o mal em si nada tem de original e, ao que tudo indica, surgiu, assim como o medo, o nojo e a raiva, junto com nossa espécie ou, quem sabe, antes, também é verdade que, por milênios, somente uma minoria dispunha das precondições necessárias para sofrer dele. Falamos do homem cujas refeições da semana dependiam do que conseguiria caçar na segunda-feira, antes de, na terça, estar fraco o bastante para se converter em caça e de uma mulher que, de sol a sol, trabalhava com a enxada ou o pilão. Nenhum deles tinha tempo de sentir o tédio, que pressupõe ócio abundante e sistemático para se manifestar em grande escala. Ninguém lhe oferecia facilidades. Por isso é que, até onde a memória coletiva alcança, o problema quase sempre se restringia ao topo da pirâmide social, a reis, nobres, magnatas, aos membros privilegiados de sociedades que, organizadas e avançadas, transformavam a faina abusiva da maioria no luxo de pouquíssimos eleitos.
O tédio, portanto, foi um produto de luxo, e isso até tão recentemente que Baudelaire, para, há século e meio, descrevê-lo, comparou-se ao rei de um país chuvoso, como se experimentar delicadeza tão refinada elevasse socialmente quem não passava de “aristocrata de espírito”.
Coube à Revolução Industrial a produção em massa daquilo que, previamente, eram raridades reservadas a uma elite mínima. E, se houve um produto que se difundiu com sucesso notável pelos mais inesperados andares e cantos do edifício social, esse produto foi o tédio. Nem se requer uma fartura de Primeiro Mundo para se chegar à sua massificação. Basta, a rigor, que à satisfação do biologicamente básico se associe o cerceamento de outras possibilidades (como, inclusive, a da fuga ou da emigração), para que o tempo ocioso ou inútil se encarregue do resto. Foi assim que, após as emoções fornecidas por Stalin e Hitler, os países socialistas se revelaram exímios fabricantes de tédio, único bem em cuja produção competiram à altura com seus rivais capitalistas. O tédio não é piada, nem um problema menor. Ele é central. Se não existisse o tédio, não haveria, por exemplo, tantas empresas de entretenimento e tantas fortunas decorrentes delas. Seja como for, nem esta nem soluções tradicionais (a alta cultura, a religião organizada) resolverão seus impasses. Que fazer com essa novidade histórica, as massas de crianças e jovens perpetuamente desempregados, funcionários, gente aposentada e cidadãos em geral ameaçados não pela fome, guerra ou epidemias, mas pelo tédio, algo que ainda ontem afetava apenas alguns monarcas?
ASCHER, Nélson, Folha de S. Paulo, 9 abr. 2007, Ilustrada. (Texto adaptado)
Questão 01
“Como o rei de um país chuvoso”
O título do texto contém, sobretudo:
A) uma alusão à antítese entre a facilidade de provimento das necessidades materiais e o vazio decorrente do ócio e da monotonia pela ausência de motivos por que lutar.
B) uma comparação que trata da dificuldade de convivência entre a opulência do
poder e a manipulação decorrente do consumismo exacerbado.
C) uma metáfora relacionada à coabitação da angústia existencial contemporânea
com a busca de sentidos para a vida, especialmente entre os membros da
aristocracia.
D) uma referência ao conflito advindo da solidão do poder, especialmente no que se refere ao desânimo oriundo da ausência de perspectivas para a vida em sociedade.
“Como o rei de um país chuvoso”
O título do texto contém, sobretudo:
A) uma alusão à antítese entre a facilidade de provimento das necessidades materiais e o vazio decorrente do ócio e da monotonia pela ausência de motivos por que lutar.
B) uma comparação que trata da dificuldade de convivência entre a opulência do
poder e a manipulação decorrente do consumismo exacerbado.
C) uma metáfora relacionada à coabitação da angústia existencial contemporânea
com a busca de sentidos para a vida, especialmente entre os membros da
aristocracia.
D) uma referência ao conflito advindo da solidão do poder, especialmente no que se refere ao desânimo oriundo da ausência de perspectivas para a vida em sociedade.
Questão 02
O texto NÃO menciona como causa para a presença do tédio na sociedade moderna:
A) a ausência de atividades físicas compulsórias relacionadas com a sobrevivência.
B) a facilidade de acesso aos bens que provêem as necessidades físicas primárias.
C) a limitação da mobilidade física e privação de certas liberdades.
D) a proliferação de empresas e de espaços de lazer e de consumo.
Questão 03
A alternativa em que o termo destacado NÃO está corretamente explicado entre parênteses é: A) “[...] aos membros privilegiados de sociedades que [...] transformavam a faina abusiva da maioria no luxo de pouquíssimos eleitos.” (linhas 30-32) (A CARÊNCIA, A MISÉRIA) B) “Basta [...] que à satisfação do biologicamente básico se associe o cerceamento de outras possibilidades [...]” (linhas 41-43) (A RESTRIÇÃO, A SUPRESSÃO) C) “[...] os países socialistas se revelaram exímios fabricantes do tédio[...]” (linhas 45- 46) (EMINENTES, PERFEITOS) D) “Um espectro ronda o mundo atual: o espectro do tédio.” (linha 1) (UM FANTASMA, UMA AMEAÇA)
Questão 04
“O mal ataca hoje em dia faixas etárias que, uma ou duas gerações atrás, julgávamos naturalmente imunizadas a seu contágio.” (linhas 8-9)A expressão destacada pode ser substituída sem alteração significativa do sentido por:
A) a uma ou duas gerações.
B) acerca de duas gerações.
C) há uma ou duas gerações.
D) por uma ou duas gerações.
Questão 05
“Se não existisse o tédio, não haveria, por exemplo, tantas empresas de entretenimento e tantas fortunas decorrentes delas.” (linhas 47-49)Alterando-se os tempos verbais, haverá erro de coesão em:
A) Não existindo o tédio, não haveria, por exemplo, tantas empresas de entretenimento e tantas fortunas decorrentes delas.
B) Se não existe o tédio, não terá havido, por exemplo, tantas empresas de entretenimento e tantas fortunas decorrentes delas.
C) Se não existir o tédio, não vai haver, por exemplo, tantas empresas de entretenimento e tantas fortunas decorrentes delas.
D) Se não tivesse existido o tédio, não teria havido, por exemplo, tantas empresas de entretenimento e tantas fortunas decorrentes delas.
Questão 06
A supressão da vírgula implica alteração do sentido em:
A) “Coube à Revolução Industrial a produção em massa daquilo que, previamente,eram raridades reservadas a uma elite mínima.” (linhas 37-38)Coube à Revolução Industrial a produção em massa daquilo que previamente eram raridades reservadas a uma elite mínima.
B) “Nenhum deles tinha tempo de sentir o tédio, que pressupõe ócio abundante e
sistemático [...]” (linhas 26-27)
Nenhum deles tinha tempo de sentir o tédio que pressupõe ócio abundante e
sistemático [...]
C) “O tédio não é piada, nem um problema menor.” (linha 47)
O tédio não é piada nem um problema menor.
D) “[...] também é verdade que, por milênios, somente uma minoria dispunha das
precondições necessárias [...]” (linhas 21-23)
[...] também é verdade que por milênios somente uma minoria dispunha das
precondições necessárias [...]
sistemático [...]” (linhas 26-27)
Nenhum deles tinha tempo de sentir o tédio que pressupõe ócio abundante e
sistemático [...]
C) “O tédio não é piada, nem um problema menor.” (linha 47)
O tédio não é piada nem um problema menor.
D) “[...] também é verdade que, por milênios, somente uma minoria dispunha das
precondições necessárias [...]” (linhas 21-23)
[...] também é verdade que por milênios somente uma minoria dispunha das
precondições necessárias [...]
GABARITO:
Questão 01:B Questão 02:D Questão 03:A
Questão 04:C Questão 05:C Questão 06:A
INFRAERO NÃO EXPLICA O FRACASSO DA LICITAÇÃO
Dezoito dias após o fracasso da licitação para escolha de projetos para ampliação do Aeroporto Internacional Hercílio Luz, de Florianópolis, a Infraero não tem previsão para publicação de um novo edital. A estatal informou que está revisando o documento a fim de realizar uma nova concorrência, mas não indica quando deverá anunciá-la e não esclarece as razões que levaram ao esvaziamento da licitação.
A Infraero pronunciou-se, ontem, em nota à imprensa, após a repercussão sobre a licitação ocorrida em 28 de abril, na qual nenhuma empresa apresentou proposta para a concorrência. Na avaliação do Estado, o possível atraso na ampliação do aeroporto da Capital irá comprometer o crescimento do turismo na região. A Infraero não quis comentar as informações apresentadas na nota. Sem os esclarecimentos, uma série de aspectos ficam sem definição. Um deles é se o fracasso da licitação atrasará as obras, que prevê a conclusão da ampliação para 2010. Também permanecem desconhecidos os motivos para o esvaziamento da licitação. Sabe-se apenas que a estatal apurou as razões com consulta direta às empresas que havia se credenciado à concorrência. Florianópolis, Diário Catarinense, 17/maio/2008, p.16.
Dezoito dias após o fracasso da licitação para escolha de projetos para ampliação do Aeroporto Internacional Hercílio Luz, de Florianópolis, a Infraero não tem previsão para publicação de um novo edital. A estatal informou que está revisando o documento a fim de realizar uma nova concorrência, mas não indica quando deverá anunciá-la e não esclarece as razões que levaram ao esvaziamento da licitação.
A Infraero pronunciou-se, ontem, em nota à imprensa, após a repercussão sobre a licitação ocorrida em 28 de abril, na qual nenhuma empresa apresentou proposta para a concorrência. Na avaliação do Estado, o possível atraso na ampliação do aeroporto da Capital irá comprometer o crescimento do turismo na região. A Infraero não quis comentar as informações apresentadas na nota. Sem os esclarecimentos, uma série de aspectos ficam sem definição. Um deles é se o fracasso da licitação atrasará as obras, que prevê a conclusão da ampliação para 2010. Também permanecem desconhecidos os motivos para o esvaziamento da licitação. Sabe-se apenas que a estatal apurou as razões com consulta direta às empresas que havia se credenciado à concorrência. Florianópolis, Diário Catarinense, 17/maio/2008, p.16.
1ª Questão: Após ler com atenção o texto, assinale a alternativa que NÃO corresponde ao pensamento nele expresso:
a) A reportagem faz graves acusações à Infraero, por manipular indevidamente a realização da licitação.
b) Nota da Infraero esclarece que não houve propostas para concorrer à licitação para a ampliação do Aeroporto Hercílio Luz e, por isso, realizará nova concorrência.
c) O crescimento do turismo na região depende, em parte, da ampliação do aeroporto.
d) Possivelmente o esvaziamento da licitação decorreu do fato de a Infraero ter realizado consulta direta às empresas.
a) A reportagem faz graves acusações à Infraero, por manipular indevidamente a realização da licitação.
b) Nota da Infraero esclarece que não houve propostas para concorrer à licitação para a ampliação do Aeroporto Hercílio Luz e, por isso, realizará nova concorrência.
c) O crescimento do turismo na região depende, em parte, da ampliação do aeroporto.
d) Possivelmente o esvaziamento da licitação decorreu do fato de a Infraero ter realizado consulta direta às empresas.
2ª Questão: Assinale, também com base no texto, a alternativa correta:
a) Após o fracasso da licitação, a Infraero apresentou nota à imprensa, prestando amplos esclarecimentos sobre o esvaziamento ocorrido.
b) O fato de nenhuma empresa ter apresentado proposta para a ampliação do Aeroporto Hercílio Luz provocou repercussão na sociedade.
c) A Infraero garante que publicará novo edital de licitação e que o prazo para concluir a ampliação permanece o mesmo.
d) Na frase “uma série de aspectos ficam sem definição”, o redator fez indevida concordância do sujeito singular com o verbo no plural.
3ª Questão: Assinale a alternativa em que todas as palavras são oxítonas:
a) anunciá-la, já, ímã, deverá
b) após, novel, está, também, sutil
c) prevê, pôde, conheci, sós
d) instalaram, atrasará, sutil, pés
4ª Questão: Assinale a alternativa que NÃO corresponde à ideia do texto:
a) A atitude da mãe parece cruel, mas demonstra amor.
b) “Medo da Senhora” pode significar medo da patroa.
c) Para não ver a filhinha sofrer como ela, a mãe preferiu vê-la morta.
d) Não há justificativa para o ato de a mãe matar a filhinha.
GABARITO
1. A 2. B 3. B 4. D
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